SóProvas


ID
2559385
Banca
CONSULPLAN
Órgão
TRE-RJ
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              Estado e interesses coletivos


      [...] como é necessário haver uma palavra para designar o grupo especial de funcionários encarregados de representar essa autoridade, conviremos em reservar para esse uso a palavra Estado. Sem dúvida é muito frequente chamar-se de Estado não o órgão governamental, mas a sociedade política em seu conjunto, o povo governado e seu governo juntos, e nós mesmos empregamos a palavra nesse sentido. Assim, fala-se em Estados europeus, diz-se que a França é um Estado. Porém, como é bom que haja termos especiais para realidades tão diferentes quanto a sociedade e um de seus órgãos, chamaremos mais especialmente de Estado os agentes da autoridade soberana, e de sociedade política o grupo complexo de que o Estado é o órgão eminente. [...]

      Eis o que define o Estado. É um grupo de funcionários sui generis, no seio do qual se elaboram representações e volições que envolvem a coletividade, embora não sejam obra da coletividade. Não é correto dizer que o Estado encarna a consciência coletiva, pois esta o transborda por todos os lados. É em grande parte difusa; a cada instante há uma infinidade de sentimentos sociais, de estados sociais de todo o tipo de que o Estado só percebe o eco enfraquecido. Ele só é a sede de uma consciência especial, restrita, porém mais elevada, mais clara, que tem de si mesma um sentimento mais vivo. [...] Podemos então dizer em resumo; o Estado é um órgão especial encarregado de elaborar certas representações que valem para a coletividade. Essas representações distinguem-se das outras representações coletivas por seu maior grau de consciência e de reflexão. [...]

             (DURKHEIM, Émile. Lições de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 67-71.)

Leia e analise as sugestões de alteração a seguir e assinale como alternativa correta aquela em que a correção e a coerência do texto seriam preservadas.

Alternativas
Comentários
  • A) “por todos os lados” não tem ideia de conseqüência, apenas de “direção”.

     

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    B) Perfeita. O verbo “chamar”, com sentido de “designar, nomear”, aceita regência com ou sem preposição A:

    Chamou o/Ao menino de burro

    Chamaremos de Estado os/ Aos agentes…

     

    --------------------------------------------------------------------

    C) “Assim” e “por conseguinte” são sim conectivos conclusivos. Contudo, “porém” é adversativo e tem sentido de “oposição”, ao passo que “ainda assim” tem sentido de “concessão”. Não é possível fazer a troca direta.

     

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    D) O sujeito é singular (“Estado”): o Estado é um grupo. Não é possível levar o verbo para o plural, ou teríamos “o Estado são”…

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    Gabarito preliminar letra C.

     

     

    A banca ignorou a dupla possibilidade de regência do verbo “chamar” e não aceitou a regência como objeto indireto. O gabarito deveria ser a letra B.

    A letra C, considerada como gabarito, diz basicamente que “ainda assim” e “porém” são equivalentes, o que não é verdade.

    Veja os exemplos na própria gramática de Evanildo Bechara:

    “Chamar românicas essas línguas

    Chamar românicas a essas línguas”

    Observem que o complemento pode ser preposicionado ou não, ambas as formas estão corretas. 

    (BECHARA, E. Moderna gramática da língua portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro, Lucerna, 2003.)

     

     

    Agora vejamos o tratamento desse verbo por Celso Cunha:

    “CHAMAR

    3) No sentido de ‘qualificar”, “apelidar”, “dar nome”, contrói-se:

    a) com objeto direto + predicativo

    a) com objeto INdireto + predicativo

     

    Chama-lhe amizade, se preferires

     

    Chamava-lhe sempre de miúdo.”

     

    Veja então que se admite objeto indireto, a preposição seria adequada em ‘chamava Aos agentes de Estado”

     

    A alternativa “B”(prova verde -tipo 2) está correta!!

     

    Pede-se mudança de gabarito.

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    FONTE  : PREOFESSOR FELIPE LUCCAS 

  • CHAMAR

    1) Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, solicitar a atenção ou a presença de.

    Por exemplo:

    Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
    Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.

     

    2) Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo preposicionado ou não.

    Exemplos:

    A torcida chamou o jogador mercenário.


    A torcida chamou ao jogador mercenário.


    A torcida chamou o jogador de mercenário.


    A torcida chamou ao jogador de mercenário.

     

     

    CUSTAR

    1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial.

    Por exemplo:

    Frutas e verduras não deveriam custar muito.

     

    2) No sentido de ser difícil, penoso pode ser intransitivo ou transitivo indireto.

    Por exemplo:

    Muito 

    custa         viver tão longe da família.
                Verbo        Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
           Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo

    Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela atitude.
            Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
            Indireto                                     Reduzida de Infinitivo

     

    Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que atribuem ao verbo "custar" um sujeito representado por pessoa. Observe o exemplo abaixo:

    Custei para entender o problema. 
    Forma correta: Custou-me entender o problema.

     

     

    IMPLICAR

    1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:

    a) Dar a entender, fazer supor, pressupor

    Por exemplo:

    Suas atitudes implicavam um firme propósito.

     

    b) Ter como consequência, trazer como consequência, acarretar, provocar

    Por exemplo:

    Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um povo.

     

    2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer, envolver

    Por exemplo:

    Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.

     

    Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo indireto e rege com preposição "com".

    Por Exemplo:

    Implicava com quem não trabalhasse arduamente.

  • Não acho que o gabarito poderia ser a letra B. Concordo que o verbo chamar aceita a preposição, porém no texto já se observa esta:  "chamaremos mais especialmente de Estado os agentes. Se aceitarmos a troca de "o" por "ao" ficaria 2 preposições "chamaremos mais especialmente de Estado aos agentes" (chamaremos quem de Estado? os agentes; se tirássemos a preposição "de" estaria correta "chamaremos mais especialmente Estado aos agentes")

  • A Daniela falou tudo. No texto, não caberia o verbo chamar como objeto indireto, haja vista a preposição "de" antes de Estado.

    Ficaria: quem chama, chama alguém (os agentes) "DE" alguma coisa (Estado).

  • Não enxergo erro algum na B. 

    "de Estado"
    é predicativo, não objeto indireto. Com a preposição é predicativo do objeto indireto, sem preposição é predicativo do objeto direto.

     

  • Justificativa da Consulplan para anular a questão:

     

    "Recurso Procedente. Questão Anulada.

     

    A alternativa “B) No trecho “de Estado os agentes da autoridade soberana” (1º§), o acréscimo da preposição “a” antecedendo e unindo-se ao termo “os” manteria a correção do trecho. ” É considerada correta, pois, em “Porém, como é bom que haja termos especiais para realidades tão diferentes quanto a sociedade e um de seus órgãos, chamaremos mais especialmente de Estado os agentes da autoridade soberana, e de sociedade política o grupo complexo de que o Estado é o órgão eminente. ” para que fosse acrescentada a preposição “a” na posição indicada, seria necessário que o termo regente a exigisse.

     

    O verbo chamar aceita a regência sugerida, ou seja, um objeto indireto + predicativo precedido da preposição de. Essa possibilidade é aceita pela norma culta.

     

    Segundo Bechara, “Chamar no sentido de “dar nome”, “apelidar” pede objeto direto ou complemento preposicionado e predicativo do objeto, com ou sem preposição” e traz como exemplo: Chamavam-lhe tolo / Chamavam-lhe de tolo.

     

    A alternativa “C) As relações de sentido estabelecidas pelo uso de “assim” e “porém”, no 1º§, seriam mantidas caso tais termos fossem substituídos, respectivamente, por “por conseguinte” e “ainda assim”. ” foi considerada também correta.

     

    Em “Assim, fala-se em Estados europeus, diz-se que a França é um Estado. Porém, como é bom que haja termos especiais para realidades tão diferentes quanto a sociedade e um de seus órgãos, ” temos na primeira indicação de substituição duas conjunções coordenativas conclusivas por conseguinte e assim (com valor de conclusão), mantendo a relação de sentido.

     

    Porém, contudo, entretanto, no entanto, todavia são palavras tradicionalmente classificadas como conjunções, mas têm características que as assemelham a advérbios e comportam-se como verdadeiros equivalentes de “ainda assim”, “infelizmente”, “pelo contrário”, “apesar disso”, etc."

     

    Fonte: https://d3du0p87blxrg0.cloudfront.net/concursos/482/117_2830313.pdf

  • CÉSAR TRT o professor Pestana, profundo estudioso do Bechara (referÊncia da CONSULPLAN) e concluindo PHD em Portugal, coloca "ainda assim" como conj. coord. ADVERSATIVA (Pestana 2015, fl. 529)

  • Aula sobre Predicativo do Objeto

    https://www.youtube.com/watch?v=Mtgpxe4KgJk