SóProvas


ID
2375743
Banca
COPESE - UFJF
Órgão
UFJF
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Ler devia ser proibido
(Guiomar de Gramont*)
A pensar a fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-lo com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas.
É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, podem levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos, em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura? 
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer, não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão.
Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.
Publicado originalmente em A formação do leitor: pontos de vista. Org. Juan Prado e Paulo Condini, Leia Brasil, 1999.
*Escritora e professora de Filosofia no Instituto de Filosofia e Artes da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto)  

– Leia com atenção a oração, atentando para a articulação entre os constituintes sintáticos:
“Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary.”
Esta oração atesta a importância da concordância entre verbo e sujeito para a produção de enunciados sintaticamente integrados, de acordo com a norma culta escrita.
Assinale a alternativa em que se descuidou dessa concordância:

Alternativas
Comentários
  • A narrativa .... faz.

    Não fazem...

  • GABARITO E

     

     a) Revogam-se todas as disposições em contrário.  ( As disposições são revogadas )  

     

     b) Seguem, em anexo, os procedimentos para a renovação das matrículas. ( Os procedimentos para a renovação das matrículas seguem em anexo )  

     

    osb.: segundo as regras de concordância, a expressão "em anexo" é invariável. Não confundir com o uso do adjetivo "anexo" que pode variar normalmente. E.: As duplicatas seguem anexas.

     

     c) Cumpram-se todas as exigências.  (Todas as exigências são cumpridas )

     

     d) Aos primeiros raios do sol, o instrutor dos mais novos já acordava todos os participantes da colônia de férias.

     

     e) A narrativa das histórias, algumas bem curtas, fazem com que você se envolva com o personagem. ( A narrativa faz )

     

    -----------------------------------------------------------------------------------------------------

     

    > No caso das alternativas "a" e "c", para ficar ainda mais claro, pode-se fazer a transformação da voz passiva sintética para analítica.

    > Nas demais, basta ter atenção com os termos que intercalam sujeito, verbo e complemento. Comumente, são utlizados adjuntos para causar distanciamento. 

     

    bons estudos!

  • Gabarito : E

  •  e)

    A narrativa das histórias, algumas bem curtas, FAZ com que você se envolva com o personagem. 

    As bancas adoram fazer isso: colocar um adjunto adverbial entre o sujeito e o verbo para você se perder e errar.

    LIGUEM-SE :)

  •  

    regra principal de concordância verbal: o verbo concorda com o núcleo do sujeito da oração, narrativa, que está no singular.

    A narrativa das histórias, algumas bem curtas, faz com que você se envolva com o personagem. 

  • No vídeo, a professora Isabel diz que não está correta a expressão "em anexo", mas uma das alternativas, considerada correta, a apresenta.

  • Não seria... ANEXOS..concordando com o OS PROCEDIMENTOS?

  • Sobre o "em anexo"

     

    Algumas gramáticas o abominam, outras não. Aqui a expressão é usada para indicar o modo como os procedimentos seguem  (locução adverbial de modo). Nesse caso ela é invariável, pois é formada de preposição + substantivo. Outro exemplo: Seguem, com certeza, os procedimentos.

     

    Seria diferente se a expressão figurasse como adjetivo, caso em que iria variar conforme o substantivo. Exemplo: Seguem anexos os arquivos. Segue anexo o arquivo.

     

    Aqui a expressão foi considerada ok, eu também estranhei, mas na dúvida devemos sempre procurar pela alternativa que esteja mais adequada ao que o enunciado pede. Via das dúvidas, nem arrisquemos usá-la nas provas de redação!

  • A questão pede Concordância Verbal. "Em anexo" é matéria de Concordância Nominal e está incorreto.

  • Em anexo = INVARIÀVEL 

  • e) A narrativa das histórias, algumas bem curtas, fazem com que você se envolva com o personagem. 

  • Vamos lá!!

     

     

    As alternativas A, B, C e D seguiram a regra geral, isto é, de que o verbo concorda com o núcleo do sujeito em número e pessoa. Ex: Ocorreram manifestações ao longo do dia.

        Verbo             Sujeito

     

     

    Quanto à alternativa E, o gabarito, houve justamente um desrespeito ao núcleo do sujeito "narrativa", o que tornou o item errado.

     

     

    Abraço e bons estudos.

  •  a)Revogam-se todas as disposições em contrário.  CERTA - Sem preposição concorda com o suj

     b)Seguem, em anexo, os procedimentos para a renovação das matrículas. CERTA - "Em anexo" com preposição é INVARIÁVEL

     c)Cumpram-se todas as exigências.  CERTA - Sem preposição concorda com o suj.

     d)Aos primeiros raios do sol, o instrutor dos mais novos já acordava todos os participantes da colônia de férias. CERTA

     e)A narrativa das histórias, algumas bem curtas, fazem com que você se envolva com o personagem. ERRADA - Verbo FAZER invariável 

     

  • Verbo fazer invariável A história "faz" com que...
  •  a "narrativa" faz...singular (certo)

    a "narrativa" fazem...loucura (só no mundo dos aletrados que existe isso)

     

    faca na caveira!!!!

  • sujeito-verbo

     

    a) todas as disposições Revogam-se

    b) os procedimentos Seguem

    c) todas as exigências Cumpram-se

    d) o instrutor já acordava todos

    e) A narrativa das histórias faz

  • A narrativa das histórias, algumas bem curtas,FAZE com que você se envolva com o personagem.