SóProvas


ID
2137093
Banca
FUNCAB
Órgão
INCA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                              O suor e a lágrima


     Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

     Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

     O engraxate era gordo e estava com calor – o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

     Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

     Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se – caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

     E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

     Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

     Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim; por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

(CONY, Carlos Heitor. O suor e a lágrima. Folha de S. Paulo. Primeiro Caderno. Opinião.A2. 19 fev. 2001.) 

“Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.” (§ 3)
Acerca da estrutura do período transcrito acima, são feitas as seguintes afirmativas:
I. O período é composto por subordinação e coordenação, constituído de 4 orações.
II. A primeira oração “Uso-o pouco” é principal.
III. A segunda oração “em parte para poupá-lo” é subordinada adverbial final.
IV. A terceira oração “em parte porque [...] estou sempre de tênis” é coordenada assindética.
V. A quarta oração “quando posso” é subordinada adverbial temporal.
Das afirmativas acima, estão corretas:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito:

    Letra E

  • Gab.: letra E

    II- A primeira oração “Uso-o pouco” é principal.

    III- A segunda oração “em parte para poupá-lo” é subordinada adverbial final.

    Expressa ideia de finalidade, objetivo; Para que, a fim de que, que.

    V- A quarta oração “quando posso” é subordinada adverbial temporal.

    Expressa ideia de tempo; Quando, enquanto, antes que, depois que, assim que, logo que, desde que.

    "só o AMOR constrói."

  • Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

    Não é possível que alguém fale assim, ou que tenha alguém que aguente um cara que fale assim.