Questão Q763585

O Sudoeste e a Casuarina

(Joel Silveira)

Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste, há um instante vazio e ansioso: as cigarras calam, se eriçam as águas da lagoa e as casuarinas, que se balançavam indolentes, imobilizam-se na rigidez morta e reta dos ciprestes. Os urubus debandam das palmeiras, os pescadores recolhem as velas, e daqui da varanda vejo os lagartos procurarem medrosos os seus esconderijos. “É o sudoeste”, penso, e logo ele chega carpindo penas e desgraças que não são suas.

“Estou vindo do mar alto, trago histórias”, diz ele com a sua voz agourenta. Ao que responde, enfastiada, a Casuarina:

“Detesto as tuas histórias”.

Também eu, porque sei o que significa pra mim o pranto desatado e frio. Logo esta varanda, que o Nordeste amornara para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos, os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o mastaréu partido matou e atirou ao mar.

Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as (e tenho de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste passa e geme) ressuscito os meus mortos e minhas tristezas e a eles incorporo a amargura dos incertos e a angústia sobressaltada dos que têm medo – tão minhas agora. E vejo, destacada na escuridão como uma medusa no mar, a mão lívida do meu pai morto, imobilizada no gesto, talvez amigo, que não chegou a ser feito; e os pequenos dentes do meu irmão Francisco, que morreu sorrindo; e escuto, nos soluços do vento, aquele terrível convulso regougar de Maria que a morte levou num mar de sangue e vômito; e tremo e me apavoro, não por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes devia.

Vocabulário:

Casuarina – espécie de árvores e arbustos

Cipreste – planta usada para arranjos às quais se associa a ideia de tristeza

Carpindo – capinar

Calhau – pedra de pequena dimensão

Grumete – graduação mais inferior da Marinha

Mastaréu – mastro pequeno

Regougar – soltar a voz

No primeiro parágrafo, o emprego recorrente do presente do indicativo sugere:

Alternativas

uma ação do momento da enunciação.

uma ideia que ainda ocorrerá.

uma ação que se limita ao passado.

um caráter atemporal.

um sentido de possibilidade.

Comentários

Porquê não seria a LETRA A?
tb nao entendi

respondi A
letra D, esse é o gabarito
Entendo que o presente no primeiro parágrafo seria para indicar algo que sempre acontece. Ae acabei optando pela letra D. Mas tb aguardo maiores comentários dos colegas..
Também marquei A.
Ação atemporal

Usamos o indicativo presente para expressar ações válidas a qualquer tempo, como no exemplo a seguir:

A terra gira em torno do sol.

A letra A pode ser explicada por esta informação abaixo:

Ação pontual concomitante à emissão do discurso

O indicativo presente é usado para expressar ações pontuais e simultâneas à emissão do discurso. Exemplo:

Ronaldo passa a bola para Romário.

[ Fonte: http://radames.manosso.nom.br/linguagem/gramatica/morfologia/usos-do-verbo-indicativo-presente/ ]
Indicar para comentário, por favor!
As formas verbais consideradas atemporais são o presente do indicativo, o infinitivo e o imperativo. O presente do indicativo pode ser usado, então, tanto indicando ação atemporal como expressando ação pontual e simultânea ao discurso, conforme letras "A" e "C".

Contudo, a questão se refere ao emprego recorrente do presente do indicativo no texto, que, ao que parece, indica uma ação atemporal, recorrente, e não uma ação pontual. O texto realmente dá a entender que as ações descritas repetem-se corriqueiramente, talvez isso justifique ter sido apontada como correta a Letra "D".

Questão confusa, marquei A.
Marquei "C".

Minha explicação: Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste, há um instante vazio e ansioso:

Ou seja, esse instante entre a fuga e o PRIMEIRO sopro frio só poderia acontecer uma vez...na segunda vez já seria o segundo sopro frio...
Sinceramente não curti essa questão, marquei A na certeza que tinha acertado, dancei....
Por que não seria a LETRA A?* Atenção no uso dos "porquês" Fredson Chaves
Q755902

Mesma questão, porém com resposta-vídeo do professor comentando.
Realmente dá pra confudir a letra A e a letra D

Na Gramática para Concursos Públicos do Fernando Pestana em presente do indicativo aparece assim:

1) Indica um fato que ocorre no momento em que se fala.

2) Indica um fato atemporal, uma verdade absoluta ou tomada como tal.

Creio que para diferenciar depende da interpretação em cada contexto.
O PRESENTE DO INDICATIVO emprega-se:

1- Para enunciar um fato atual;

2- Para indicar ações e estados permanentes;

3- Para expressar uma ação habitual do sujeito;

4- Para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (presente histórico);

5- Para marcar um futuro, mas próximo (para impedir qualquer ambiguidade, se faz acompanhar geralmente um adjunto adverbial).
a) CORRETO uma ação do momento da enunciação.

b) ERRADO - (Futuro) uma ideia que ainda ocorrerá.

c) ERRADO - (Pretérito) uma ação que se limita ao passado.

d) CORRETA - um caráter atemporal.

e) ERRADA - (Presente do Subjuntivo) um sentido de possibilidade.

Modo indicativo (presente) - Indica um fato que ocorre no momento em que se fala, indica um fato habitual, corriqueiro, frequente, indica um fato atemporal, uma verdade absoluta ou tomada como tal, indica um fato que já se iniciou e dura até o presente momento da declaração. (fonte: A Gramática para Concursos - Pestana).
a) ERRADO. O presente também pode ser usado para substituir o PRETÉRITO PERFEITO para aproximar o texto á realidade. Ele transforma um texto predominantemente no passado em algo atemporal, Geralmente em narrações.

Fernando pestana pag 386
Nunca nem vi/2 (wemerson porto)
Letra A .. :c
fui de cara nela!
Gabarito D.

Segundo o professor Alexandre Soares, a letra A está errada, porque as características do primeiro parágrafo não são somente do momento da enunciação do texto, são situações que irão acontecer em todos os momentos, com ou sem a gente presente.

Questão bem semelhante para fixar bem sobre o caráter atemporal do Presente do Indicativo.

Q777538.
a letra A está errada pois para que fosse no momento da fala haveriam verbos no gerundio do tipo "isso está acontecendo, fazendo..."

Lembrem-se: para a IBFC, presente do indicativo --> atemporal. SEMPRE, já caiu várias vezes!
Além de estudar várias matérias o concurseiro tem que estudar a banca, os dias de lua do avaliador,as possibilidades de erros, ai sim passar em um concurso. Decorem: a IBFC adoooora essa expressão ATEMPORAL. Na duvida marque ela. #PMSE
Atemporal é um adjetivo usado para qualificar algo ou alguém que não é afetado pelo passar do tempo, ou seja, que faz parte de qualquer época ou tempo.
Letra D : caráter atemporal, vai esta acontecendo sempre.
presente do indicativo= expressa certeza

atemporal= não sofre modificaçoes com o tempo

#pmse
Só seguir o contexto " Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do Sudoeste, há um instante vazio e ansioso" - Podemos entender que: Sempre quando há a fuga do vento do nordeste e o primeiro sopro frio do sudoeste, existe esse instante vazio, ou seja, esse instante ocorre sempre que isso acontece, de forma atemporal (não localiza a ação ou estado em algum momento, definido com relação a um ponto de referência)
caramba, errei feio!
Para a IBFC o caráter atemporal é a resposta mais fidedigna, quando falamos em ações no presente !
Presente do Indicativo
Indica, certeza
**** Fato permanente, verdade, ATEMPORAL

Bora que dia 02/02/2020 tem prova :)
segura na mão de Deus e vai :)
SOBRE A IBFC
.
Presente do indicativo: A
Eu: caráter atemporal
A

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