SóProvas


ID
2363260
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A CULTURA DO ESTUPOR

Por Lucio Carvalho

  Pelo menos que eu saiba, felizmente não vivo nem perto da cultura do estupro, mas vivo, sim, dentro da cultura do estupor. Vivemos todos.
  Não ouço piadas machistas. Não consumo nem ouço músicas apelativas ou com conteúdo violento nem sobre a mulher nem sobre ninguém. Não dou legitimidade nem por hipótese a preconceitos, seja de que espécie forem. Entretanto, porque não viva em contato direto com ela, a tal cultura do estupro, não é por isso que vou dizer que não exista. E isso porque esse é o mesmo comportamento negacionista de quem vive na cultura do estupor e não percebe.
  A cultura do estupor é quase o mesmo que a cultura da indiferença, com a diferença de que ela implica numa espécie de assombro perpétuo perpetuamente sem ação, estéril, de quem não age, de quem não toma qualquer atitude, de quem tem toneladas de informação, mas ação que é bom, quase nenhuma. Na cultura da indiferença, por outro lado, há uma escolha prévia, o que a torna ainda mais comprometedora, pelo menos no que diz respeito as mentalidades. Dessa eu não vivo dentro, mas fatalmente vivo perto, porque em alguma medida todo mundo vive. Uns mais, outros menos.
  Não estou querendo dizer que a cultura do estupor é mais grave que a do estupro porque não é, mas elas têm entre si um alto grau de parentesco, se é que uma não está contida na outra. Só que, enquanto uma vítima de estupro se vê forçada a reinventar a própria vida, na cultura do estupor às vítimas resta apenas trocar a fonte, o canal ou o link dos terrores diários. Sair e voltar a entrar no Facebook, por exemplo.
  Mesmo dentro disso que chamo de cultura do estupor parece haver graus variados de acometimento. Pode ir do embasbacamento à inconsciência. Da surpresa à alienação. Da imobilidade à dessensibilização completa. Da empatia seletiva à misantropia, essa que parece ser sua forma mais extremada.
  Confesso que tive de ler bastante sobre tudo o que se divulgou sobre a cultura do estupro após o trágico evento do RJ para entender como é que isso me afetava e a resposta que encontrei é que, como a maioria dos homens, pelo menos os que não tiveram a sombra do estupro rondando sua vida, é um assunto quase extraterreno. É como uma hipótese sobre a qual não se quer nem pensar. Mas isso é assim porque não estamos no lugar de ser sem mais nem menos uma vítima ocasional da situação e por isso minimizamos o horror alheio, submersos na cultura do estupor.
  De certa maneira, eu penso que o bombardeio dos últimos dias, em sua extensa maioria feita por mulheres, foi providencial e embora acredite na necessidade de uma política penal eficiente contra os criminosos, é preciso vencer o estupor social. Denunciar e não só denunciar, não permitir a impunidade, desnormalizar a violência de gênero. Não se trata apenas de empatia, mas de um compromisso do laço humano em não fechar-se em si mesmo e na sua perspectiva individual. Nesse ponto de vista, a questão de violência de gênero é até primária e simples demais, mas é justamente (e não coincidentemente) dela, da integridade do corpo feminino, que viemos todos.
  Lembro ainda que, assim como o estupro, violências sexuais acontecem diariamente – quase sempre na invisibilidade – contra pessoas com deficiência (especialmente a intelectual), crianças de qualquer sexo, gays, travestis, transgêneros, idosos e quaisquer pessoas em situação de vulnerabilidade. A violência é uma excrescência do convívio social e deve ser punida e combatida em sua origem, sob pena de sua permanente reprodução.
  A questão é bem mais complexa que um meme. Embora se assuma rápida e repetidamente a atribuição de culpabilização social e se deseje fazer crer que esta seria uma característica encruada na sociedade brasileira, eu discordo dessa ideia. Penso que não existe este ente coletivo: a sociedade brasileira. Existem sociedades brasileiras. No plural. E a exacerbação da violência costuma acontecer em territórios conflagrados, não necessariamente os periféricos.
  Discordo que a violência seja um traço cultural da sociedade brasileira, população acostumada a enfrentar violências e privações seculares sem maiores registros de levantes e revoltas populares. A violência extremada implica um complexo dinâmico envolvendo tanto a expressão do ódio quanto ao escasso cerceamento moral. Não por acaso costuma ocorrer contra segmentos vulneráveis, como os indígenas e moradores de rua eventualmente incinerados em espaços públicos, contra prostitutas e contra pessoas sem qualquer defesa. 
  Não se trata de invocar aqui mais uma vez a platitude da necessidade de investimento em educação, mas na de uma educação humanizante, cujos resultados não visem meramente o sucesso econômico e social, mas o aprendizado do humano, suas pulsões e de uma ética capaz de garantir, ou pelo menos promover, a integridade de todos e o respeito ao sujeito e às individualidades.
  Ainda assim, apenas o investimento em educação pública poderia de fato reverter a banalização da violência e substituí-la por acesso a outros e mais complexos elementos culturais. É bem pouco simples, porque a cultura da violência parece também ser uma mimese de uma cultura de poder. Ou seja, reproduz-se com argumentos precários e de dominação violenta aquilo que em outras esferas econômicas e culturais está dito e representado de outra maneira, mas de uma forma essencialmente idêntica, que é a preponderância do poder econômico e sua simbologia.
  Seja como for, é preciso seguir o exemplo das mulheres que, diante do horror de uma situação inadmissível como a que se repetiu recentemente no RJ, romperam justamente a acachapante cultura do estupor, como se irrompendo de dentro de uma bolha estourada. É absolutamente triste que precisemos de casos tão extremados para fazê-lo, mas esse é justamente o indicativo do alto grau de naturalização cultural da violência social em que vivemos todos.
  A cultura do estupor funciona como a película dessa bolha, abrigando em seu interior diversos tipos de violência, entre as quais a de gênero e a própria cultura do estupro. Se regularmente é possível viver em seu interior longe de uma ou de outra, mais ou menos repugnante, é de perguntar como podemos nos abrigar dentro disso e com estes mesmos valores. E como e por que razões, uma vez saídos dali, desejaríamos voltar. A multiplicação de denúncias e o expurgo coletivo em função do crime de estupro coletivo, dessa vez no RJ, que não deveria ter existido nem sequer ter nenhuma função social, eu quero crer que pelo menos serviu para nos mostrar o quão hediondo é ter de viver sob a cultura do estupor e o quanto nos habituamos e dessensibilizamos em suas muitas derivações violentas.

Texto adaptado. Fonte: http://www.inclusive.org.br/arquivos/29417

Em “[...] embora acredite na necessidade de uma política penal eficiente contra os criminosos, é preciso vencer o estupor social.”, há, entre as orações, uma relação de

Alternativas
Comentários
  • Principais conjunções subordinativas concessivas:

    embora

    mesmo que

    ainda que

    apesar de

    se bem que

    Gab: D

  • D. Oração subordinativa adverbial concessiva (estabelece oposição/resalva entre orações)

  • CONcessão= CONtrário:

    Embora, ainda que, mesmo que, conquanto, posto que...

  • Dica: gravem as conjuções. as bancas simplesmente as adoram. Gravou, questão acertou!! :)

    subordinativas concessivas:

    embora, aida que, dado que, posto que, apesar de que, mesmo que

    gabarito letra D

    não desistam!! vai da certo!!

    abraços,

  • Concessiva: Indica concessão em relação oração principal, contraste, ideias opostas. 

    Dica: Encaixe embora e a apesar de.

    Gab> D

  • Concessão

       As orações subordinadas adverbiais concessivas indicam concessão às ações do verbo da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa. 

    Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locuções embora, ainda que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que.

     

    Observe este exemplo: Só irei se ele for.

    A oração acima expressa uma condição: o fato de "eu" ir só se realizará caso essa condição for satisfeita.

    Compare agora com: Irei mesmo que ele não vá.

    A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial concessiva.

    Vale lembrar que a banca AOCP adora as conjunções!

    Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint42.php

  • Gab: d

    Bizu!

    concessivas= ideias contrárias. 

  • Gabarito resposta D

    Concessivas: exprimem um obstáculo ao fato expresso na oração principal, porém sem impedi-lo.

    Principais conjunções: embora, se bem que, por mais que, ainda que, mesmo que, conquanto…

    Por mais que falasse, eu não aprendia nada.

    Ainda que chova, iremos ao teatro no próximo domingo.

  • GABARITO D

     

    CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS:

     

    Temporais: Quando, enquanto, apenas, mal, desde que, logo que, até que, antes que, depois que, assim que, sempre que, senão quando, ao tempo que.

    Proporcionais: quanto mais...tanto mais, ao passo que, à medida que, quanto menos...tanto menos, à proporção que.

    Causais: já que, porque, que, visto que, uma vez que, sendo que, como, pois que, visto como.

    Condicionais: se, salvo se, caso, sem que, a menos que, contanto que, exceto se, a não ser que, com tal que.
    Conformativa: consoante, segundo, conforme, da mesma maneira que, assim como, com que.

    Finais: Para que, a fim de que, que, porque.
    Comparativa: como, tal como, tão como, tanto quanto, mais...(do) que, menos...(do) que, assim como.

    Consecutiva: tanto que, de modo que, de sorte que, tão...que, sem que.
    Concessiva: embora, ainda que, conquanto, dado que, posto que, em que, quando mesmo, mesmo que, por menos que, por pouco que, apesar de que.

     

     

  • Concessiva: embora, ainda que, conquanto, dado que, posto que, em que, quando mesmo, mesmo que, por menos que, por pouco que, apesar de que.

  • GABARITO: D

  • Embora acredite na necessidade de uma política penal eficiente contra os criminosos, é preciso vencer o estupor social.

    Concessiva – introduzem uma oração que expressa ideia contraria a da principal sem no entanto impedir sua realização .

    São elas : AINDA QUE , APESAR DE QUE , EMBOA , MESMO QUE , CONQUANTO , SE BEM QUE , POR MAIS QUE , QUE , POSTO QUE , ETC ,,,

    Ex : Embora fosse tarde , fomos visita-lo ( ação de ser tarde não impede de visita-lo )

    EX Eu não desistirei desse plano mesmo que todos me abandonem . ( ação não impede que outro ocorra )

    Obs : Está no campo semântico da exceção , algo que não se espera .

             É a ação que não impede que a outra ocorra

    Dicas importante : Concessiva verbo vem no subjuntivo , se não tiver no subjuntivo estará errada .

  • Gabarito letra D para os não assinantes.

    Muitas coisas precisamos entender para acertar questões. Outras basta você decorar. Conjunção é um exemplo, se você as souber, poupa tempo e acerta a questão. Porém não é tão fácil assim, tem conjunções muito parecidas que podem te confundir. Eu criei um bizu que me ajuda. segue. 

     

    CONcessiva ----> CONquanto

     Explicativa (pense no PORQUe)------> PORQUanto 

    Consecutivas ----> (Pense em POR CONSEquência ) POR CONSEguinte 

     

    "Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito."  Aristóteles.

  • LETRA D

    CONcessão = CONtrário

  • CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS CONCESSIVAS

     

    embora, malgrado, conquanto, ainda que, mesmo que, apesar de que, se bem que.

  • Principais conjunções subordinativas concessivas:

    embora

    mesmo que

    ainda que

    apesar de

    se bem que

    Gab: D

  • concessão é exceção - embora, ainda que, mesmo que

    consecutivo é consequência - [tanto, tal, tão] que

    ERA PARA SER UMA ANOTAÇÃO INDIVIDUAL/PARTICULAR, MAS O QC NÃO CONSEGUE RESOLVER MEU PROBLEMA COM AS ANOTAÇÕES (NUNCA SALVAM). QUEM SABE AGORA NÃO DÃO JEITO NISSO NÉ?

  • Gabarito: D

    “[...] embora acredite na necessidade de uma política penal eficiente contra os criminosos,(mas) é preciso vencer o estupor social.”

    É como se o "mas" tivesse implícito.