SóProvas


ID
2497855
Banca
FCC
Órgão
AL-SP
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Você tem medo de quê?

      Vou direto ao ponto: estive em Paris. É um verdadeiro luxo, Paris. Não por causa do Louvre, da Place Vendôme ou da Champs-Élysées. Nem pelas mercadorias todas, lindas, chiques, caras, que nem penso em trazer para casa. Meu luxo é andar nas ruas, a qualquer hora da noite ou do dia, sozinha ou acompanhada, a pé, de ônibus ou de metrô (nunca de táxi), e não sentir medo de nada. Melhor: de ninguém. Meu luxo é enfrentar sem medo o corpo a corpo com a cidade, com a multidão.

      O artigo de luxo que eu traria de Paris para a vida no Brasil, se eu pudesse − artigo que não se globalizou, ao contrário, a cada dia fica mais raro e caro −, seria esse. O luxo de viver sem medo, o de circular na cidade sem temer o semelhante, sem que o fantasma de um encontro violento esteja sempre presente. Não escrevi “viver em uma sociedade sem violência”, já que a violência é parte integrante da vida social. Basta que a expectativa da violência não predomine sobre todas as outras; que a preocupação com a “segurança” não seja o critério principal para definir a qualidade da vida urbana.

      Mas eu conheço, eu vivi em uma cidade diferente desta em que vivo hoje. Essa cidade era São Paulo. Já fiz longas caminhadas a pé pelo centro, de madrugada. Não escrevo movida pelo saudosismo, mas pela esperança. Isso faz tão pouco tempo! Sei lá como os franceses conseguiram preservar seu raro luxo urbano. Talvez o valor do espaço público, entre eles, não tenha sido superado pelo dos privilégios privados. Talvez a lei se proponha, de fato, a valer para todos. Pode ser que a justiça funcione melhor. E que a sociedade não abra mão da aposta nos direitos. Pode ser que a violência necessária se exerça, prioritariamente, no campo da política e não no da criminalidade.

      Se for assim, acabo de mudar de ideia. Viver sem medo não é, não pode ser, um luxo. É básico; é o grau zero da vida em sociedade. Viver com medo é que é uma grande humilhação.

(Adaptado de Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. S.Paulo: Boitempo, 2011. p. 119-120)

Atente para as afirmações abaixo sobre a pontuação empregada no terceiro parágrafo do texto.


I. Em Não escrevo movida pelo saudosismo, mas pela esperança, a vírgula poderia ser substituída por dois-pontos, sem prejuízo para a correção e a lógica.

II. Em Sei lá como os franceses conseguiram preservar seu raro luxo urbano, uma vírgula poderia ser colocada imediatamente depois de preservar, sem prejuízo para a correção e o sentido.

III. Em Talvez a lei se proponha, de fato, a valer para todos, as vírgulas poderiam ser simultaneamente retiradas, sem prejuízo para a correção e a lógica.


Está correto o que se afirma APENAS em 

Alternativas
Comentários
  • I. Uso dos dois pontos:

    citação, enumeração, aposto, consequência, esclarecimento, exemplificação.

  • Sobre a I

    Os dois pontos não são permitidos quando houver um adjunto adverbial de adversidade. Observe:

    Não escrevo movida pelo saudosismo, mas pela esperança,

  • O "de fato", no item 3, não seria um adjunto adverbial deslocado? Se sim, deveria obrigatoriamente vir com um par de vírgulas, o que impediria a alternativa de ser dada como correta.

  • Letra C

    I. Em Não escrevo movida pelo saudosismo, mas pela esperança, a vírgula poderia ser substituída por dois-pontos, sem prejuízo para a correção e a lógica.

    Os dois pontos têm vários usos(citação, enumeração, aposto, consequência, esclarecimento, exemplificação), mas não é um deles separar orações coordenadas adversativas.

    II. Em Sei lá como os franceses conseguiram preservar seu raro luxo urbano, uma vírgula poderia ser colocada imediatamente depois de preservar, sem prejuízo para a correção e o sentido.

    Preservar(VTD) o que? Seu raro luxo urbano(Objeto Direto).

    A vírgula estaria separando o verbo "Preservar" de seu Objeto Direto(Seu raro luxo urbano).

    III. Em Talvez a lei se proponha, de fato, a valer para todos, as vírgulas poderiam ser simultaneamente retiradas, sem prejuízo para a correção e a lógica.

    "de fato" é um adjunto adverbial de afirmação, podendo ser substituído por "certamente", "realmente", etc.

    Em regra, os adjuntos adverbiais deslocados exigem o uso de vírgulas, porém estas serão facultativas se o adjunto for de curta extensão.

    Cansado de ficar tentando decorar prazos de lei, teclas de atalho ou classificações de doutrinadores usando mnemônicos malucos que apenas quem os inventou entende?

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  • Maury Abreu, "de fato" é um adjunto adverbial de curta extensão, por isso as virgulas podem ser retiradas sem prejuízo. O que não pode é retirar apenas uma delas, pois senão se terá a famosa vírgula perneta.