- ID
- 2362951
- Banca
- COPEVE-UFAL
- Órgão
- UFAL
- Ano
- 2016
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Nas ruas do Brás
O pai do meu pai era pastor de ovelhas numa aldeia bem
pequena, nas montanhas da Galícia, ao norte da Espanha. Antes
de o dia clarear, ele abria o estábulo e saía com as ovelhas para
o campo. Junto, seu amigo inseparável: um cachorrinho ensinado.
Numa noite de neve na aldeia, depois que os irmãos menores
dormiram, meu avô sentou ao lado da mãe na luz quente do fogão
a lenha:
– Mãe, eu quero ir para o Brasil, quero ser um homem de
respeito, trabalhar e mandar dinheiro para a senhora criar os
irmãos.
Ela fez o que pôde para convencê-lo a ficar. Pediu que
esperasse um pouco mais, era ainda um menino, mas ele estava
determinado:
– Não vou pastorear ovelhas até morrer, como fez o pai.
Mais tarde, como em outras noites de frio, a mãe foi pôr uma
garrafa de água quente entre as cobertas para esquentar a cama
dele:
– Doze anos, meu filho, quase um homem. Você tem razão,
a Espanha pouco pode nos dar. Vá para o Brasil, terra nova, cheia
de oportunidades. E trabalhe duro, siga o exemplo do seu pai.
Meu avô viu os olhos de sua mãe brilharem como líquido.
Desde a morte do marido, era a primeira vez que chorava diante
de um filho.
[...]
VARELLA, Dráuzio, Nas ruas do Brás. São Paulo: Cia das letrinhas, 2000, p. 5.
A terceira fala do texto, marcada pela pontuação do discurso
direto, indica