SóProvas


ID
2406493
Banca
IESES
Órgão
CRA-SC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O COLECIONADOR DE PALAVRAS
Por: Chico Viana. Disponível em: http://revistalingua.com.br/textos/blogponta/o-colecionador-de-palavras-342472-1.asp Acesso em: 22 abr 2016
O hábito começou muito cedo. Dizia "papá" e "mãmã" com um prazer especial em jogar com as sílabas. "Pa... pá", "mã... mã" - os sons iam e voltavam até que ele os guardava para depois, quando quisesse, brincar de novo. Com o tempo foi juntando outros fonemas ("bu... bu", "pi... pi", "tó...tó"). Um dia teve febre e ouviu "dodói"; enamorou-se da palavra e ficou repetindo-a em seu delírio.
Cresceu e foi refinando as escolhas. Agora prestava atenção não apenas aos sons, mas também ao casamento que havia entre eles e o sentido. Às vezes a união lhe parecia perfeita, como em "croque" (sentia o atrito de um fonema no outro), "bafo" (a palavra terminava num sopro) ou "empecilho" (pronunciar essa foi um obstáculo que venceu a duras penas).
Noutras vezes, achava que palavra e som eram como estranhos. "Erisipela", por exemplo. Ficaria bem para designar um metal precioso ("Usava um colar de erisipela legítima"), mas não para indicar uma doença. [...] Teve pena da tia por ela sofrer de uma doença cujo nome não combinava em nada com as ulcerações que havia em suas pernas.
Descompassos como esse lhe deram uma vaga ideia das incoerências do mundo. Havia palavras bonitas para coisas feias e palavras feias para coisas bonitas, assim como havia pessoas lindas com uma alma escura, e outras, de rosto nada atraente, com um espírito luminoso. O mais das vezes - foi aprendendo - o nome era uma falsa aparência das coisas. Isso não o levou a desistir da coleção, só que agora ele tinha um critério; passou a dividir as palavras conforme a semelhança que tinham com os objetos ou seres que designavam.
Agrupou de um lado, por exemplo, "sanfona", "crocodilo", "miosótis", "turmalina" (se bem que essa mais parecesse nome de mulher) - e do outro "presidente", "cadeira", "promotor", "recurso" (palavras que não excitavam a língua e que a gente, quando as ouvia, não tinha a curiosidade de saber o que significavam).
À medida que envelhecia, tornava-se mais exigente com a sua coleção. Algumas palavras lhe pareciam insípidas, por isso ele resolveu esvaziar parte do baú. Uma das primeiras que jogou fora foi "jucundo", cuja hipocrisia não mais suportava (parecia designar algo triste, mas significava "alegre"). Trocou "jucundo" por "meditabundo", palavra mais honesta e de acordo com seu atual estado de espírito. Jogou fora também "vagar", "flanar", "leviano", e por pouco não se livrava de "paciente" ("prudência", que ia substituir a outra, aconselhou-o a esperar mais um pouco).
A coleção agora tinha pouquíssimos vocábulos, mas cada um pesava tanto que o homem não conseguia transportar o baú. Deixou-o embaixo da cama e nele foi inserindo, sem muito entusiasmo, as palavras que ainda o impressionavam (sabia que, se parasse de colecionar, morria). Um dos novos termos foi "achaque", que vagamente lhe soou como uma dança fúnebre de tribo africana (riu ao perceber que ainda tinha imaginação poética). Outro foi "próstata", que lhe pareceu o som de uma chicotada (ta-ta). E um dos últimos foi "tumor", que ele sem graça botou no lugar de "humor".
Depois que morreu, os amigos e parentes ficaram intrigados com aquele baú embaixo da cama. Abriram-no e nada encontraram em seu interior. "Ele era meio tantã", comentou a mulher. "Passava horas diante desse baú vazio." Resolveu guardá-lo, como lembrança, e aos poucos foi metendo nele os objetos inúteis da casa.
Chico Viana é doutor em Teoria Literária pela UFRJ, professor de português e redação e assina no site de “Língua” o blog “Na ponta do lápis”. www.chicoviana.com 

Sobre a colocação pronominal, assinale a única alternativa totalmente INCORRETA:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: A

     

    Em: “Trata-se de uma informação importante”, a ênclise ocorre porque o verbo está iniciando a oração. Correto. Se, em lugar de “trata-se”, o verbo fosse “tratará”, a mesóclise seria opcional. Errada porque a mesóclise seria obrigatória.

     

    Ficaria obrigatoriamente assim: "Tratar-se-á de uma informação importante"

     

     

    b) Correta. A crítica o considera um gênio ou A crítica considera-o um gênio. O sujeito pode atrair ou não a próclise, sendo, portanto facultativa.

     

    c) Correta. O mesmo caso da letra b.

     

    d) Correta. Pronome atrai pronome.

     

     

     

    Que Deus ilumine seus passos, merecedor.

     

     

     

  •  a) Em: “Trata-se de uma informação importante”, a ênclise ocorre porque o verbo está iniciando a oração (CORRETO). Se, em lugar de “trata-se”, o verbo fosse “tratará”, a mesóclise seria opcional (ERRADO). 

     

    Os verbos que aceitam a mesóclise são os futuros do presente e do pretérito do modo indicativo.

    A mesóclise só será obrigatória em início de oração, caso contrário a próclise também estará certa. 

  • Questão anulável a letra a não é totalmente incorreta como pede o enunciado

  •  a)Em: “Trata-se de uma informação importante”, a ênclise ocorre porque o verbo está iniciando a oração. Se, em lugar de “trata-se”, o verbo fosse “tratará”, a mesóclise seria opcional. Errada!! A mesóclise é obrigatória em início de frase. 

     

     b)Em: “A crítica o considera um gênio”, o emprego da próclise é opcional. Sim, sujeito explícito com núcleo substantivo. 

     

     c)Em: “Eu equivoquei-me a esse respeito”, ocorre ênclise, mas a próclise também poderia ser corretamente aplicada. Sim, sujeito explícito com núcleo pronominal. 

     

     d)Em: “A informação que me passaram estava equivocada”, a próclise é obrigatória devido à presença do pronome relativo. Sim, em pronomes relativos antes do verbo é próclise obrigatória.

  • a): errada. A mesóclise seria obrigatória caso o verbo estivesse em qualquer tempo futuro e em início de frase;

    b): correta. Não há palavra atrativa nem futuro, tampouco o pronome está em início de oração. Deste modo, há a opção da escolha;

    c) correta. As duas opções estariam corretas, visto que não há nenhum fator que proíba o uso da ênclise.

    d) correta. Pronomes relativos, sejam eles variáveis ou não, obrigam o uso da próclise.

  • A mesóclise será obrigatória por dois motivos:

    1- Não se usa próclise iniciando frases.

    2- Não se usa ênclise com verbos no futuro.

  • Trata-se de uma informação importante. Ênclise obrigatória.

    Tratar-se-á de uma informação importante. Mesóclise obrigatória.

    Em: “A crítica o considera (considera-o) um gênio”, o emprego da próclise é opcional. Pode ênclise.

    Em: “Eu equivoquei-me (me equivoquei) a esse respeito”, ocorre ênclise, mas a próclise também poderia ser corretamente aplicada.

    Em: “A informação que (partícula atrativa) me passaram estava equivocada”, a próclise é obrigatória devido à presença do pronome relativo.

  • Para responder a esta questão, exige-se conhecimento em colocação pronominal. Vejamos o conceito:

    Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, se, lhe(s), o(s), a(s), nos e vos podem estar em três posições ao verbo ao qual se ligam.

    Próclise é antes do verbo⇾ Nada me faz tão bem quanto passar em concurso.

    Mesóclise é no meio do verbo⇾ Abraçar-lhe-ei…

    Ênclise é após o verbo⇾ Falaram-me que você está muito bem

    Após vermos o conceito e os exemplos, iremos indicar qual assertiva que possui a posição do pronome oblíquo de forma incorreta. Vejamos:

    a) Incorreta.

    Em: “Trata-se de uma informação importante”, a ênclise ocorre porque o verbo está iniciando a oração. Se, em lugar de “trata-se”, o verbo fosse “tratará”, a mesóclise seria obrigatória, e não opcional como afirma a assertiva, porque em verbos no futuro do indicativo, usa-se o pronome oblíquo entre o verbo.

    b) Correta.

    Em: “A crítica o considera um gênio”, o emprego da próclise é opcional, porque quando tiver sujeito expresso e não tiver nenhum atrativo de próclise como pronome relativo, indefinido, interrogativo, oração subordinada, preposição "em" + verbo no gerúndio, advérbio, frase interrogativa ou exclamativa, o pronome pode ficar tanto em próclise como em ênclise.

    c) Correta

    Em: “Eu equivoquei-me a esse respeito”, ocorre ênclise, mas a próclise também poderia ser corretamente aplicada, porque quando tiver sujeito expresso e não tiver nenhum atrativo de próclise como pronome relativo, indefinido, interrogativo, oração subordinada, preposição "em" + verbo no gerúndio, advérbio, frase interrogativa ou exclamativa, o pronome pode ficar tanto em próclise como em ênclise

    d) Correta.

    Em: “A informação que me passaram estava equivocada”, a próclise é obrigatória devido à presença do pronome relativo "que".

    Gabarito: A