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ID
2101915
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Teresina - PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

À beira do abismo
Em 1888, Van Gogh compartilhou, por três meses, uma casa com o pintor Paul Gauguin. Um dia, o amigo resolveu retratá-lo enquanto ele pintava seus girassóis. Ao ver pela primeira vez o quadro, que o flagra no último lugar em que poderia estar, pois um pintor se julga sempre fora da pintura, Van Gogh exclamou: “Sou eu, é claro, mas eu me tornando louco”.
A arte como expressão da loucura ou, ao contrário, como opção pela loucura? Van Gogh teve um psiquiatra que, adepto da segunda hipótese, pensou em “curá-lo” da pintura. É claro, não conseguiu. A arte como vírus, como uma contaminação?
Penso nas poucas telas que Clarice Lispector pintou. Telas tensas, desagradáveis: manifestações de gênio ou de insanidade? Elas ajudaram a deprimir Clarice ou, ao contrário, ajudaram a salvá-la? Recordo a Clarice que visitei um dia, sentada em sua cozinha diante de uma fatia de bolo, um tanto apática, a me dizer: “Comer bolo não me interessa. O que eu preciso é de água. De água e de literatura”.
Vista assim, como uma necessidade primária, a literatura revela sua potência, mas também seus riscos. Riscos que os escritores, para se consolar, transportam para o interior da escrita. Para dar sentido àquelas partes de si que não pode controlar, o escritor deve correr o risco de sair de si. Ele se dedica justamente àquilo que, anestesiados pela ideia de normalidade, evitamos.
A matéria da literatura vem, de fato, dessas zonas abissais em que as certezas se esgarçam, a nitidez se esvai e a dúvida comanda. Muitos não suportam. “Nascemos e crescemos num cárcere e por isso achamos naturais esses ferros nos pulsos e nos pés”, escreveu o alemão Georg Büchner. Mas os escritores, não: eles preferem sangrar mãos e pés, e bordejar o abismo, a sucumbir.E isso se parece com a loucura.
O problema é que aquilo que o escritor enfrenta está sempre dentro de si. De certa forma, em consequência, todo escritor escreve “contra si”. Daí a dúvida que Machado sintetiza em O alienista: estarão os escritores no lugar dos médicos, que amparam e curam, ou de seus pacientes, que resistem e esperneiam? A resposta não é fácil: eles ocupam ao mesmo tempo os dois lugares: vestem o jaleco da saúde, mas também os grilhões da ignorância.
(Adaptado de: CASTELLO, José. Sábados inquietos. Brasília, IMP, 2013, p. 6-7)

Um segmento do texto está corretamente reescrito, sem alteração de sentido, em:

Alternativas
Comentários
  • Regência!!

  • Gabarito E
     

    Ele se dedica justamente àquilo que (...) evitamos (4º parágrafo) / Ele se dedica justamente àquilo de que (...) nos esquivamosCorreto!

    Quem se dedica, se dedica a algo. Quem se esquiva, se esquiva de algo. 

  • Acredito que as respostas certas sejam as seguintes:

     

     a) o amigo resolveu retratá-lo (1º parágrafo) / o amigo resolveu fazê-lo um retrato. ERRADO - verbo fazer é VTDI, logo, o correto seria: o amigo resolveu fazer lhe um retrato...

     

     b)adepto da segunda hipótese (2º parágrafo) / partidário com a segunda hipótese. ERRADO -  Quem é partidário é partidário DE e não com...

     

     c) aquilo que o escritor enfrenta (6º parágrafo) / aquilo de que o escritor confronta.  ERRADO  - O correto seria "aquilo que o escritor confronta..."

     

     d) E isso se parece com a loucura (5º parágrafo) / E isso se assemelha da loucura. ERRADO - "E isso se assemelha a  loucura..."

     

     e) Ele se dedica justamente àquilo que (...) evitamos (4º parágrafo) / Ele se dedica justamente àquilo de que (...) nos esquivamos. - CORRETA

  • Adailton, quem é partidário, é partidário DE algo ou DE alguma coisa. A palavra PARTIDÁRIO requer a preposição DE

  • Só uma correção no comentário da Adeline Fernandes:

     

    Letra D) Se assemelha à loucura - nesse caso, o verbo assemelhar exige para o complemento a soma do artigo "a" + preposição "a", logo a crase é obrigatória.