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ID
2375779
Banca
COPESE - UFJF
Órgão
UFJF
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Ler devia ser proibido
(Guiomar de Gramont*)
A pensar a fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tornou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-lo com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem necessariamente ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas.
É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, podem levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, podem estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos, em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura? 
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um. Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer, não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão.
Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos. A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.
Publicado originalmente em A formação do leitor: pontos de vista. Org. Juan Prado e Paulo Condini, Leia Brasil, 1999.
*Escritora e professora de Filosofia no Instituto de Filosofia e Artes da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto)  

Releia o trecho:
“Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”
De acordo com a gramática normativa, o sujeito das orações destacadas pode ser classificado como:

Alternativas
Comentários
  • PRA MIM O GABARITO ESTÁ ERRADO. SERIA SUJEITO DETERMINADO, POIS TEM REFERENCIA NO CONTEXTO.

  • Concordo com o Rafa A. Eu marquei C pois enxerguei duas orações com o sujeito "nos" (ou seja: dois núcleos), que no caso são os livros... Mas não tenho certeza, posso estar errado.

  • Gabarito: letra E

     

    Detalhe para o enunciado da questão: "De acordo com a gramática normativa, o sujeito das orações destacadas pode ser classificado como:"

    É para "focar", apenas, na oração DESTACADA, ou seja, "Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal."

     

    O que sabemos sobre o sujeito OCULTO? Conteúdo transcrito abaixo:

     

    Implícito 
    Ocorre quando o sujeito não está explicitamente representado na oração, mas  pode ser identificado. 

     

    "Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal."

    Nessa oração, o sujeito é implícito e determinado, pois está indicado pelas desinências verbais -am (transportam) e -em (fazem).

     

    Observação: o sujeito implícito também é chamado de sujeito elíptico, subentendido ou desinencial. 
    Antigamente era denominado sujeito oculto. 

     

     

    Complementando:

     

    Obs.: quando o verbo está na 3ª pessoa do plural, fazendo referência a elementos explícitos em orações anteriores ou posteriores, o sujeito é determinado


    Por Exemplo: 


                     Felipe e Marcos foram à feira. Compraram muitas verduras. 
       Nesse caso, o sujeito de compraram é eles (Felipe e Marcos). Ocorre sujeito oculto

  • PELO QUE NOTEI, AINDA QUE HAJA REFERÊNCIA NO CONTEXTO , A ORAÇÃO EM DESTAQUE É DIVERSA DA PRINCIPA,NÃO CONTENDO, PORTANTO, O SUJEITO EXPRESSO.

  • No meu modo de analisar a questão, ficaria com a letra A (sujeito indeterminado), ou seja, verbo na terceira pessoal do plural. A análise está sendo feita na período destacado "Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal."

  • O sujeito é determinado, porém oculto/implícito/elíptico, pois são os livros que nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristais (o verbo "transportam" e a locução verbal "fazem enxergar" estão na 3ª pessoa do plural, fazendo referência ao elemento "os livros" explícito na oração anterior). "Os livros" é sujeito determinado simples, o fato de estar no plural não significa que tem dois núcleos. Além disso, o fato de haver mais de uma referência ao sujeito não o torna composto.

  • GABARITO: LETRA E

    "Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”

    Para começo de conversa nós temos que buscar os verbos. Sabendo o número de verbos(locução verbal equivale a um verbo apenas), saberemos o número de orações.

    Temos quantos verbos? 2! Transportaram e fazem enxergar(isso é uma locução verbal).
    Ou seja, temos quantas orações? DUAS!

    Se temos 2 orações, temos quantos sujeitos? DOIS!!
    Por que? Porque toda oração possui os termos essenciais SUJEITO E PREDICADO (só fiquem espertos que podemos ter orações sem sujeito/sujeito inexistente, mas isso é outro papo).Se temos 2 verbos, temos 2 orações e se temos 2 orações, temos 2 sujeitos!

    Por ora, vamos ficar nos 2 sujeitos em questão!

    O sujeito é sempre denotado pelo verbo e pode ser: DETERMINADO OU INDETERMINADO (ou inexistente, mas isso não importa agora)

    Determinado é o sujeito que você extrai da oração, perguntando ao verbo. Temos 3 tipos 
    - Simples: Possui apenas um núcleo
    - composto (mais de um núcleo)
    - oculto(não está expresso mas se deduz e vem na 1ª pessoa)
    *O que é núcleo? Núcleo é o substantivo ou palavra equivalente a ele(pode ser um numeral, pronome ou palavra substantivada, desde que eles façam as vezes de substantivo - Exemplo: Três é demais - "Três" é numeral mas nessa frase é substantivo e portanto, o sujeito da oração)

    Indeterminado é o sujeito que não está expresso na oração e nenhum termo fornece elemento para o seu reconhecimento.
    Temos 2 tipos:
    - Verbo na 3ª pessoa do plural sem qualquer referência: É como se fosse o sujeito oculto "Eles" (Ex:Roubaram o meu livro) Quem "roubaram"?.
    Se houver referência a coisa muda.
    Ex: Os assaltantes invadiram a minha casa e roubaram o meu livro(2 verbos = 2 orações = 2 sujeitos né? Sujeito do verbo invadiram = Os assaltantes. Núcleo = assaltantes que é substantivo. Ou seja, sujeito SIMPLES - Sujeito do verbo assaltaram(que está na 3ª pessoa) = OCULTO pois TEVE REFERÊNCIA ANTERIOR)

    - Verbo na 3ª pessoa do singular + SE (Esse SE é chamado ÍNDICE DE INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO)
    Esses podem ser:
    1- Verbo Trans. Indireto + SE + Preposição (Ex: Confia-se em pessoas honestas) Quem "confia-se"?
    2 - Verbo Intransitivo + SE + geralmente ADVÉRBIO (Ex: Vive-se bem aqui) Quem "vive-se"?
    3 - Verbo de ligação + SE (Ex:Está-se feliz com o resultado). Quem "está-se"?

    Perceberam como não conseguimos determinar? Não se admite a voz passiva analítica

    Voltando a nossa frase:
    "Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”

    1ª Oração: Nos transportam a paraísos misteriosos - Quem foi transportado a paraísos misteriosos? NÓS! O sujeito está OCULTO. Admite voz passiva: Transportaram-nos.
    2ª Oração: Nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal - Quem enxerga? NÓS! Mesma coisa! Voz passiva: Unicórnios e palácios são enxergados POR NÓS! ou ENXERGAMO-NOS (E quem enxerga a eles? NÓS)

    Perceberam como há sujeito mas ele está OCULTO NA ORAÇÃO???



     

  • Vamos pedir comentário do professor. Esta questão está confusa, vários comentários divergentes.

  • A questão está correta ao apresentar como gabarito a alternativa ' E '. Porque se analisarmos bem será possível perceber que os verbos TRANSPORTAR e FAZER estão fazendo referência ao termo ' livros' que na verdade é o sujeito desses dois verbos, porém ele não aparece explícito, e sim de forma oculta.

    obs¹ Não existe sujeito expresso  

    obs² Toda vez que o que o verbo estiver fazendo referência a algum termos, mesmo que ele esteja conjugado na terceira pessoal do plural, ele não será indeterminado, mas sim terá o sujeito como oculto.

    Espero ter ajudado.

  • Bem simples, quando o verbo retorna uma expressão de uma oração anterior, dizemos que este sujeito é oculto, pois sabemos a que se refere, caso não tivesse referência, diríamos que é sujeito indeterminado

     

  • É oculto porque caberia um "eles" (os livros) na segunda frase. Não pode ser expresso porque daria a idéia de que o ponto final não serve para nada. O ponto final encerra o período, caso contrário teria sido escrito com vírgula ou seria inserido o "eles" ou repetido "os livros" para dar sentido de sujeito expresso.

  • “Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. [Os livros] Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”

  • [Os livros] . Nos trasportam .

  • NOS transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”

    Devido a presença do referido pronome (NOS ) anteposto ao verbo TRANSPORTAM,  este  perdeu todo o poder de indeterminação do sujeito. O pronome pessoal oblíquo átono teve influência considerável tranformando completamente a sitaxe do verbo.

    PORTUGUÊS É O BICHO.

    FÉ EM DEUS E FOCO NOS ESTUDOS GUERREIROS.

       

  • Incrível como há divergências sobre a aplicação do sujeito Oculto. Há quem diga que existe... outros dizem que não, mas vamos lá!

     

  • GABARITO: Letra E!!

    SUJEITO ELÍPTICO/DESINENCIAL/OCULTO: APESAR DE NÃO EXPRESO CONSEGUIMOS IDENTIFICAR.

    É USADO NA: 1° PESSOA VERBAL(EU, NÓS), 2° PESSOA VERBAL(TU, VÓS)  E NA 3° P.P.

     

    NÃO PODE SER INDETERMINADO, POIS SUJEITOS INDETERMINADOS  DEVEM ESTAR NA 3° P.P(SEM REFERENTE) OU 3° P.S+SE/I.I.S

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Nao sei se ajuda, mas o Suejto OCULTO, DESINEnCIAL, ELIPTICO é também conhecido como SUBENTENDIDO, COntextual ( acho esses termos mais fáceis para compreensão)). O que ocorreu foi a elipse do Sujeito ''livros''. 

     ( OS livros) Nos transportam a paraísos misteriosos, etc;

     

     

  • Não concordo com esse gabarito, o contexto aponta o sujeito.

  • No segundo período, para o completo entendimento da mensagem, somos obrigados a perguntar "quem nos transportam a paraísos misteriosos?". Como temos que buscar a resposta em um outro período, tem-se que o Sujeito é Oculto, ou seja, sabemos dizer quem ele é, mas não é possível encontrá-lo no período em questão.

    Será oculto, também, se for possível identificá-lo pela desinência do verbo.

    Ex: Gostamos de ler livros policiais.

    Tudo na oração acima é predicado, e consegue-se determinar seu sujeito sem precisar de um período anterior para indicar o contexto, apenas pela desinência verbal.

    Espero ter ajudado!. :)

  • e-

    Sujeito oculto só depende da conjugação do verbo. A 3° pessoa do plural referencia "livros", agente topical da oração anterior

  • ELES DEU O VERBO NA TERCEIRA DO PLURAL .. TRANSPORTAM... MAS O SUJEITO VEIO EXPLÍCITO LÁ ATRAZ... OS LIVROS ENTAO SUJEITO OCULTO!Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. [Os livros] Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal.”


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