SóProvas


ID
2222833
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Santa Maria Madalena - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Longe dos olhos, longe da consciência


   Alguns anos atrás os jornais noticiaram, com destaque, que a praça da Sé estava voltando a ser um aprazível ponto turístico de São Paulo.

  A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam. Com a saneadora medida, a praça estava salva, voltava a ser nossa. A sua crônica sujeira não mais incomodava. Os menores estavam fora, pouco importava a permanência dos marreteiros, pregadores da Bíblia, comedores de faca e fogo, ciganos, repentistas e os saudáveis churrasquinhos e pastéis. Até os trombadões permaneceram. Aliás, é compreensível; é bem mais fácil remover as crianças do que deter os trombadões.

  Anteriormente, competente e sensível autoridade levou dezenas de menores para fora das fronteiras de nosso Estado. A operação expurgo foi também bastante noticiada.

  No Rio de Janeiro a providência teve caráter definitivo. As crianças foram mortas na Candelária.

   Em Belo Horizonte, também há algum tempo, uma operação militar foi montada para retirar das ruas cerca de 500 crianças. A imprensa exibiu fotos de crianças de até quatro anos, várias com chupetas na boca, sendo colocadas em camburões pelos amáveis e carinhosos soldados da milícia mineira, que souberam respeitar as crianças, deixando-as com suas chupetas.

  Riscar as crianças dos mapas urbanos já não está mais nos planos dos zelosos defensores das nossas urbes e da nossa incolumidade física. Viram ser essa uma missão inócua. Retiradas daqui ou dali, passam a habitar lá ou acolá. Saem da praça da Sé, vão para a praça Ramos ou para as praças da zona Leste, Oeste, Norte ou Sul. Saem de uma capital e vão para outra, de um extremo ao outro do país.

  Ironias à parte, cuidar dos menores para evitar o abandono, para suprir as suas carências e para protegê-los da violência que os atinge é obrigação humanitária de todos nós. E, para quem não tem a solidariedade como móvel de sua conduta, que aja ao menos impulsionado pelo egoísmo em nome da autopreservação.

  No entanto novamente se assiste ao retumbante coral repressivo, que entoa a surrada, falsa e enganosa solução da cadeia para os que já cometeram infrações e, para os demais, esperar que as cometam, para irem fazer companhia aos outros.

  A verdade é que sempre quisemos distância das nossas crianças carentes. Longe dos olhos, longe da consciência. A sociedade só se preocupa com os menores porque eles estão assaltando. Estivessem quietos, amargando inertes as suas carências, continuariam esquecidos e excluídos.

  Esse problema, reduzido à fórmula simplista de solução - diminuição da idade -, bem mostra como a questão criminal no país é tratada de forma leviana, demagógica e irresponsável. Colocam-se nas penitenciárias ou nas delegacias os maiores de 16 anos e ponto final. Tudo resolvido.

  A indagação pertinente é por que diminuir a responsabilidade penal só para 16 anos. Há crianças com dez ou oito anos assaltando? Vamos encarcerá-las. Melhor, nascituros também poderiam ser isolados. Dependendo das condições em que irão viver, poderão estar fadados a nos agredir futuramente. Não será melhor criá-los longe dos centros urbanos, isolá-los em rincões distantes para que não nos ponham em risco?

  Parece estar na hora - tardia, diga-se de passagem - de encararmos com honestidade e com olhos de ver a questão do crime no país, especialmente do menor infrator e do menor carente. Chega de demagogia e de hipocrisia. Vamos cuidar da criança e do adolescente. Aliás, não só do carente e do abandonado, mas também daqueles poucos bem nascidos, pois também estavam cometendo crimes. Destes esperamos que os pais acordem e imponham regras e limites, deem menos liberdade, facilidades e dinheiro e mais educação, respeito pelo próximo e conhecimento da trágica realidade do país.

  Em relação aos outros, esperamos que a sociedade e o Estado, em vez de os porem na cadeia, eduquem-nos, deem-lhes afeto e os ajudem a adquirir autoestima, única maneira de os proteger do crime de abandono.

OLIVEIRA, Antônio Cláudio Mariz de. Longe dos olhos, longe da consciência. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 ago. 2004. Brasil, Opinião, p. A3.

Sobre o texto leia as afirmativas a seguir.

I. A primeira parte do texto é uma contextualização que recupera situações de extermínio e detenção de menores (todas recentes).
II. Na segunda parte do texto, o autor apresenta uma sequência argumentativa para expor sua opinião.
III. O autor posiciona-se contra as atitudes de exclusão social dos menores, refere-se à solução proposta para a questão do menor infrator e refuta-a; e conclui apresentando sua posição.
IV. No texto, percebe-se que o autor desenvolve argumentos para convencer o leitor de que a sociedade, em vez de punir os menores, deve cuidar deles.

Está correto o que se afirma apenas em:

Alternativas
Comentários
  • TODAS RECENTES: essas duas palavras definiram a questão. Como a Chacina da Candelária ocorreu em 1993 concluí que a única resposta possível seria a letra D.

    A Chacina da Candelária, como ficou conhecido este episódio, foi uma chacina que ocorreu na noite de 23 de julho de 1993, próximo à Igreja da Candelária, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Neste crime, oito jovens (seis menores e dois maiores de idade) sem-teto foram assassinados por policiais militares

  • Bom, parece-me suscetível à anulação, pois o termo "recente" depende do horizonte temporal.

    Levei em consideração o trecho "A providência higienizadora do nosso marco zero" que trata de São Paulo, uma cidade com centenas de anos. Logo, não seria quase nada uma década perto desse tempo todo. Além disso, o texto é de 2004.

     

    Bons estudos.

  • Coisa recente e até 5 anos ,por isto, opçao 1 esta errada !

  • Recente, dentro do conceito que é foi apresentado, caracteriza sujetividade. O que seria recente ? 5 anos atrás ? 10, 20 ou 30 ? Acho que caberia recurso.

  • Bastante confusa. Entendi que não há como definir o "recente" (a não ser que haja uma regra sobre isso que eu descoheço, se houver, cabe recurso) logo, pela subjetividade citada abaixo pelo André Hirschmann do que é "ser recente" a alternativa I encontra-se incorreta, e por essa mesma subjetividade eu penso que não cabe recurso, se não há como definir o tempo então a alternativa é falsa. O argumento do Ranamez é válido, e parabenizo a quem tinha este conhecimento e raciocionou assim, porém é uma questão de Português e não de Conhecimentos gerais, e a data da Chacina da Candelária não está no texto, não cabe esperar isso do candidato se não está no edital.  Complicada esta questão.

  • Vou me permitir discordar dos colegas. Acredito que o erro da assertiva I esteja no termo detenção. No primeiro trecho, o texto exemplifica situações de extermínio (Rio de Janeiro) e de crianças sendo levadas para outros locais, mas não sendo detidas. PS: acredito que esse trecho compreenda os cinco primeiros parágrafos do texto, pois no sexto a presença do autor fica nítida.

    Abraços e bons estudos

  • Gabarito Letra D.

     

    Colegas procurando cabelo em ovo. Acontece com quem estuda muito.  Item I errado. Corre nas assertivas, verifique quais tem o item como certo. Todas menos a letra D. Marque a letra D. Corre para a próxima.

     

    Tentar entender este texto doutrinador é coisa para loucos.

     

    bons estudos a todos.

  • kkkkkkkk. Esses monstros ( que ele chama de "crianças") estupram, roubam e matam. Gab D