Fiz um regime árduo durante um ano e perdi 23 quilos. Sem operação. Descobri o sabor de salmão ao vapor. Peixe grelhado sem aquela deliciosa crosta de farinha. Feijoada, eliminei. Acarajé, nem pensar. Enfim, boa parte das delícias da culinária nacional saiu de meu cardápio. Francesa também. Americana? Nem por decreto, embora tenha delírios pensando num cheeseburger. Coxinhas, empadinhas e pastéis, só em momentos especiais.
Pois é. Fiz o regime com dedicação absoluta. Pulei do número 58/60 para o 52 e, glorioso, refiz meu guarda-roupa. Meu rosto emagrece fácil. Alguns homens emagrecem e ficam com cara de buldogue. Eu não. Fico mais próximo de uma imagem tradicional do Drácula, magro, de rosto comprido e olhos ávidos. Não por sangue, mas por qualquer pacotinho de batatas fritas. Existe algo melhor que batatas fritas?
Se emagreço primeiro o rosto, engordo a barriga. A barriga masculina é teimosa. Todos sofrem disso. Barriguinha de tanque, só para jovens. Ou para os que comparecem à academia como beatas na igreja. A barriga não só teima, mas é perigosa. A partir de 100 centímetros, induz à chamada síndrome metabólica. Ou seja, à diabetes, problemas cardíacos, gordura no fígado. Um rol de doenças. Em todo o meu processo de emagrecimento, a barriga permaneceu, ai de mim! Não semelhante à de um Buda, como antes. Mas ficou.
Quando o regime foi considerado vitorioso, aos poucos voltei aos carboidratos. A uma delícia aqui, outra ali. Adivinhem o que cresceu primeiro? Ela, a barriga. Para todo homem é assim. Barriga das boas aproveita a primeira oportunidade para se expandir. Fui comprar um paletó, adivinhem? O 54 serve apertadinho. O 56 cai melhor, mas folga nos ombros. O cinto que comprei, em comemoração, não fecha mais. Voltei aos antigos.
Não há parte do corpo mais teimosa para o homem que a barriga. Posso fazer esteira duas horas. Basta comer um cheeseburger, e a barriga vence! É insistente. Tanto que muita gente já diz que a barriguinha em um homem é charmosa. Criou-se um padrão estético a favor de barrigudo! É uma luta inglória. Um homem depois dos 30 passa a vida lutando contra a barriga. Mais dia, menos dia, a vitória sempre será dela.
(Walcyr Carrasco. Barriga teimosa.
Disponível em: http://epoca.globo.com. Adaptado)