SóProvas


ID
2497609
Banca
IBFC
Órgão
EMBASA
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Para a questão, leia a crônica de Carlos Drummond de Andrade.


                                          O murinho

      A princípio, o território neutro do edifício Jandaia era ocupado por mamães e babás, capitaneando inocentes que iam tomar a fresca da tarde; à noite, vinham empregadas em geral, providas de namorados civis e militares.

      Mas impõe-se a descrição sumária do território: simples área pavimentada em frente ao edifício, separando-se da calçada por uma pequena amurada de menos de dois palmos de altura, tão lisa que convidava a pousar e repousar. Os adultos cediam ao convite, e ali ficavam praticando sobre o tempo, a diarreia infantil, a exploração nas feiras, os casamentos e descasamentos da semana (na parte da tarde). Ou não conversavam, pois outros meios de comunicação se estabeleciam naturalmente na sombra, mormente se o poste da Light, que ali se alteia, falhava a seu destino iluminatório, o que era frequente (na parte da noite).

      Na área propriamente dita, a garotada brincava, e era esse o título de glória do Jandaia. Sem playground, oferecia entretanto a todos, de casa ou de fora, aquele salão a céu aberto, onde qualquer guri pulava, caía, chorava, tornava a pular, até que a estrela Vésper tocava gentilmente a recolher, numa sineta de cristal que só as mães escutam — as mães sentadas no “murinho”, nome dado à mureta concebida em escala de anão.

      E assim corria a Idade de Ouro, quando começaram a surgir, no expediente da tarde, uns rapazinhos e brotinhos de uniforme colegial, que foram tomando posse do terreno. Esse bando tinha o dinamismo próprio da idade — e, pouco a pouco, crianças, babás e mãezinhas se eclipsaram. Os invasores falavam essa língua alta e híbrida que se forja no mundo inteiro, com raízes no cinema, no esporte, na Coca-Cola e nos gritos guturais que se desprendem — quem não os distingue? — dos quadros “mudos” de Brucutu e Steve Roper. Divertido, mas um pouco assustador. E à noite, por sua vez, fuzileiros e copeiras tiveram de ir cedendo campo à horda que se renovava.

      Os moradores do Jandaia começaram a queixar-se. O porteiro saiu a parlamentar, e desacataram-no. A rua era pública. Sentavam no murinho com os pés para fora. Não faziam nada de mau, só cantar e assobiar. Os chatos que pirassem.

      Ouvindo-se tratar de chatos, por trás da cortina, os moradores indignaram-se. O telefone chamou a radiopatrulha, que foi rápida, mas a turminha ainda mais: ao chegar o carro, o porteiro estava falando sozinho.

      No dia seguinte, não houve concentração juvenil, mas já na outra tarde, meio cautelosos, eles reapareceram. A esse tempo a rua se dividira. Havia elementos solidários com a gente do Jandaia, e outros que defendiam a nova geração; estes argumentavam que a rapaziada era pura: em vez de bebericar nos bares, batia papo inocente à luz das estrelas. Preferível à grudação dos casais suspeitos, que antes envergonhava a rua.

      Mas o Jandaia tinha moradores idosos e enfermos, aos quais aquela bulha torturava; tinha também rapazes e meninas, que preferiam estudar e não podiam. Por que os engraçadinhos não iam fazer isso diante de suas casas?

      Como não houvesse condomínio, e os moradores dos fundos, livres da algazarra, se mostrassem omissos, uma senhora do segundo andar assumiu a ofensiva e txááá! um balde de água suja conspurcou a camisa esporte dos rapazes e o blue jeans das garotas. Consternação, raiva, debandada — mas no dia seguinte voltaram. E voltaram e tornaram a voltar.

    Ontem pela manhã, um pedreiro começou a furar o cimento do murinho, e a colocar nele uma grade de ferro, de pontas agudas. Vaquinha dos mártires do Jandaia? Não: outra iniciativa pessoal de um deles, coronel reformado e solteirão. “Logo vi que ele não tem filho!” — comentou uma das garotas, com desprezo. Mas a turma está desoladíssima, e nunca mais ninguém ousará sentar no murinho — nem mesmo as mansuetas babás e mamães, nem mesmo os casais noturnos.

ANDRADE, Carlos Drummond. In Fala, amendoeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 

Com base na leitura, analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta.


I. O sufixo “inho” marca o grau diminutivo do substantivo “muro” e tem, no texto, um efeito semântico pejorativo.

II. “Consternação” é um substantivo concreto e pode, no texto, ser substituído por “raiva”.

Alternativas
Comentários
  • AMBAS ESTÃO ERRADAS, POIS:

    O INHO DE MURINHO NÃO TEM SENTIDO PEJORATIVO "Pejorativo é um adjetivo que descreve uma palavra ou ideia que tem um significado desagradáveldepreciativo insultuoso. O próprio verbo pejorar, em português, significa depreciar ou rebaixar."

    Consternação não pode ser subsituído por raiva, já que o significado daquela é "Ação ou efeito de consternar; ato de se consternar.Tristeza imensa e profunda; dor: no velório a consternação dos parentes estava explícita.  Ausência de vigor; sem ânimo; abatimento: ele caiu numa consternação depois do divórcio.Ação de se comover ou de se perturbar; choque".

  • 1. Substantivos concretos: são aqueles que nomeiam seres que possuem existência própria, ou seja, não dependem de outros seres. Os substantivos concretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas.

    Ex.: Bola, macaco, computador etc.

    2. Substantivos abstratos: são aqueles que nomeiam seres que dependem de outros seres para existir. Os substantivos abstratos denominam ações, estado e qualidade.

    Ex.: Amor, raiva, paixão, fome, saudade, beijo

  • Consternação é o mesmo que PESAR, DESOLAÇÃO.

  • Alternativa correta: D. 

     

    I - ERRADA: "murinho" remete ao tamanho do muro (muro pequeno, muro baixo), e não a uma qualidade intrínseca dele;

    II - ERRADA: substantivos abstrados -> sentimento (consternação = desgosto/abatimento/tristeza), ação, qualidade, estado.

  • Bizu para os SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: é o SAQE..

    Sentimento ( que é o caso de CONSTERNAÇÃO)

    Ação

    Qualidade

    Estado..

    #rumoooaoTJPE

     

  • Substantivos concretos são palavras que designam seres com existência própria, que existem independentemente de outros seres, como objetos, pessoas, animais, vegetais, minerais, lugares, … Designam seres existentes no mundo real ou seres fictícios e imaginários cujo conceito é do conhecimento comum, como fadas, bruxas e figuras folclóricas.

     

    Exemplos de substantivos concretos:

     

    Objetos: mesa, tapete, colher, televisão, celular, …

     

    Pessoas: mãe, pai, homem, mulher, Paula, Rodrigo, médica, motorista,…

     

    Animais: cachorro, gato, pássaro, cobra, tartaruga, peixe,…

     

    Frutas: banana, uva, maracujá, goiaba, laranja, abacaxi,…

     

    Plantas: samambaia, capim, ipê, girassol, macieira,…

     

     

    Lugares: Brasil, Rio de Janeiro, Copacabana, África, Marte,…

     

    Fenômenos: noite, dia, chuva, vento, brisa,…

     

    Seres imaginários: fada, bruxa, diabo, duende, sereia, lobisomem, saci-pererê,…

  • Alguém pega a raiva e joga nessa banca!!

     

  • I. O sufixo “inho” marca o grau diminutivo do substantivo “muro” e tem, no texto, um efeito semântico pejorativo.

    O sufixo inho no texto tem sentido de diminutivo, como cita no texto( “murinho”, nome dado à mureta concebida em escala de anão), quer dizer que é pequeno, ao dizer que foi concebido em escala de anão, 

    II. “Consternação” é um substantivo concreto e pode, no texto, ser substituído por “raiva”.

    Como diz no texto : Consternação, raiva, debandada , mas não é concreto pois é um sentimento e depende de outro ser para existir, é abstrato.

    Pra quem gosta de ler o texto, um pouco de interpretação e conhecimentos de classe gramatical (substantivo) , grau do substantivo e interpretação, "os concorrentes piram naqueles que leiem o texto e interpretam", kkkk. 

  • Não sabia o que era pejorativo, por isso errei, agora eu sei o significado. Pejorativo é algo que exprime sentido desagradável ou de desaprovação. Um bom sinônimo para pejorativo seria a palavra: insultuoso, de insultar.

     

    Já o caso de consternação, eu também não sabia o significado, porém eu sabia que substantivo concreto não era, eu imaginava que seria adjetivo. Consternação é comoção, falta de ânimo ou grande tristeza. Três bons sinônimos para essa palavra são: mágoa, dor e tristeza.

    Bons Estudos!!! 

  • Murinho é relativo ao tamanho do muro, no contexto do texto.

    Consternação é o mesmo que uma tristeza aguda, ou seja, um sentimento que, no caso, é um substantivo abstrato. 

     

    A boa é a alternativa D

     

    Forte abraço, valeu, tchatchau!

  • Questão gostosa

  • Gabarito: Letra D
    Infelizmente para responder tal questão devemos recorrer ao texto (nesse caso) por inteiro, sabemos que o tempo não é aliado do concurseiro e que as vezes queremos recorrer logo ao enunciado da questão, porém temos que ser cautelosos quando tomamos essa decisão.

    I - O sufixo “inho” marca o grau diminutivo do substantivo “muro” e tem, no texto, um efeito semântico pejorativo. (ERRADO)

    Em nenhum momento a palavra "murinho"  foi empregada pelo autor com tom pejorativo, simplesmente ela está apenas no diminutivo.  
    § 4° "as mães sentadas no “murinho”, nome dado à mureta concebida em escala de anão".

     

    II. “Consternação” é um substantivo concreto e pode, no texto, ser substituído por “raiva”. (ERRADO)

    Tanto consternação como raiva são sentimentos e como tal não são classificados como concretos e sim abstratos

  • Eu amo português, eu amo português, eu amo português...

     

  • português minha maior dificuldade.

  • Mas o muro no texto estava fazendo uma analogia aos anões pelo seu tamanho, isso não configura um termo pejorativo ? 

  • consternaçao e estar triste , abatido , com o coraçao partido 

  • Eu amo Português.

  • Na área propriamente dita, a garotada brincava, e era esse o título de glória do Jandaia. Sem playground, oferecia entretanto a todos, de casa ou de fora, aquele salão a céu aberto, onde qualquer guri pulava....

    Os moradores do Jandaia começaram a queixar-se. O porteiro saiu a parlamentar, e desacataram-no. A rua era pública.

  • #Bizu

    Coloca o ALGUÉM na frente se faz sentido é substantivo abstrato

    Ex: ALGUÉM consterna

    Se não faz sentido não é abstrato

    Ex: ALGUÉM caneta

  • § 4° "as mães sentadas no “murinho”, nome dado à mureta concebida em escala de anão".

    claro que está de forma pejorativa... se não estivesse não fariam tal comparação poderiam usar o adjetivo pequeno...

  • Também achei que "murinho" foi empregado de forma pejorativa ao comparar com "escala de anão", não entendi...

  • só precisei ler os dois primeiros parágrafos pra saber que o sentido de murinho não era pejorativo, a segunda assertiva não requer texto.

  • I - Errado! - Não há sentido pejorativo, apenas sentido diminutivo dado ser um muro pequeno.

    II - Errado! - Consternação é um substantivo abstrato.

    Gabarito letra D!

  • Essa banca vou te falar, ein... Como que foi pejorativo???

  • § 4° "as mães sentadas no “murinho”, nome dado à mureta concebida em escala de anão".

    Sentido pejorativo, poderiam ser utilizado um outro termo como pequeno, diminuto, ao invés de uma condição humana.