SóProvas


ID
2417536
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Rio Branco - AC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma estranha descoberta

Lá dentro viu dependurados compridos casacos de peles. Lúcia gostava muito do cheiro e do contato das peles. Pulou para dentro e se meteu entre os casacos, deixando que eles lhe afagassem o rosto. Não fechou a porta, naturalmente: sabia muito bem que seria uma tolice fechar-se dentro de um guarda roupa. Foi avançando cada vez mais e descobriu que havia uma segunda fila de casacos pendurada atrás da primeira. Ali já estava meio escuro, e ela estendia os braços, para não bater com a cara no fundo do móvel. Deu mais uns passos, esperando sempre tocar no fundo com as pontas dos dedos. Mas nada encontrava. 

“Deve ser um guarda-roupa colossal!”, pensou Lúcia, avançando ainda mais. De repente notou que estava pisando qualquer coisa que se desfazia debaixo de seus pés. Seriam outras bolinhas de naftalina? Abaixou-se para examinar com as mãos. Em vez de achar o fundo liso e duro do guarda roupa, encontrou uma coisa macia e fria, que se esfarelava nos dedos. “É muito estranho”, pensou, e deu mais um ou dois passos.

O que agora lhe roçava o rosto e as mãos não eram mais as peles macias, mas algo duro, áspero e que espetava.

– Ora essa! Parecem ramos de árvores!

Só então viu que havia uma luz em frente, não a dois palmos do nariz, onde deveria estar o fundo do guarda-roupa, mas lá longe. Caía-lhe em cima uma coisa leve e macia. Um minuto depois, percebeu que estava num bosque, à noite, e que havia neve sob os seus pés, enquanto outros flocos tombavam do ar. Sentiu-se um pouco assustada, mas, ao mesmo tempo, excitada e cheia de curiosidade. Olhando para trás, lá no fundo, por entre os troncos sombrios das árvores, viu ainda a porta aberta do guarda-roupa e também distinguiu a sala vazia de onde havia saído. Naturalmente, deixara a porta aberta, porque bem sabia que é uma estupidez uma pessoa fechar-se num guarda-roupa. Lá longe ainda parecia divisar a luz do dia.

- Se alguma coisa não correr bem, posso perfeitamente voltar. 

E ela começou a avançar devagar sobre a neve, na direção da luz distante. 

Dez minutos depois, chegou lá e viu que se tratava de um lampião. O que estaria fazendo um lampião no meio de um bosque? Lúcia pensava no que deveria fazer, quando ouviu uns pulinhos ligeiros e leves que vinham na sua direção. De repente, à luz do lampião, surgiu um tipo muito estranho. 

Era um pouquinho mais alto do que Lúcia e levava uma sombrinha branca. Da cintura para cima parecia um homem, mas as pernas eram de bode (com pelos pretos e acetinados) e, em vez de pés, tinha cascos de bode. Tinha também cauda, mas a princípio Lúcia não notou, pois ela descansava elegantemente sobre o braço que segurava a sombrinha, para não se arrastar pela neve.

Trazia um cachecol vermelho de lã enrolado no pescoço. Sua pele também era meio avermelhada. A cara era estranha, mas simpática, com uma barbicha pontuda e cabelos frisados, de onde lhe saíam dois chifres, um de cada lado da testa. Na outra mão carregava vários embrulhos de papel pardo. Com todos aqueles pacotes e coberto de neve, parecia que acabava de fazer suas compras de Natal.

Era um fauno. Quando viu Lúcia, ficou tão espantado que deixou cair os embrulhos.

– Ora bolas! - exclamou o fauno.

[...] 

LEWIS, C.S.Uma estranha descoberta.In: As Crônicas de Nárnia.Tradução de Paulo Mendes Campos. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p.105-6. Volume único.



“Um minuto depois, percebeu que estava num bosque, à noite, e que havia neve sob os seus pés, enquanto outros flocos tombavam do ar.” A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.

I. A expressão UM MINUTO DEPOIS possui valor temporal.

II. A forma verbal HAVIA é impessoal.

III. DO AR é uma locução adjetiva. 

Está correto apenas o que se afirma em: 

Alternativas
Comentários
  • I. A expressão UM MINUTO DEPOIS possui valor temporal. CORRETA, POIS O "DEPOIS" INDICA RELAÇÃO DE TEMPO

    II. A forma verbal HAVIA é impessoal. CORRETA, VERBO HAVER NO SENTIDO DE EXISTIR É IMPESSOAL (NÃO VARIA)

    III. DO AR é uma locução adjetiva. ERRADA, É LOCUÇÃO ADVÉRBIAL, INDICA A FORMA COMO ELES TOMBAVAM.

  • Alternativa correta: C. 

     

    Complementando o comentário do colega: para facilitar a visualização do item I, substitua "um minuto depois" por "posteriormente" e temos um advérbio de tempo. 

  • GABARITO: C

     

    II - 

    HAVER/EXISTIR -

    Quando na frase tiver o verbo HAVER (no sentido de existir) Ex.: Há discussões mais flexíveis e pluralistas... O sujeito é inexistente (impessoal) e discussões mais flexíveis e pluralistas OD (objetivo direto).

    Quando na frase tiver o verbo EXISTIR Ex.: existem discussões mais flexíveis e pluralistas... o verbo é VI (verbo intransitivo) e discussões mais flexíveis e pluralistas (vai ser o sujeito).

     

    Fonte: explicação de um colega do QC.

     

    BONS ESTUDOS!

  • GABARITO: letra C

     

    Só uma pequena correção do comentário da Rafaela: “do ar” não indica a forma como os flocos tombavam e sim o lugar de onde eles tombavam. O termo, portanto, é um adjunto adverbial de lugar.

  • LOC ADJETIVA FUNCIONA COMO ADJETIVO .

    ADJETIVO FAZ REFERÊNCIA A UM SUBSTANTIVO E NAO A VERBO.

    ADVÉRBIO FAZ REFERÊNCIA --> VERBO/ADJETIVO/ADVÉRBIO.

  • Do ar esta mudando o valor do verbo tombar por isso é adverbio

  • de onde?

    do ar = adj. adv.