SóProvas


ID
202180
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No tempo dos trens

Parodiando o grande poeta que escreveu - Havia
manhãs, naquele tempo -, quero registrar: havia trens naquele
tempo. E havia as estações de trem, e as viagens de trem,
antes que alguém decidisse extinguir o transporte ferroviário em
benefício do rodoviário. Nada quero ajuizar sobre a justeza econômica
ou o equívoco técnico dessa medida; o que posso garantir
é que a poesia da vida saiu perdendo. Pois não me venham
comparar o prosaísmo de uma viagem de ônibus com os
devaneios de uma viagem de trem.
Em primeiro lugar, os trens brasileiros, ao contrário
dos japoneses, não tinham pressa: a vapor, a diesel ou mesmo
elétricas, nossas locomotivas permitiam que os passageiros fossem
contemplando com calma a paisagem, e às vezes até simulavam
algum defeito, só para que todos pudessem esticar as
pernas numa estação perdida no meio do caminho. As estações,
com sua arquitetura padronizada, eram recantos sombreados
de onde se avistava a pracinha de uma vila ou a torre
da igreja.
Depois, é preciso considerar que a vida dentro dos
trens também era outra. As pessoas passeavam tranquilamente
pelo corredor, puxavam conversa em rodinhas, ou estacionavam
nas plataformas de ligação entre os vagões, tomando
um ventinho no rosto - prazer tanto maior porque proibido. Sem
falar na possibilidade de um luxo - um carro-restaurante - onde
se sentava para uma refeição, um lanche, uma cerveja.
Para que pressa? Havia mais tempo para não se fazer
nada, naquele tempo. O ritmo dos trens influía no dos negócios,
no das providências burocráticas, até no dos amores: esperavase
mais para dar e receber um beijo, ou então para sofrer uma
despedida. Nesse caso, havia mais tempo para aliviar uma frustração,
repensar na vida. Sem pressa, nossos trens gostavam
de deixar a gente viver em paz.
Se um dia houver uma reversão em nossos meios de
transporte e ressuscitarem as viagens de trem, me avisem, que
eu virei correndo do outro mundo para garantir um lugar à
janela.

(Expedito Trancoso, inédito)

Ganham sentido antagônico, no contexto, os seguintes elementos:

Alternativas
Comentários
  • "Nada quero ajuizar sobre a justeza econômica ou o equívoco técnico dessa medida; o que posso garantir é que a poesia da vida saiu perdendo. Pois não me venham comparar o prosaísmo de uma viagem de ônibus com os devaneios de uma viagem de trem."

  • Comentário objetivo:

    O antagonismo a que se refere a questão está presente na alternativa B (prosaísmo de uma viagem / poesia da vida), mais especificamente nas palavras "prosaísmo" (que foi usada no sentido metafórico de simples, corriqueira, massante, indiferente) e "poesia" (metaforicamente usada com sentido de bela, encantadora).

  • prosaísmo

    [De prosa(ico) + -ismo.]
    Substantivo masculino.
    1.Qualidade ou caráter de prosaico.
    2.Expressão ou construção prosaica:
    Seus poemas estão cheios de prosaísmos.

    3.Falta de poesia nos versos.


    prosaico

    [Do lat. tard. prosaicu.]
    Adjetivo.
    1.Da, ou semelhante à prosa.
    2.Relativo a prosa, prosista, prosístico.
    3.Sem grandeza ou elevação; trivial, comum, vulgar:
    “No poema de Iriarte só a forma é poética porque o fundo, prosaico e limitado, lhe imprime os caracteres de um verdadeiro tratado musical.” (Latino Coelho, Cervantes, p. 227.)

    4.De caráter prático; positivo.


    Fonte: Dicionário Aurélio