SóProvas


ID
2359735
Banca
IBADE
Órgão
SEJUDH - MT
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                      TE

    De todas as coisas pequenas, estava ali a menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela sofresse dessas severas desnutrições africanas - embora passasse fome mas pelo que eu saberia dela depois.

    Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto, sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha três cômodos pequenos. Isso que chamei de sala não passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas. Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.

      Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros. O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.

      - Ei, por que você está chorando? perguntei, enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não ouviu, largada no chão.

     - Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente - repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não se mexeu, ainda chorando.

      - Como é o nome dela? - perguntei à mulher.

      - Agente chama ela de Te -disse, banguela.

      -Te? Mas qual o nome dela?-insisti.

      - Agente chama ela de Te, que ela ainda não foi batizada não.

      - Como assim? Ela não tem nome? Não foi registrada no cartório?

      - Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.

     Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada. “Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome impressionava mais do que a falta de todo o resto.

    Te chorava de uma dor, de uma falta avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão, dessa solidão dos abandonados, dos que não contam para nada, dos que mal existem. Ela era o resultado concreto das políticas civilizadas (as econômicas, as sociais) e de todo o nosso comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos como os bichos egoístas que somos, enfim. 

    Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer pré- linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas pouco importava. Rousseau diz que o homem pré-histórico não precisava falar para se alimentar. Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem. "O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica. Por isso não era necessário denominá-lo.

      As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração. “Só chamamos as coisas por seus verdadeiros nomes quando as vemos em suas formas verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão se calou.

      - Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!

    Ela virou-se na minha direção. Fez-se um silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou, veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo lugar e recomeçou seu lamento.

    Nem a bala serviu de consolo. Era tudo amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação.

FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan. 2001. Brasil, Cotidiano, p. C2. 

Sobre a oração destacada em “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS” é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • resposta, letra A
     
  • Toda oração subordinada que tem um pronome relativo é oração subordinada adjetiva: "... QUE NÃO VEMOS"

  • “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS 

     

    ~> Oração Subordinada adjetiva restritiva

  •  

    -    HÁ PONTUAÇÃO = ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA EXPLICATIVA

     

    Ex.      O homem, que se considera racional, muitas vezes age animalescamente.


                    Oração Subordinada ADJETIVA Explicativa

     

     

     

    -   NÃO HÁ PONTUAÇÃO = ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RESTRITIVA

     

    Ex.     Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um homem  que passava naquele momento. 
                                         

     (Oração Subordinada Adjetiva Restritiva)

     

     

     

     

    Q813975

     

     O QUAL (PRONOME RELATIVO)  /CUJO   = ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA

     

     

    PRONOMES RELATIVOS

     

    - o qual, cujo, quanto, os quais, cujos, quantos.

     

    - a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas.

     

    - que, quem e onde

     

     

     

    ISSO      =        ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA 

     

     

     

     

     

     

    ......................

     

     

    O QUE É  sintagma adverbial ? 

     

    3. [Linguística]  Conjunto de palavras subordinadas a um núcleo e que forma um constituinte da frase (ex.: sintagma nominal, sintagma verbal). = GRUPO


    "sintagma", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/sintagma [consultado em 08-08-2017].

    VEJAM  EXEMPLOS :

     

    1-  ORAÇÃO SUBORDINADA ADVERBIAL FINAL

     

      CONJUNÇÃO SUBORDINADA FINAL: funciona como adjunto adverbial de finalidade. 

     

     

             - a fim de que; para que; porque; de modo que, de sorte que.

     

     

    É urgente engajar a sociedade civil PARA QUE se atenda a essa missão. Oração Subordinada Adverbial Final - Valor de adjunto adverbial.

     

     

    “Uma única gota de orvalho é suficiente para me alimentar”. (Oração subordinada ADVERBIAL final reduzida de infinitivo)

     

    “Uma única gota de orvalho é suficiente para que eu me alimente”. (Oração subordinada adverbial final desenvolvida)

     

    2-

    Q777444      ADVERBIAL CONSECUTIVA

     

     Oração Subordinada ADVERBIAL Consecutiva

     

    "Tão importantes e majestosas que ...."

    TÃO QUE, TAMANHO QUE, TANTO QUE.

     

     

     

     

  • GABARITO: A

     

    "As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS" 

     

    - As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir: ORAÇÃO PRINCIPAL

    - o que não vemos: ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RESTRITIVA

    - que: PRONOME RELATIVO

     

    COMO FAZ PARA PARA ENCONTRAR O PRONOME RELATIVO (PR)?

     

    1º PODE SUBSTITUIR O "QUE" POR "O QUAL, A QUAL, AS QUAIS, OS QUAIS"

    2º PRONOME RELATIVO PODE EXPLICAR OU RESTINGIR!!!

    EX: SAI COM MEU IRMÃO QUE SE CASADOU.

     -  aqui eu tenho mais de dois irmãos e sair só com o casado!!!

    EX: SAI COM MEU IRMÃO, QUE SE CASADOU.

    -  aqui eu só tenho um irmão!!!

     

    - BIZOOO: COM VÍRGULA ---> EXPLICA

                     SEM VÍRGULA ---> RESRTINGE  

     

     

    Fonte:

    Arlen Amorim, Q785597.

     

    BONS ESTUDOS.

  • Sintagma é o conjunto de palavras subordinadas aos núcleos das orações. Como toda oração é formada pelo sujeito + predicado, o estudo do sintagma é uma análise do sentido e da função das palavras que acompanham justamente o núcleo desse sujeito e o núcleo desse predicado.

  • Gabarito: A

    “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o QUE NÃO VEMOS”
    Perceba que estamos diante de uma oração adjetiva e para visualizar melhor vamos reescrever assim: “As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir (aquilo) QUE NÃO VEMOS” 

     

    Pronome Demonstrativo: Indicam posição de algo em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo e/ou no espaço. São: este (a/s), isto, esse (a/s), isso, aquele (a/s), aquilo.

     Obs.  o, a, os, as são demonstrativos quando equivalem a aquele (a/s)