A OPINIÃO PÚBLICA NÃO EXISTE
O site da edição espanhola do jornal Le Monde Diplomatique publicou recentemente um texto inédito do polêmico sociólogo francês Pierre Bourdieu. No texto, integrante de um curso sobre Teoria do Estado apresentado junto ao Collège de France em 1990, o pensador discute sobre o processo de formação da opinião pública.
Segundo o autor, presume-se tacitamente que a opinião pública seja uma espécie de opinião geral. Como um consenso estabelecido entre uma comunidade. Mas, na realidade a chamada “opinião pública” consiste numa opinião restrita somente aos que podem ter opinião, que possuem dignidade ou instrução para tanto. A opinião pública seria, na verdade a opinião dos ilustres, das pessoas que importam.
A opinião pública seria, então, uma forma de discurso de autoridade. Esse discurso pode ser elaborado por meio de uma comissão de especialistas, figuras públicas das mais variadas, que, em sua diversidade, produzem um discurso resultante com ares de consenso, e impressão de legitimidade. Legitimidade, inclusive, que também pode ser checada por outro dispositivo: as pesquisas. As pesquisas populares funcionam para tornar objetivo algo que é profundamente subjetivo na essência: a opinião. Muitas vezes – talvez na maioria das vezes – os entrevistados não tinham sequer ideia formada sobre o tema questionado. Criam uma opinião somente para externá-la. Isso é mesmo uma opinião? E, quando chocam-se as opiniões das pesquisas e a tal opinião pública presumida? Chamam-se os especialistas para iluminar e direcionar a sociedade.
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