SóProvas


ID
2176954
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Rio Branco - AC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Diploma não é solução
    Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o que faziam os mestres zen com seus “koans”. “Koans” eram rasteiras que os mestres passavam no pensamento dos discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as certezas velhas caem. E acontece que eu gosto de passar rasteiras em certezas de
jovens e de velhos...
    Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças raspadas e caras pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no vestibular. Estão pedindo dinheiro para a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior seriedade digo: “Não vou dar dinheiro. Mas
vou dar um conselho. Sou professor emérito da Unicamp. O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!”.Aí o sinal fica verde e eu continuo.
    “Mas que desmancha-prazeres você é!”,
vocês me dirão. É verdade. Desmancha-prazeres.
Prazeres inocentes baseados no engano. Porque
aquela alegria toda se deve precisamente a isto: eles
estão enganados.
    Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. Acabaram de chegar ao último patamar. As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos – nas culturas ditas primitivas, as provas a que têm de se
submeter os jovens que passaram pela puberdade. Passadas as provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser crianças. Agora são adultos, com todos os seus direitos e deveres. Podem assentar-se na roda dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem dizer: “Deixei o cursinho. Estou na universidade”.
    Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando eu era jovem. Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se davam como prontos para morrer quando uma destas coisas
acontecia: 1) a filha se casava. Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho tirava diploma.
    O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem tirava diploma não precisava trabalhar com as mãos, como os mecânicos, pedreiros e carpinteiros, que tinham mãos rudes e sujas.
    Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados tratavam de pôr no dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões: médicos, advogados, músicos, engenheiros. Até os bispos
tinham suas pedras.
    (Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o filho entrava para o seminário para ser padre – aos 45 anos seria bispo – ou para o exército para ser oficial – aos 45 anos seria general.)
    Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos desde pequenos. Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão rendosa é a que tem diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções de profissão são aquelas
oferecidas pelas universidades.
    [...]
    Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com diploma na mão, mas que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o número de diplomados é muitas vezes maior que o número de empregos.
    [...]
    Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor de um grande colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era obrigado a fazer discursos. E ele tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu sem explicações. Voltou
com a família para o seu país, os Estados Unidos.
Tempos depois, encontrei um amigo comum e perguntei: “Como vai o Fulano?”. Respondeu-me: “Felicíssimo. É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!”. ALVES, Rubem. Diploma não é solução, Folha de S. Paulo, 25/05/2004. (Adaptado).

“O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!”. Aí o sinal fica verde e eu continuo.”

A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.

I. O pronome ESTE tem valor catafórico.
II. A partícula SE, na construção realizada, exerce a função de índice de indeterminação do sujeito.
III. ENQUANTO atribui valor concessivo à oração a que pertence.

Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):

Alternativas
Comentários
  • Este - Valor Catafórico

     

    Salvo - Verbo VT , LOGO, o SE não é IIS

    Maiores informações: https://www.dicio.com.br/salvar/

     

    Enquanto - No contexto da frase está dando ideia de TEMPO e não de Concessão

     

    Letra A

  • Gabrito letra A

    Não sou muito boa no português, mas vou tentar ajudar, se errar corrijam me. 

    I. O pronome ESTE tem valor catafórico. certo, aponta para o que vai ser dito (salvem-se enquanto é tempo), Se pedisse anafórico seria o que já foi dito e exofórico o que pode ser deduzido ou buscado fora do texto.

     

    II. A partícula SE, na construção realizada, exerce a função de índice de indeterminação do sujeito.Errado, pois o verbo salvem é VTD e por este motivo o se é particula apassivadora.

     

    III. ENQUANTO atribui valor concessivo à oração a que pertence. Errado, pois na frase dá ideia de tempo, salvem-se quando? Resposta enquanto é tempo.  

     

     

     

  • Um acrésicmo aos comentários dos colegas:

     

    Se  como índice de indeterminação do sujeito: A partícula "se" precisa estar ligada, necessariamente, a um verbo na 3º pessoa do singular. Portanto, item II errado.

  • Só para acréscimo de informação para estudo:

    Anáfora - retoma por meio de referência um termo anterior.

    Catáfora - termo usado para fazer referência a um outro termo posterior.

    Conjuções Temporaisintroduzem uma oração que acrescenta uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração principal. São elas:quando, enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora que, mal (= assim que), etc.

  • ♥ ♥ ,

     

    Nesse caso, o "se" é pronome reflexivo, não?

  • Na alternativa II o SE tem valor reflexivo, para constatar é só trocar o se por "a si mesmos".

  • “O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!”. Aí o sinal fica verde e eu continuo.”

     

    I. O pronome ESTE tem valor catafórico.

    Pronome anafórico: retoma um termo já citado.

    Pronome catafórico: se refere a um termo que irá ser citado.

    Ou seja, "este" se refere ao termo: "salvem-se enquanto é tempo!"

    II. A partícula SE, na construção realizada, exerce a função de índice de indeterminação do sujeito.

    "Salvem-se" está na voz reflexiva, logo, "se" é um pronome reflexivo.

    III. ENQUANTO atribui valor concessivo à oração a que pertence.

    "Enquanto" é uma conjunção subordinativa adverbial temporal.

    GAB A

  • se tem valor reflexivo