SóProvas


ID
2356210
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder às questões.

TE
    De todas as coisas pequenas, estava ali a menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela sofresse dessas severas desnutrições africanas - embora passasse fome mas pelo que eu saberia dela depois.
    Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto, sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha três cômodos pequenos.
    Isso que chamei de sala não passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas. Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido. Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros. O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
    - Ei, por que você está chorando? perguntei, enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não ouviu, largada no chão.
    - Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente - repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não se mexeu, ainda chorando.
    - Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
    -A gente chama ela de Te-disse, banguela.
    -Te? Mas qual o nome dela? - insisti.
    - Agente chama ela de Te, que ela ainda não foi batizada não.
    - Como assim? Ela não tem nome? Não foi registrada no cartório?
    - Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
    Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada. “Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome impressionava mais do que a falta de todo o resto.
    Te chorava de uma dor, de uma falta avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão, dessa solidão dos abandonados, dos que não contam para nada, dos que mal existem. Ela era o resultado concreto das políticas civilizadas (as econômicas, as sociais) e de todo o nosso comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos como os bichos egoístas que somos, enfim.
    Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer pré- linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas pouco importava. Rousseau diz que o homem pré-histórico não precisava falar para se alimentar. Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem. “O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica. Por isso não era necessário denominá-lo.
    As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração. “Só chamamos as coisas por seus verdadeiros nomes quando as vemos em suas form as verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão se calou.
    - Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
    Ela virou-se na minha direção. Fez-se um silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou, veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo lugar e recomeçou seu lamento.
    Nem a bala serviu de consolo. Era tudo amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação.

FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan. 2001. Brasil, Cotidiano, p. C2. 

Sintaticamente, o segmento destacado está corretamente analisado em:

Alternativas
Comentários
  •  a)"Não havia ÁGUA ENGANADA."/ sujeite 

    verbo haver é impessoal , logo nao existe sujeito.  água enganada  é objeto direto 

     b)"O marido, CARREGADOR DE ESTRUME, ganhava R$ 20 por semana.”/ vocativo

     errado! carregador de estrume é aposto.

     c)"Era UMA BALA enrolada num papel verde, com letras vermelhas.”/ objeto direto

    errado! uma bala é o sujeito do verbo de ligação ser 

     d)"Terias uns 4 anos de idade, estava inteiramente NUA e SUJA."/ predicativo do sujeito

     corretíssima , nem precisa recorrer ao  texto,  basta saber que estava é verbo de ligação .

     e)"Olhei DE NOVO para a menina."/ adjunto adnominal

    errado! temos um complemento nominal , este está completando o sentindo de  um substantivo concreto ( menina).

    obs: Questão muito fácil , porém muita gente tá errando. Isso acontece , eu já errei diversas questões de português , há uns 2 anos ,  língua portuguêsa  era a minha pior disciplina , tinha horrores dela , no entanto , atualmente ,  virou a melhor disciplina. Mas isso só aconteceu porque eu a estudava  12 horas por dia.

    Boa sorte a todos!

  • A alternativa E não é um complemento nominal. 

    1º Complemento nominal faz referência à substantivos abstratos, e não concretos. 

    "de novo" é uma locução adverbial que significa "novamente", algo que voltou a acontecer. Sua função normal é modificar verbos. E sua função sintática é adjunto adverbial.

    3º A frase é "Eu olhei para a menina de novo". Me parece que "de novo" não está complementando o sentido do substantivo concreto "menina", mas sim atuando como adjunto adverbial do verbo "olhar".

  • Tavares comentou corretamente todas as alternativas, exceto a letra E, a qual foi esclarecida acertadamente pela Daniele.

    Parabéns, meninas.

  • Acredito que na altetiva C "UMA BALA enrolada num papel verde, com letras vermelhas" é um predicativo do sujeito já que existe o verbo de ligação. Interpreto a frase completa da seguinte forma:

    "O que a pessoa tinha para dar era UMA BALA enrolada num papel verde, com letras vermelhas."

  • Alternativa "D"

    Dica: Caracteristica, momentanea do SUJEITO !

  • Então estão erradas A e E, Cleiton? Já que o verbo haver é impessoal e nao existe sujeito?

  • "De novo" se relaciona com "olhei" que é verbo, portanto não pode ser adjunto adnominal.