SóProvas


ID
2335792
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Qual o sabor da sua infância?
Os pratos que marcaram nossas vidas podem nos
revelar
FLÁVIA YURI OSHIMA

   Sou louca por sopas. Experimento qualquer sabor que apareça na minha frente. Meu paladar acolhe sopas quentes e frias, cremosas e ralas, salgadas, amargas, apimentadas e doces (no meu critério, canjica é sopa). Se tiver sopa no cardápio, to dentro. Já vi muitos dos meus amigos tremerem de gastura por ver aquele caldo fumegante na minha colher num almoço de verão. Durante muito tempo, quando me importava mais com a opinião dos outros, tentei disfarçar. Mas a atração que sinto por uma tigela cheia de caldo bem temperado sempre foi maior que eu. Tomei consciência da sopa em minha vida quando li A morte do gourmet, da filósofa francesa Muriel Barbery, em 2000. Não faço ideia se ela gosta de sopa. Também não é o tipo de alimento favorito do gourmet. Ocorre que, na história criada por Muriel, Pierre Arthens é um crítico gastronômico à beira da morte, que passa seus últimos dias recordando os sabores de sua vida. Cada um deles é relacionado a um momento ou a alguém. O livro é fino: 124 páginas. Mas toma tempo. É impossível ler A morte.... sem pensar nos sabores da própria vida. Muitas vezes, as lembranças vêm acompanhadas de uma pausa para comer uma coisinha.
   A brincadeira vai longe de acordo com as relações que criamos. Dá para usar os namorados como referências. Qual o sabor que mais me dava prazer quando namorava sicrano? Dá para usar estilos também. Qual o prato de que mais gostava quando era gótica? E quando era metida a bicho grilo de butique? Pode ser divertido, ridículo e emocionante ao mesmo tempo. 
   A ordem cronológica funciona. Tentei lembrar o primeiro sabor que me deu prazer. Cheguei à canja de galinha rala que a sogra da minha madrinha cozinhava todos os dias no jantar. Com uma avó japonesa e outra italiana, ambas exímias cozinheiras, pensar na canja rala da avó de outra pessoa soa como desvio de caráter. Por minhas avós e por vaidade, tentei enganar a memória. Quem sabe me lembraria de algo mais sofisticado ou charmoso, ligado às minhas raízes, como um missoshiro com peixe seco e shiitake, ou um capeletti in brodo recheado. Não rolou. Não consigo me esquecer da tal canja rala, feita com arroz, cenoura, pouco frango, sal e só.
  Resolvi apurar as primeiras memórias de outros. Caldo verde era o gosto da infância do poeta português Fernando Pessoa (fonte: À mesa com Fernando Pessoa, de Luís Machado). A Nena, babá dos meus filhos, se lembra do bife que a avó fritava às seis da manhã para a marmita do tio. Quando sobrava um para ela, a pequena Nena se lambuzava. O quindim feito pelo avô português era o sabor mais saudoso do poeta Vinícius de Moraes (fonte: Pois sou um bom cozinheiro, de Vinícius de Moraes). Guimarães Rosa gostava de biscoito de nata e de biscoito de polvilho (fonte: ensaio sobre o livro Relembramentos, de Vilma Guimarães Rosa).
  Meu marido se lembrou de um prato de feijão com arroz que a mãe fez para ele, igualzinho ao que Zilka Salaberry fez para Tarcísio Meira na novela Irmãos Coragem. Minha filha de seis anos se lembrou do mamão. Meu filho de nove anos, da laranja lima (nenhum dos dois se lembrou das papinhas orgânicas que eu fazia logo cedo antes de ir para o trabalho). 
   Me dei por satisfeita. A canja não é menos nobre que o bife da Nena ou o quindim do Vinícius.
   O escritor francês Marcel Proust também me ajudou a encampar em público, aqui na internet, minha história de amor por uma canja rala. Se um bolinho madeleine foi capaz de inspirar uma obra da envergadura de Em busca do tempo perdido, como afirmou Proust, porque eu não poderia me reconfortar, em paz, com a sopa rala feita por uma avó que nem era minha?
   As comidas têm um efeito real sobre nós. Podem nos relaxar, nos excitar, nos levar a um estado de criatividade. Fazer essa viagem até a mais longínqua infância em busca de um sabor que a represente também é uma forma de nos (re)conhecer. E você, qual o sabor da sua infância?

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/Flavia-Yuri-Oshima/noticia/2014/06/bqual-o-saborb-da-sua-infancia.html

Assinale a alternativa correta quanto ao que se afirma, dentro dos parênteses, a respeito dos elementos destacados a seguir.

Alternativas
Comentários
  • letra "A" 

    Não faço ideia DISSO. (conjunção integrante)

     

  • letra A = Não faço ideia DISSO/DISTO, logo: Conj Integrante - CORRETA 

    Letra B = Ela se lembrou: Parte Integrande o verbo, pois quem se lembra, se lembra de alguma coisa: do mamão. Obs: Não pode ser índice de Indeterminação do Sujeito, pois o sujeito está muito bem determinado: MINHA FILHA - ERRADO

    Letra D = Nena lambuzava a si mesma, logo: Pronome reflexivo - ERRADO

    Letra E = Caso tenha sopa no cardápio, to dentro, logo: Conjunção condicional. Qual é a condição para eu está dentro? SE tiver sopa no cardápio. - ERRADA

  • Complementando o ótimo comentário da colega Inês Chaves a letra C, trata-se de CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA CAUSAL. Você pode substituir por "já que", "uma vez que"

    "Já que um bolinho madeleine foi capaz de inspirar uma obra da envergadura de Em busca do tempo perdido, como afirmou Proust, porque eu não poderia me reconfortar, em paz, com a sopa rala feita por uma avó que nem era minha?"

  • a) “Não faço ideia se ela gosta de sopa.”

    a) “Não faço ideia DISSO'

    LOGO: CONJUNÇÃO INTEGRANTE

  • DICA UM COLEGA JÁ MENCIONADO NAS QUESTÕES:

    MACETE!!!

    Partícula “SE”

    Passo à passo sobre a partícula SE:

    1ª pergunta: "Os verbos ligados à partícula “SE” são: IR, PARTIR, SORRIR, RIR ou SENTAR?

    Resposta positiva: então significa que esse SE é uma PARTÍCULA EXPLETIVA.

     

    Resposta negativa: passe para a próxima pergunta, que é...

    2ª pergunta: "Consigo determinar o agente do verbo?" NOTE QUE NÃO QUERO O SUJEITO, MAS O AGENTE QUE PRATICA A AÇÃO DO VERBO.

    Resposta negativa: então significa que esse SE é uma PARTÍCULA APASSIVADORA ou ÍNDICE DE IND. DO SUJEITO,

    PART. APASS. -> VTD ou VTDI 

    IND. DE INDET. DO SUJEITO. -> VI, VL ou VTI

     

    Resposta positiva: passe para a próxima pergunta que é...

     

    3ª pergunta: "O sujeito do verbo pratica e sofre a ação ao mesmo tempo?"

    Resposta positiva: Este SE é um pronome reflexivo

    Resposta negativa: Só restará a opção de ser uma PARTÍCULA INTEGRANTE DO VERBO (VERBOS PRONOMINAIS).

     

  •  a)“Não faço ideia se ela gosta de sopa.”. (conjunção subordinativa integrante). Correta

     

     b)“Minha filha de seis anos se lembrou do mamão.”. (Parte integrante do verbo). 

     

     c) “Se um bolinho madeleine foi capaz de inspirar uma obra...”. (Conjunção subordinada abverbial causal).

     

     d)“Nena se lambuzava.”. (Lambuzava a si mesma = Particula relfexiva).

     

     e)“Se tiver sopa no cardápio, to dentro.”(conjunção subordinativa condicional).

  • Não faço ISSO (CONJ. INT)

  • Como identificar quando é parte integrante do verbo e quando é partícula reflexiva?

  • BRUNA,

    PARTE INTEGRANTE DO VERBO VOCÊ IDENTIFICA COM A CONJUGAÇÃO DO VERBO, O PRONOME SEMPRE VAI ACOMPANHAR O VERBO.

     EX: EU  ME SUICIDO.

     

    O SE É REFLEXIVO QUANDO A PESSOA PRATICA E SOFRE A AÇÃO AO MESMO TEMPO.

    EX.  O SEU FILHO SE FERIU COM AQUELA LÂMINA ( NESTE CASO ELE FERIU A SI MESMO)

  • Obrigada, Doraci!

  • Bruno, a pergunta que se faz no caso é: não faço ideia dISSO, pois o nome ideia exige complemento (complemento nominal). Ideia de quê? se ela gosta de sopa.

    Bons estudos!

  • PARTE INTEGRANTE DO VERBO, NÃO PODERÁ SER TIRADO DO VERBO POIS SE RETIRAR O VERBO NÃO FARÁ SENTIDO

    PARTE REFLEXIVA AÇÃO CAI SOBRE O SUJEITO EX; ELA CORTOU-SE ,ELA CORTOU ASI MESMA

  • A) conjunção integrante,causada por um VTDfaço ideia se ela...)

  • Letra "E" : “Se tiver sopa no cardápio, to dentro. (conjunção subordinativa condicional).

    resposta certa é a A.

  • Na letra "E", tem-se uma Conjunção Subordinativa Condicional.