SóProvas


ID
224308
Banca
FCC
Órgão
TRE-AC
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Multidões de mascarados e maquiados com cores alegóricas
das nacionalidades envolvidas nas disputas da Copa do
Mundo falam por esse meio uma linguagem que simbolicamente
quer dizer muito mais do que pode parecer. Trata-se de um
ritual cíclico de renovação de identidades nacionais expressas
nos ornamentos e paramentos do que é funcionalmente uma
nova religião no vazio contemporâneo. Aqui no Brasil as manifestações
simbólicas relacionadas com o futebol e seus significados
têm tudo a ver com o modo como entre nós se difundiu
a modernidade, nas peculiaridades de nossa história social.

Embora não fosse essa a intenção, rapidamente esse
esporte assumiu entre nós funções sociais extrafutebolísticas
que se prolongam até nossos dias e respondem por sua imensa
popularidade. A República, em que todos se tornaram juridicamente
brancos, sucedeu a monarquia segmentada em senhores
e escravos, brancos e negros, todos acomodados numa dessas
duas identidades. A República criou o brasileiro genérico e
abstrato. O advento do futebol entre nós coincidiu com a busca
de identidades reais para preencher as incertezas dessa ficção
jurídica. Clubes futebolísticos de nacionalidades, de empresas,
de bairros, de opções subjetivas disfarçaram as diferenças
sociais reais e profundas, sobrepuseram-se a elas e tornaram
funcionais os conflitos próprios da nova realidade criada pela
abolição da escravatura.

No futebol há espaço para acomodações e inclusões,
mesmo porque, sem a diversidade de clubes e sem a competição,
o futebol não teria sentido. O receituário da modernidade
inclui, justamente, esses detalhes de convivência com a diversidade
e com a rotatividade dos que triunfam. Nela, a vida recomeça
continuamente; depois da vitória é preciso lutar pela vitória
seguinte.

O futebol, essencialmente, massificou e institucionalizou
a competição e a concorrência, elevou-as à condição de valores
sociais e demonstrou as oportunidades de vitória de cada um no
rodízio dos vitoriosos. Nele, a derrota nunca é definitiva nem
permanente. Por esse meio, o que era mero requisito do funcionamento
do mercado e da multiplicação do capital tornou-se
expressamente um rito de difusão de seus princípios no modo
de vida, na mentalidade e no cotidiano das pessoas comuns.

É nesse sentido que o futebol só pode existir em sociedades
competitivas e de antagonismos sociais administráveis.
Fora delas, não é compreendido. Há alguns anos, um antropólogo
que estava fazendo pesquisa com os índios xerentes, de
Goiás, surpreendeu-se ao ver que eles haviam adotado entusiasticamente
o futebol. Com uma diferença: os 22 jogadores
não atuavam como dois times de 11, mas como um único time
jogando contra a bola, perseguida em campo todo o tempo.
Interpretaram o futebol como ritual de caça. Algo próprio de uma
sociedade tribal e comunitária.


(Adaptado de José de Souza Martins. O Estado de S. Paulo,
aliás, J7, 4 de julho de 2010)

Considerando-se a substituição dos segmentos grifados por aqueles colocados entre parênteses no final de cada frase, o verbo que deve permanecer no singular está em:

Alternativas
Comentários
  • a) ... como entre nós se difundiu a modernidade ... (os benefícios da modernidade)

    ... como entre nós se difundiram os benefícios da modernidade ... (o que se difundiram?)


    b) Embora não fosse essa a intenção ... (essas as intenções)

        Embora não fossem essas as intenções ( embora não fossem o quê?)


    c) No futebol há espaço para acomodações e inclusões ... (vários espaços)

    Verbo haver no sentido de existir não flexiona Questão certa


    d) ... o futebol não teria sentido. (os jogos de futebol)

    ... os jogos de futebol não teriam sentido. (o que não teriam sentido?)


    e) Nele, a derrota nunca é definitiva nem permanente. (as derrotas)

        Nele, as derrotas nunca são definitivas nem permanentes. (o que nunca são definitivas?)

  • Essa é bem fácil:

    Na alternativa (C) temos apenas o verbo HAVER, que é impessoal, como não há sujeito não há variação na concordância.

  • Complementando: 

    a) ... como entre nós se difundiu a modernidade ...

    O fato de "se difundiu" não ter ficado no singular é que o verbo "dinfundir" é Verbo Transitivo Direto.

    , ou seja, o mesmo concorda normalmente com o sujeito. Passando para a voz passiva analítica:

    Ex: Os benefícios da modernidade são difundidos entre nós.

    Porém, "se" "difundir" fosse Verbo Transitivo Indireto, haveria sujeito indeterminado e o verbo ficava "obrigatoriamente" no singular.


    Graça e Paz"