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ID
2299711
Banca
COVEST-COPSET
Órgão
UFPE
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1
A face negativa da norma culta
1. Há tempos que os trabalhos no campo da linguística brasileira têm como uma de suas principais preocupações os modos de ensino da norma culta da Língua Portuguesa. Vista como símbolo do bem-falar, a norma culta é amplamente defendida como a “variedade linguística de maior prestígio social”, assim descrita na maioria das gramáticas. Nesse sentido, o ensino de português, de um modo geral, tem se pautado na transmissão das regras subjacentes a essa norma. As gramáticas e os livros didáticos, além de darem continuidade a um comércio editorial, que se diz capaz de oferecer essa “arte do bemfalar” aos incapazes de adquiri-la socialmente, em suas atividades linguísticas cotidianas, apenas reforçam a ideia absurda de que a norma culta é a única aceitável, e quem não souber dominá-la será excluído do conjunto dos indivíduos que “sabem falar português”.
2. Essa ideia de supervalorização da norma culta e de sua superioridade sobre as outras variedades passou a ser senso comum na sociedade, gerando, assim, uma onda de preconceito e intolerância, já que se subentende que qualquer uso que fuja à norma será considerado “inferior e desprestigiado”. O livro “Preconceito e intolerância na linguagem”, da professora Marli Quadros Leite, abordou esse problema e constatou a ocorrência de intolerâncias, sobretudo, em discursos da imprensa escrita. [...]
3. A primeira reflexão trazida por Leite é a de que o preconceito contra a linguagem não é apenas linguístico, mas também social e político. Por meio das análises feitas, é possível perceber, por exemplo, o preconceito e a intolerância contra o povo nordestino, mostrados, principalmente, por habitantes das regiões Sul e Sudeste. [...] Fica evidente que os argumentos daqueles que têm preconceito contra a linguagem do nordestino baseiam-se na ideia de que se trata de uma linguagem “errada”, utilizada por pessoas de baixo prestígio social e que “não sabem falar o português”. Esse tipo de pensamento tem – em grande parte – origem na distinção entre norma culta e norma popular, na negação de outras variedades linguísticas e na ignorância de que a língua é um fenômeno social e, inevitavelmente, variável.
4. As análises dos gêneros feitas por Leite são de grande valia aos estudos sobre preconceito e intolerância contra determinadas variedades linguísticas, mas sua abordagem sobre a ocorrência desses fenômenos na escola é, sem sombra de dúvidas, o que coroa sua obra, visto que, além da influência da sociedade em geral, a escola (infelizmente) tem sido a grande incentivadora do preconceito e da intolerância linguísticos. A insistência da escola em ensinar, de forma supervalorizada, as regras gramaticais – às vezes, sem levar em consideração as variedades linguísticas dos alunos – cria na mente dos estudantes a ideia de que a norma culta é a que “reina” na sociedade. Isso gera uma atitude corretiva do indivíduo consigo mesmo – num “policiamento linguístico” – e de um indivíduo para com outro – numa posição soberba e acusadora a que subjaz o pensamento: “Você fala errado! Eu estudo e falo certo, logo, eu posso corrigir seu erro”.
5. Essa é a face negativa da norma culta. Essa falsa superioridade e desprezo sobre as outras variedades linguísticas, o que, infelizmente, gera o preconceito e a intolerância, não apenas contra a linguagem de quem faz uso de outras normas, mas contra a própria pessoa. O uso e o ensino da norma culta são, sem dúvida, essenciais. Ela deve ter, sim, seu lugar na sociedade e na escola, de forma que todos possam ter a capacidade de comportar-se linguisticamente de forma adequada em cada situação comunicativa. O que se torna necessário, como conclui Leite, é que as pessoas não julguem umas às outras pela linguagem de que fazem uso, mas que haja o respeito, a tolerância, a aceitação e a valorização de todas as normas linguísticas, pois todas, igualmente, são válidas e essenciais à vida da comunidade linguística.
Talita Santos Menezes. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/a-face-negativa-da-norma-culta/118492. Acesso em 05/09/2016. (Adaptado). 

O Texto 1, na sua dimensão global:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: B.

     

    Discordo da autora em alguns pontos.

     

    Se com a ênfase que já é dada à normal culta - o que, na minha opinião é o correto a ser feito -, a língua portuguesa, de uma forma geral, ainda é um gargalo de aprendizado, caso se afrouxe o ensino de alguma forma, aí é que o conhecimento sobre o português vai afundar.

     

    O que pode ser pensado em alterar, se não estiver funcionando corretamente, é o método de ensino, mas de nenhuma forma deixar com que a norma culta fique, sob qualquer aspecto, em segundo plano.

  • Sávio,

    No texto, em momento algum a autora faz menção à qualquer tipo de "afrouxamento" ao ensino da norma culta.....As variações liguisticas são ocasionadas por várias questões: culturais, sociais, de região etc.

  • Thiago Araujo,

     

    Uma das posições da autora é refutar o preconceito relacionado à linguagem, o que eu concordo. Mas, na minha opinião, ela cometeu alguns equívocos pontuais, porque tende a se interpretar a norma culta como algo potencialmente nocivo.

     

    Por exemplo: "As gramáticas e os livros didáticos, além de darem continuidade a um comércio editorial [...]". Aqui ela inicia uma análise em que critica, de alguma forma, o comércio de gramáticas e livros didáticos.

     

    Há outros trechos, mas iria perder muito tempo com esse comentário.

     

    O que ocorre é que, no Brasil, o ensino da língua portuguesa tem muitas deficiências, então qualquer tentativa de desvalorização da norma culta, ou sugestão de que ela possa ser nociva, causa certo receio.

  • Incitar

    Significado de Incitar

     

    verbo transitivo direto e bitransitivo

    Incentivar alguém a fazer alguma coisa; impelir, instigar, encorajar: o professor incitou o aluno a estudar para a prova.

     

    verbo transitivo direto e pronominal

    Ocasionar ou possuir uma reação; estimular ou estimular-se: seu pensamento incitava-se por qualquer coisa.

     

    verbo transitivo direto

    Gerar uma competição ou um desafio a: provocar: incitar um gato.Provocar o surgimento de: sua condição incitou várias doações.

     

    verbo pronominal

    Enraivecer-se: incitou-se com as críticas.Etimologia (origem da palavra incitar). Do latim incitare.

     

    Incitar é sinônimo de: entusiasmar, avivar, afervorar, acicatar, incentivar, encorajar, animar, acoroçoar, pungir, excitar, estimular, espicaçar, espertar, açular.

     

    Letra B é o gab.