SóProvas


ID
2517106
Banca
FCC
Órgão
TRE-PR
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço da vida cultural que levamos. Essa experiência tem sido um dado formador de nossa reflexão crítica desde os tempos da Independência. Ela pode ser e foi interpretada de muitas maneiras, o que faz supor que corresponda a um problema durável e de fundo.

      O Papai Noel enfrentando a canícula em roupa de esquimó é um exemplo de inadequação. Da ótica de um tradicionalista, a guitarra elétrica no país do samba é outro. São exemplos muito diferentes, mas que comportam o sentimento da contradição entre a realidade nacional e o prestígio ideológico dos países que nos servem de modelo.

      Tem sido observado que, a cada geração, a vida intelectual no Brasil parece recomeçar do zero. O apetite pela produção recente dos países avançados muitas vezes tem como avesso o desinteresse pelo trabalho da geração anterior e, por conseguinte, a descontinuidade da reflexão. Nos vinte anos em que tenho dado aula de literatura, por exemplo, assisti ao trânsito da crítica por uma lista impressionante de correntes. Mas é fácil observar que só raramente a passagem de uma escola a outra corresponde ao esgotamento de um projeto; no geral, ela se deve ao prestígio americano ou europeu da doutrina seguinte. Conforme notava Machado de Assis em 1879, “o influxo externo é que determina a direção do movimento”.

      Não é preciso ser adepto da tradição para reconhecer os inconvenientes desta praxe, a que falta a convicção das teorias, logo trocadas. Percepções e teses notáveis a respeito da cultura do país são decapitadas periodicamente, e problemas a muito custo identificados ficam sem o desdobramento que lhes poderia corresponder. O que fica de nosso desfile de concepções e métodos é pouco, já que o ritmo da mudança não dá tempo à produção amadurecida.

      O inconveniente faz parte do sentimento de inadequação que foi nosso ponto de partida. Nada mais razoável, portanto, para alguém consciente do prejuízo, que passar ao polo oposto e imaginar que baste não reproduzir a tendência metropolitana para alcançar uma vida intelectual mais substantiva. A conclusão tem apoio intuitivo forte, mas é ilusória. Não basta renunciar ao empréstimo para pensar e viver de modo mais autêntico. A ideia de cópia discutida aqui opõe o nacional ao estrangeiro e o original ao imitado, oposições que são irreais e não permitem ver a parte do estrangeiro no próprio, a parte do imitado no original e também a parte original no imitado.

(Adaptado de: SCHWARZ, Roberto. Que horas são? São Paulo, Cia. Das Letras, 1987, p. 29-48) 

Os pronomes ela (3° parágrafo) e lhes (4° parágrafo) referem-se, respectivamente, a:

Alternativas
Comentários
  • Letra (e)

     

    A questão pediu conhecimento de um termo chamado Recurso Anafórico, que é utilizado para o que já foi dito e escrito.

     

    Tem sido observado que, a cada geração, a vida intelectual no Brasil parece recomeçar do zero. O apetite pela produção recente dos países avançados muitas vezes tem como avesso o desinteresse pelo trabalho da geração anterior e, por conseguinte, a descontinuidade da reflexão. Nos vinte anos em que tenho dado aula de literatura, por exemplo, assisti ao trânsito da crítica por uma lista impressionante de correntes. Mas é fácil observar que só raramente a passagem de uma escola a outra corresponde ao esgotamento de um projeto; no geral, ela se deve ao prestígio americano ou europeu da doutrina seguinte. Conforme notava Machado de Assis em 1879, “o influxo externo é que determina a direção do movimento”.

     

    Não é preciso ser adepto da tradição para reconhecer os inconvenientes desta praxe, a que falta a convicção das teorias, logo trocadas. Percepções e teses notáveis a respeito da cultura do país são decapitadas periodicamente, e problemas a muito custo identificados ficam sem o desdobramento que lhes poderia corresponder. O que fica de nosso desfile de concepções e métodos é pouco, já que o ritmo da mudança não dá tempo à produção amadurecida.

  • Vamos pedir os comentários do professor, ainda tenho muitas dúvidas. obg

  • Que eu saiba é um termo anafórico que a banca iades gosta de cobrar Adriana perceba que o termo retomado é muito próximno, fica ligada.

  • Não sei como acertei, sou péssimo nesse tipo de questão, dessa vez consegui identificar os termos anafóricos.

  • que - pronome relativo retoma o termo anterior - o desdobramento - função do que - objeto direto, logo o lhes não poderia retmomar o desdobramento.

  • Nessa questão bastava identificar o referente de "ela": a passagem de uma escola a outra! Restando apenas duas alternativas. Percebam que o pronome "lhes" está no plural, logo retomará algo que esteja também no plural. 

    Abraços!

  • "Gabarito E"

     

    Nesse tipo de questão temos que ler com bastante cautela.

     

    **Regra: Ela-> pronome que se refere ao sujeito

                   lhe-> Objeto indireto ( A ela)

     

    Analisando as frases:

    Mas é fácil observar que só raramente a passagem de uma escola a outra (sujeito) corresponde (VTI) ao esgotamento de um projeto; no geral, Ela (retoma o sujeito) se deve ao prestígio americano ou europeu da doutrina seguinte.

     

    Percepções e teses notáveis a respeito da cultura do país são(verbo) decapitadas periodicamente, e problemas a muito custo identificados (sujeito) ficam (verbo) sem o desdobramento que lhes (retomando sujeito de uma oração subordinada) poderia corresponder.

     

    ** PESSOAL, REPARE QUE NESSE CASO O 'LHES' ESTÁ QUEBRANDO A REGRA (DE RETOMAR OBJETO INDIRETO) E  RETOMA O SUJEITO DA ORAÇÃO SUBORDINADA.

     

    A Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha, autor brasileiro, não prevê o pronome lhe como sujeito de orações.

    No entanto, poderemos apresentar uma frase coloquial em que o pronome lhe funciona como sujeito de uma oração subordinada. Tomemos por exemplo: «O pai mandou o filho fazer este trabalho», ou abreviadamente, «O pai mandou-lhe fazer este trabalho.»  Assim, a oração principal ou subordinante inclui a oração subordinada infinitiva: «O pai mandou-/lhe fazer este trabalho.» A segunda oração é complemento obje(c)to dire(c)to da primeira, na qual se encontra encaixada. O pronome lhe funciona como sujeito da segunda oração.

     

    Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/as-funcoes-sintacticas-do-pronome-lhe/20861

     

    Meu Deus, ajude-nos!

     

     

     

     

  • Realmente meu Deus nos ajudeeee!!!!!

    :/