SóProvas


ID
207934
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A literatura é necessária à política quando ela dá voz
àquilo que não tem voz, quando dá um nome àquilo que ainda
não tem um nome, e especialmente àquilo que a linguagem política
exclui ou tenta excluir. Refiro-me, pois, aos aspectos, situações,
linguagens tanto do mundo exterior como do mundo
interior; às tendências reprimidas no indivíduo e na sociedade.
A literatura é como um ouvido que pode escutar além daquela
linguagem que a política entende; é como um olho que pode ver
além da escala cromática que a política percebe. Ao escritor,
precisamente por causa do individualismo solitário do seu trabalho,
pode acontecer explorar regiões que ninguém explorou
antes, dentro ou fora de si; fazer descobertas que cedo ou tarde
resultarão em campos essenciais para a consciência coletiva.
Essa ainda é uma utilidade muito indireta, não intencional,
casual. O escritor segue o seu caminho, e o acaso ou as
determinações sociais e psicológicas levam-no a descobrir alguma
coisa que pode se tornar importante também para a ação
política e social.
Mas há também, acredito eu, outro tipo de influência,
não sei se mais direta, mas decerto mais intencional por parte
da literatura, isto é, a capacidade de impor modelos de linguagem,
de visão, de imaginação, de trabalho mental, de correlação
dos fatos, em suma, a criação (e por criação entendo
organização e escolha) daquele gênero de valores modelares
que são a um tempo estéticos e éticos, essenciais em todo
projeto de ação, especialmente na vida política.
Se outrora a literatura era vista como espelho do mundo,
ou como uma expressão direta dos sentimentos, agora nós não
conseguimos mais esquecer que os livros são feitos de palavras,
de signos, de procedimentos de construção; não podemos
esquecer que o que os livros comunicam por vezes permanece
inconsciente para o próprio autor, que em todo livro há uma
parte que é do autor e uma parte que é obra anônima e coletiva.
(Adaptado de Ítalo Calvino, Assunto encerrado)

Ainda que os termos sublinhados se flexionem no plural, todas as formas verbais permanecerão as mesmas em:

Alternativas
Comentários
  • Alternativa correta: letra a.

    Justificação:

    A alternativa a está correta. Comparemos a oração antes e depois das flexões dos termos sublinhados:

    Mesmo que haja eventual hesitação, não apraz a muito escritor renunciar ao que lhe traz a solidão mais fecunda(antes das flexões)

    Mesmo que haja eventuais hesitações, não apraz a muitos escritores renunciar ao que lhes traz a solidão mais fecunda(depois das flexões)

    Percebamos que, mesmo havendo a flexão do substantivo hesitação, para concordar com o adjetivo eventual, o verbo haver, expresso na forma da palavra haja, permaneceu invariável. O verbo haver, no sentido de existir, não varia. Por outro lado, com a flexão do substantivo escritor, para concordar com o pronome adjetivo muito, tanto os verbos apraz, renunciar e traz permaneceram inalterados.


    Fiquemos todos sempre com Deus.
    Bons estudos e sucesso a todos.
    Deus habita em nosso coração.

     

  • O verbo HAVER no sentido de existir NÃO FLEXIONA. Ou seja, fica sempre no singular!
  • Um ajuste na justificativa da letra a:
    Renunciar ao que lhe traz a solidão fecunda, não apraz a muitos escritores.
     

  • Alternativa correta: letra "A".

    Conforme explicitado pelos colegas o verbo HAVER, conforme disposto no texto, é impessoal, portanto, deve ser mantido no singular.

    Quanto ao verbo APRAZER, trata-se de verbo defectivo, ou seja, aquele que não contém conjulgação completa. No caso, só se usa na 3ª pessoa do singular.

    Cabe ainda destacar que deriva do verbo aprazer a forma APROUVER, a qual é manifestada em diversos documentos jurídicos no brocardo: "como melhor lhe aprouver". Significa: causar prazer, agradar.

    Conjulgação de Aprazer: (só existe a 3ª pessoa do singular)

    INDICATIVO
    presente: apraz
    pretérito imperfeito: aprazia
    pretério perfeito: aprouve
    pretérito mais-que-perfeito: aprouvera
    futuro do presente: aprazerá
    futuro do pretérito: aprazeria
    SUBJUNTIVO
    pretérito imperfeito: aprouvesse
    futuro: aprouver
  • Alternativa correta: letra "a"

    a) "Mesmo que haja eventual hesitação, não apraz a muito escrito renunciar ao que lhe traz a solidão mais fecunda." 

    HAVER no sentido de "existir" não admite variação. Logo, "Mesmo que haja eventual hesitação", no plural fica "Mesmo que haja eventuais hesitações".

    Já o "não apraz a muito escritor renunciar ao que lhe traz a solidão mais fecunda.",  nós pegamos o sujeito oracional (renunciar ao que lhe traz a solidão mais fecunda), transformamos em ISSO e colocamos na ordem direta: "ISSO não apraz a muito escritor." Dessa forma, transformar ou não "muito escritor" em "muitos escritores" não exerce influência alguma para um plural na forma verbal. Vejam: "ISSO não apraz a muitos escritores."

    O que estudar: sujeito oracional e concordância. Caem muito nas provas da FCC. 

    Aquele abraço.