Na base da tendência antissocial, há uma falha ambiental, ou melhor, uma falha da “mãe ambiente”. Winnicott caracteriza a tendência antissocial como um distúrbio, resultado de uma falha ambiental que acometeu a relação mãe-bebê no estágio da dependência relativa.
Na linha do amadurecimento, a tendência antissocial se localiza no estágio de dependência relativa, quando já há uma integração, um Eu Sou constituído, aproximadamente entre um e dois anos de idade. (WINNICOTT, 1979)
A falha da mãe, para se constituir em um trauma, precisa acontecer de forma sutil ao longo do tempo e se estabelecer como um padrão de comunicação na relação mãe-bebê. A falha se estabelece como trauma, quando interrompe a continuidade de ser do bebê. (WINNICOTT, cf., 1958c)
A mãe deve falhar em satisfazer as necessidades instintivas, mas pode ser perfeitamente bem sucedida em jamais deixar que o bebê se sinta desamparado, provendo as suas necessidades egoicas, até o momento em que ele já possua introjetada uma mãe que apoia o ego, e tenha idade suficiente para manter essa introjeção, apesar das falhas do ambiente a este respeito. (WINNICOTT, 1958c)
Todo bebê sofre deprivação instintual. A mãe boa falha necessariamente na sua adaptação em satisfazer as exigências instintuais do bebê. No entanto, a mãe que está em sintonia com o seu bebê, não o desampara; e, ao realizar que errou, oferece alguma reparação, e tudo retorna ao estado de tranquilidade anterior.
Quando ocorre a tendência antissocial, aconteceu uma deprivação propriamente dita (não uma simples privação), ou seja, deu-se a perda de algo bom, de caráter positivo na experiência da criança até um certo momento, no qual este elemento positivo foi retirado. (WINNICOTT, 1958c)
A mãe falha com o seu bebê quando retira o elemento positivo da relação por um período longo demais para que fosse capaz de manter viva a memória da experiência.
A tendência antissocial tem, na sua origem, uma deprivação. Diferentemente da privação que ocorre num momento anterior e mais primitivo do amadurecimento emocional, a criança que sofre uma deprivação já tem maturidade de ego suficiente para perceber que a falha é do ambiente. A criança entende que algo lhe foi tirado e que a falha é externa a ela – do ambiente.
Esse é o ponto de origem da tendência antissocial, e aí se inicia o que toma conta da criança, sempre que ela se sente esperançosa, e compele a uma atividade que é antissocial, até que alguém reconheça e tente corrigir a falha do ambiente. (WINNICOTT, 1979)
A tendência antissocial é, portanto, uma reação da criança à falha ambiental. O comportamento antissocial ocorre quando a criança se enche de esperança, na expectativa por uma reparação proveniente do ambiente pelo dano que lhe foi causado. A deprivação inclui tanto o trauma (quebra na continuidade de ser), como a situação traumática que se prolonga no tempo.