SóProvas


ID
202195
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No tempo dos trens

Parodiando o grande poeta que escreveu - Havia
manhãs, naquele tempo -, quero registrar: havia trens naquele
tempo. E havia as estações de trem, e as viagens de trem,
antes que alguém decidisse extinguir o transporte ferroviário em
benefício do rodoviário. Nada quero ajuizar sobre a justeza econômica
ou o equívoco técnico dessa medida; o que posso garantir
é que a poesia da vida saiu perdendo. Pois não me venham
comparar o prosaísmo de uma viagem de ônibus com os
devaneios de uma viagem de trem.
Em primeiro lugar, os trens brasileiros, ao contrário
dos japoneses, não tinham pressa: a vapor, a diesel ou mesmo
elétricas, nossas locomotivas permitiam que os passageiros fossem
contemplando com calma a paisagem, e às vezes até simulavam
algum defeito, só para que todos pudessem esticar as
pernas numa estação perdida no meio do caminho. As estações,
com sua arquitetura padronizada, eram recantos sombreados
de onde se avistava a pracinha de uma vila ou a torre
da igreja.
Depois, é preciso considerar que a vida dentro dos
trens também era outra. As pessoas passeavam tranquilamente
pelo corredor, puxavam conversa em rodinhas, ou estacionavam
nas plataformas de ligação entre os vagões, tomando
um ventinho no rosto - prazer tanto maior porque proibido. Sem
falar na possibilidade de um luxo - um carro-restaurante - onde
se sentava para uma refeição, um lanche, uma cerveja.
Para que pressa? Havia mais tempo para não se fazer
nada, naquele tempo. O ritmo dos trens influía no dos negócios,
no das providências burocráticas, até no dos amores: esperavase
mais para dar e receber um beijo, ou então para sofrer uma
despedida. Nesse caso, havia mais tempo para aliviar uma frustração,
repensar na vida. Sem pressa, nossos trens gostavam
de deixar a gente viver em paz.
Se um dia houver uma reversão em nossos meios de
transporte e ressuscitarem as viagens de trem, me avisem, que
eu virei correndo do outro mundo para garantir um lugar à
janela.

(Expedito Trancoso, inédito)

O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do plural para preencher corretamente a lacuna da frase:

Alternativas
Comentários
  • Comentário objetivo:

    Questões como essa se resolvem, em sua grande maioria, colocando-se a frase na ordem direta, o famoso SVOA (SUJEITO - VERBO - OBJETO - ADJUNTO ADNOMINAL).

    Assim, chegaríamos a seguinte frase na alternativa a:

    Os aplausos de um leitor que se disporá a parodiar um belo poema sempre podem caber a quem o tenha escrito.

    Note que o verbo "poder" concordou com o sujeito "os aplausos de um leitor", flexionando-se no plural.

  •  Por que não é ''costumam haver'' na letra b, já que refere-se a passageiros?

  •  Respondendo ao colega abaixo.

    COSTUMA HAVER é uma locução verbal. Numa locução verbal, o verbo principal determina se o auxiliar fica no singular ou no plural. Neste caso, o verbo principal é HAVER, com o sentido de "existir. Isso significa que não há sujeito e que a concordância deve ser feita no singular.

    Logo:  "Não costuma existir, nas viagens de trem, passageiros..." - note que passageiros, aqui, é o OBJETO DIRETO, e não o sujeito. Basta perguntar: quem costuma? Não há resposta, pois não há sujeito. Entretanto, se perguntarmos "o que existe?, a resposta é "passageiros", ou seja, o Objeto Direito.

    Mas atenção: Se o verbo principal for pessoal (= existir), o verbo auxiliar deverá concordar naturalmente com o sujeito: "COSTUMAM EXISTIR muitas discussões". 
     

    Bons estudos!

  • a) correta - sempre podem caber (...) os aplausos de um leitor (...);

    b) Não costuma haver (...) o verbo haver com sentido de existir leva locução verbal ao singular por ser um verbo impessoal (com esse sentido);

    c) O ritmo do trens (...) chega a se associar (...);

    d) (...) nos permite desfrutar;

    e) A nenhum dos passageiros pertuba, de fato, (...).

  • Corrigindo a 'tatiflores': o correto é PERMITE e não PERMITI

  •  

        a) os aplausos de um leitor sempre (podem) caber a quem tenha escrito um belo poema     b) Não (costuma) haver passageiros vociferando (...)   c) O ritmo dos trens (chega)  a se associar(...)   d) Eram inesquecíveis os momentos que uma parada do trem  nos (permitia) desfrutar.   e) a vagarosidade daqueles trens cheios de poesia a nenhum dos passageiros (perturba)
  • a) Sempre ...... (poder) caber a quem tenha escrito um belo poema os aplausos de um leitor que se disporá a parodiá-lo.

     b) Não ...... (costumar) haver, nas viagens de trem, passageiros vociferando por causa de um contratempo.

     c)O ritmo dos trens, que ao dos negócios e ao dos amores ...... (chegar) a se associar, era uma medida do tempo e da vida.

     d) Eram inesquecíveis os momentos que uma parada do trem, nos confins do mundo, nos ...... (permitir) desfrutar.

     e) A nenhum dos passageiros ...... (perturbar), de fato, a vagarosidade daqueles trens cheios de poesia.