SóProvas


ID
2259244
Banca
IFB
Órgão
IFB
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir, a fim de resolver a questão:


DIGA NÃO AOS LIVROS

   Tenho saudades do tempo em que ainda não havia aprendido a ler. A vida era tão mais leve, entre brincadeiras à sombra dos laranjais. Não precisava ficar debruçado sobre cartilhas e cadernos, horas sem conta, espremendo o cérebro (é verdade que ainda bem pequeno) para descobrir o que aquela professora meio megera, meio bruxa, queria que eu fizesse com letras e números.

  Mal sabia eu o quanto ainda era um paraíso aquele conjunto de palavras meio desordenado e sem sentido! O Ivo que via a uva, o macaco matuto comendo mamão e o papai que passava pomada na panela eram companheiros numa amizade sem conflitos nas páginas coloridas da cartilha, com uma graça forçada, igual ao sorriso amarelo que damos após uma gafe monumental. Mas o Ivo, o macaco e o papai se davam muito bem, porque não precisavam ter coesão nem coerência, palavrinhas infernais que aprendi a pronunciar mais tarde nas aulas de redação. E que nunca soube muito bem para que serviam...

  Hoje, após muita reflexão e experiência, concluo que as atividades de ler e escrever deveriam ser banidas do currículo das escolas. Afinal, se as estatísticas sobre o assunto e todas as provas de leitura e língua a que se submetem os alunos brasileiros sempre acabam em números mínimos e vergonhosos, por que insistir nisso? Veja bem: os governantes não ignoram as pesquisas sobre os problemas da cidade ou sobre o valor do salário mínimo quando elas dão resultados irrisórios? Então... Vamos fazer o mesmo com a leitura e a escrita. Ah, e também com a matemática (por sinal, dispensável depois que inventaram a calculadora!)

  Acho que os estudantes ficariam muito mais contentes se não precisassem ler. Principalmente se fosse para adquirir o tal de conhecimento sobre o mundo. Acho desnecessário saber sobre o mundo. Acho que nunca vou sair da minha cidade: para que me serviria o mundo? Se for para saber sobre a história, também dispenso a leitura. Nada tenho a ver com gente antiga e com acontecimentos já terminados. A vida começa hoje, e toda a história começa e termina comigo.

  Se for para aprender sobre mim mesmo, como os professores insistem em dizer quando falam da leitura da literatura, continua dispensando. Já me conheço o suficiente: todos os meus gostos e preferências eu já conheço. Se tenho alguma dúvida, ela é resolvida no meu grupo. Porque o que meus amigos e eu decidimos, todos adotamos. Não tenho nada a esconder. Afinal, querer um carrão, uma casa bonita, férias na praia e um carrinho cheio no supermercado todos querem. E não precisam de estudo para isso. Podem conseguir com um pouco de sorte na loteria. Claro que fica mais fácil se o sujeito dá a sorte de virar cantor, ou se aprender a jogar futebol com alguma qualidade. Aí, então, analfabetismo vira charme, diferencial, pitoresco.

  Dizem que devo ler para, ao menos, saber do que se passa na cidade, pertinho de mim. Para que me serve saber das notícias? Elas acontecem sem minha participação. E vão continuar acontecendo. Só me interessa o resultado do futebol. O resto é preocupação que não preciso ter.

  Nem sei por que continuo indo à escola. Meus pais dizem que é para que eu tenha uma vida melhor que a deles. De que adianta? Eles estudaram mais que eu e, no entanto, dão um duro danado para sustentar a família. Se estudar é tão importante, por quê é que os outros desvalorizam o trabalho dos que passaram vários anos estudando e lendo um monte de textos?

  Outro dia fiquei sabendo que um ex-colega de escola conseguiu emprego numa livraria. É esquisito como tem gente que põe dinheiro nesse tipo de comércio. Passei lá nessa loja por acaso e entrei para falar com o cara. É verdade que tinha uns livros bonitos nas prateleiras... Parecia coisa de muito luxo e importância. Abri um deles e li um pedaço de uma página. Não entendi nada: algumas palavras eu conhecia, mas as frases não faziam sentido para mim. Achei um desperdício de papel e tinta: de que serve um livro se as pessoas não conseguem entender o que lêem? O colega falou que isso era porque eu não sabia ler. “Como não?”, respondi. “Tenho até diploma que diz que fui alfabetizado!” Aí ele me disse uma coisa que me deixou muito impressionado. “Pior analfabeto é o que aprendeu a ler e não lê!” Me senti ofendido. Mas, dentro de mim, reconheci que ele estava certo. Mas eu não estava ali para dar a ele o gostinho do acerto. Saí da livraria de cabeça erguida, dizendo que livro que não se entende é coisa mais que inútil. E livraria é lugar de gente que não tem, ou que não sabe, o que fazer na vida. Melhor que livro são os games. Melhor que os games, só o rock. Melhor que eles é a azaração. Ler para quê?

  A experiência acumulada sobre os malefícios da leitura em meus anos de vida me deram a idéia de criar um movimento de alerta para meus amigos, e até para os inimigos. Eles estão indo na conversa dos mais velhos. Ficam na dúvida e começam a pensar que a leitura e o estudo podem lhes trazer benefícios futuros. Vou criar uma associação dos inimigos da leitura que terá como palavra de ordem “Abaixo os livros!” Tenho certeza de que muitos virão se unir a mim. Penso que só assim acabaremos com essa farsa de civilização, história e cultura.

  O que vale mesmo é a azaração. O resto é silêncio. Palha.


(COSTA, Marta Morais da. Mapa do mundo: crônicas sobre leitura. Belo Horizonte: Leitura, 2006.)

De acordo com o Novo Acordo Ortográfico em vigor no Brasil, identifique a opção que destaca e explica a regra adequadamente:

Alternativas
Comentários
  • "O acento circunflexo não mais deverá ser utilizado em verbos com conjugações da 3ª pessoa do plural terminadas em -eem. Portanto, o correto é leem.

    O mesmo raciocínio deve ser utilizado para outros verbos terminados em -eem conjugados na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, como os verbos crer e ver. Observe:"

    Conjugação dos verbos crer e ver no presente do indicativo:

    Eu creio                                     Eu vejo                                        

    Tu crês                                      Tu vês                                  

    Ele/Ela crê                                 Ele/Ela vê

    Nós vemos                                 Nós cremos

    Vós vedes                                  Vós credes

    Eles/Elas veem                          Eles/Elas creem

     

    Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/leem-ou-leem.htm

  • a) "...à sombra dos laranjais." 

            R  A crase SEMPRE ocorre em Locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de que participam palavras femininas.

     

    b) "Mal sabia eu o quanto ainda era um paraíso aquele conjunto de palavras meio desordenado e sem sentido!" 

            R - "Mal" é oposto de "bem" e "Mau" é oposto de "bom" 

              "Meio" quando equivalente a "um pouco" ou "mais ou menos": Trata-se de um advérbio, por isso é invariável (não muda no plural nem no feminino). Ex: O portão ficou meio aberto. / A janela ficou meio aberta.

              "Meio" quando for equivalente a "metade": É adjetivo, por isto é variável (muda no feminino e no plural). Ex: Andaram meio quilômetro dentro do mato. / Andaram meia légua antes de encontrarem água.

     

    c) "...e língua a que se submetem os alunos..." 

             R - No novo acordo o trema, chamado de diérese, é inteiramente suprimido das palavras portuguesas ou aportuguesadas, pois não se justifica, uma vez que é uma questão de fonética e não de grafia. Mesmo sem o trema, em palavras como frequentar e linguística, por exemplo, sabemos que o “u” é pronunciado e que em palavras como quente e guitarra esta mesma vogal é muda, ou seja, não é proferida. Só há um caso em que o trema é conservado: em palavras de nomes próprios estrangeiros e derivados, como: Hübner, mülleriano, Müller, etc.        

     

    d) “Já me conheço o suficiente: todos os meus gostos e preferências eu já conheço.”

             R - Pre-fe-rên-cia é paroxítona terminada em ditongo crescente e tem sua sílaba tônica acentuada.

                São acentuadas graficamente as paroxítonas terminadas em: ÃO(S): órfão(s) / Ã(S): ímã(s), órfã(s) / L: fácil / I(S): júri, lápis                                                                                                    N: pólen / X: tórax/R: cadáver / UM,UNS: álbum,álbuns/US: vírus / PS: bíceps/                                                                                         OM,ONS: iândom, íons /Ditongo oral (seguido ou não de s): quei, túneis

    OBS: 1) As paroxítonas terminadas em "n" são acentuadas (hífen), mas as que terminam em "ens", não (hifens, jovens). 2) Não são             acentuados os prefixos terminados em "i "e "r" (semi, super). 3)  Acentuam-se as paroxítonas terminadas em ditongos crescentes: ea(s), oa(s), eo(s), ua(s), ia(s), ue(s), ie(s), uo(s), io(s).

     

    e) CORRETA

     

    Fonte: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/duvidas-mais-comuns-ha-ou-a-meio-o-meia-essas-e-outras.htm                           http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/acordo-ortografico/o-trema.htm                                                                                                 http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono9.php

                                                                                                                                                            Bons estudos!!!

     

     

               

     

  • LER ,DAR, VER e CRER-->PERDEM O ACENTO  NA TERCEIRA PESSOA DO PLURAL DO PRESENTE DO INDICATIVO

     

    GABA  E

  • Porque a E está correta se o LEEM está acentuada? 

  • @William Oliveira: a proposta da questão é que você leia a frase dada e verifique se a justificativa para sua ortografia (entre parênteses) está correta ou não. No caso da E, o examinador falou sobre a perda do acento circunflexo nas conjugações na 3ª pessoa do plural dos verbos "ler" e "ver" ("leem" e "veem"). Portanto, a frase está grafada erroneamente, mas o pensamento após está correto.

     

    Espero ter ajudado.

  • Letra E

    Não se acentuam mais hiatos terminados em eem e oo.

    Mas o trema tbm não se usa mais em "u".

    Acho que há dois itens certos.

  • e)  “Achei um desperdício de papel e tinta: de que serve um livro se as pessoas não conseguem entender o que lêem?

    (O verbo “ler”, a exemplo do verbo “crer”, não recebe mais acento gráfico quando escrito na 3º pessoa do plural, no presento do indicativo.)

  • Resposta: letra E

     

     

    a)  “Tenho saudades do tempo em que ainda não havia aprendido a ler. A vida era tão mais leve, entre brincadeiras à sombra dos laranjais.” (O texto está desatualizado quanto à acentuação, porque não há mais a necessidade do uso do acento grave.)

    ► Errado. Ocorre crase em locuções adverbiais, prepositivas ou conjuntivas de base feminina.

     

    Locuções Adverbiais: à francesa, à baiana, à milanesa, à beça, à beira-mar, à beira-rio, a bel-prazer, à bruta, à deriva, à direita, à esquerda, à disparada, à disposição, à escuta, à espada, à exaustão, à fantasia, à flor da pele, à livre escolha, à luz, à mão, à mão armada, à máquina, à meia-noite, à mesma hora, à mesa, à mingua, à morte, à mostra, à noite, à noitinha, à paisana, à parte, à porta, à prestação, à primeira vista, à prova, à queima-roupa, à ré, à rédea curta, à risca, à vista, às avessas, às cambalhotas, às carreiras, às cegas, às dezenas/centenas, às claras, às escondidas, às favas, às mil maravilhas, às moscas, à solta, à sombra, às pressas, às tantas, às vezes, à tarde, à toa, à unha, à venda, à vontade, àquela hora, àquela época, à chegada.

     

    Locuções Prepositivas: à custa de, às vésperas de, às margens de, à espera de, à altura de, à feição de,  à beira de, à espreita de, à semelhança de, à busca de, à procura de, à frente de, à base de, à mercê de, à moda de, à revelia de, à maneira de, à caça de, à vista de, à escolha de, à exceção de, à imitação de, à margem de, à prova de, às portas de.

     

    Locuções Conjuntivas: à proporção que, à medida que.

     

     

    b) “Mal sabia eu o quanto ainda era um paraíso aquele conjunto de palavras meio desordenado e sem sentido!”

    (As palavras “mal” e “meio” só têm agora essas formas de escrita (não mais “mau” e “meia”), para que se evita a confusão que existia sobre “mal/meio”-advérbio, com “mau/meia”-adjetivo.)

    ► Errado. Ainda existem!

    Mal  e Mau

    A palavra mal é substantivo ou advérbio. Seu contrário é bem, que também é substantivo ou advérbio.

    A palavra mau é adjetivo. Seu contrário é bom, que também é adjetivo. Para se saber o uso correto, é só procurar o contrário. Exemplos: Você fez um mau (bom) negócio. A inveja é um mal (bem) muito grande. Meu amigo agiu mal (bem).

    Meio  e Meia

    Meio é um numeral, que significa metade; seu feminino é meia. Meio é também um advérbio, que significa mais ou menos, um pouco. Estou meio(= mais ou menos)cansada - disse Maria. Comprei meia(metade de) melancia. Note que a palavra meio, quando advérbio, não tem feminino, nem plural. Se o significado é "metade de", tanto meio, como meia têm plural.

     

    VER CONTINUAÇÃO

  • VER CONTINUAÇÃO ANTERIOR

     

    c)  “Afinal, se as estatísticas sobre o assunto e todas as provas de leitura e língua a que se submetem os alunos brasileiros sempre acabam em números mínimos e vergonhosos, por que insistir nisso?” 

    (Não se usa mais o trema no “u” que forma ditongo com qualquer vogal.)

    ► Com qualquer vogal? Não é bem assim! A palavra “por que” nunca teve trema.

     

    d)  “Já me conheço o suficiente: todos os meus gostos e preferências eu já conheço.”

    (Todas as palavras paroxítonas não recebem mais acento gráfico no Brasil depois da reforma, porque assim já acontecia em Portugal.)

    ► Errado. Não mais se acentuam APENAS os ditongos abertos tônicos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas. 

     

    e)  “Achei um desperdício de papel e tinta: de que serve um livro se as pessoas não conseguem entender o que lêem?

    (O verbo “ler”, a exemplo do verbo “crer”, não recebe mais acento gráfico quando escrito na 3º pessoa do plural, no presento do indicativo.)

    Correto.

    ► No estudo dos verbos, quando conjugávamos os verbos "crer", "ler" e "ver" (atenção: o verbo TER não!) na terceira pessoa do plural do presente do indicativo, obtínhamos as formas acentuadas: eles crêem, eles lêem  e eles vêem. Após o acordo, passamos a ter: eles creem (sem acento), eles leem (sem acento) e eles veem (sem acento). Curiosamente, deve-se notar que tal regra, após o Acordo Ortográfico, será estendida aos verbos derivados dos acima destacados. Observe: Se agora escrevemos "creem", deve-se grafar "descreem", ambas sem o acento gráfico; Se agora escrevemos "leem", deve-se grafar "releem", ambas sem o acento gráfico; Se agora escrevemos "veem", deve-se grafar "reveem", ambas sem o acento gráfico.

  • Gab E

    A letra C esta incorreta porque nunca foi usado trema na palavra POR QUE.

    Paz de Jah.

  • Pergunta idiota e mal feita. Se não for pra ajudar, por favor não atrapalhe!

  • Essa questão gerou dúvidas, porque o correto é LEEM, sem o acento. A frase da alternativa E está grafada com acento, portanto, errada.

    E) “Achei um desperdício de papel e tinta: de que serve um livro se as pessoas não conseguem entender o que lêem?

    (O verbo “ler”, a exemplo do verbo “crer”, não recebe mais acento gráfico quando escrito na 3º pessoa do plural, no presento do indicativo.)

    Sendo assim, não entendi porque esta é a resposta.

    Porém, a alternativa C apresenta a palavra LÍNGUA  destacada e a explicação de que não se usa trema no U em ditongo. 

     “Afinal, se as estatísticas sobre o assunto e todas as provas de leitura e língua a que se submetem os alunos brasileiros sempre acabam em números mínimos e vergonhosos, por que insistir nisso?” 

    (Não se usa mais o trema no “u” que forma ditongo com qualquer vogal.)

    Porém, a expressão "por que" sequer teve sua grafia alterada no novo acordo, portanto a regra entre os parênteses na alternativa C explica adequadamente a regra (que é aplicada apenas na palavra língua). Sendo assim, não entendi porque esta não é a correta.

    Aguardo os comentários do professor.

  • Boa noite concurseiro Full

    A pergunta ainda está acentuada " leêm" porque o texto é de 2006, e o novo acordo é de 2015

    :)

  • Na verdade aqui ele apresentou a questao com o erro, e depois explicou que n se utiliza mais o acento. Por este motivo esta correto:

    O verbo “ler”, a exemplo do verbo “crer”, não recebe mais acento gráfico quando escrito na 3º pessoa do plural, no presento do indicativo