SóProvas


ID
2561815
Banca
FCC
Órgão
TST
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Há algumas dicotomias que parecem ter a força de atravessar o tempo e se imporem a nós com uma evidência inaudita. Em filosofia, conhecemos várias delas, assim como conhecemos suas maneiras de orientar o pensamento e as ações.

      Tais dicotomias podem operar não apenas como um horizonte normativo pressuposto, mas também como base para a consolidação de certas modalidades de pensamento crítico. No entanto, há momentos em que percebemos a necessidade de questionar as próprias estratégias críticas e suas dicotomias. Pois, ao menos para alguns, elas parecem nos paralisar em vez de nos permitir avançar em direção às transformações que desejamos.

      Um exemplo de dicotomia que tem força evidente no pensamento crítico atual é aquela, herdada de Spinoza, entre paixões tristes e paixões alegres. Paixões tristes diminuem nossa potência de agir, paixões alegres aumentam nossa potência de agir e nossa força para existir. A liberdade estaria ligada à força afirmativa das paixões alegres, assim como a servidão seria a perpetuação do caráter reativo das paixões tristes. Haveria pois aquilo que nos afeta de forma tal que permitiria a nossos corpos desenvolver ou não uma potência de agir e existir que é o exercício mesmo da vida em sua atividade soberana.

      Sem querer aqui fazer o exercício infame e sem sentido de discutir a teoria spinozista dos afetos e sua bela complexidade em uma coluna de jornal, gostaria apenas de sublinhar inicialmente a importância desse entendimento de que a capacidade crítica está ligada diretamente a uma compreensão dos afetos e de seus circuitos. Nada de nossas estratégias contemporâneas de crítica seria possível sem esse passo essencial de Spinoza, recuperado depois por vários outros filósofos que o seguiram.

      No entanto, valeria a pena nos perguntarmos o que aconteceria se insistíssemos que talvez não existam paixões tristes e paixões alegres, que talvez essa dicotomia possa e deva ser abandonada (independentemente do que pensemos ou não de Spinoza).

      É claro que isso inicialmente soa como um exercício ocioso de pensamento. Afinal, a existência da tristeza e da alegria nos parece imediatamente evidente, nós podemos sentir tal diferença e nos esforçamos (ou ao menos deveríamos nos esforçar, se não nos deixássemos vencer pelo ressentimento e pela resignação) para nos afastarmos da primeira e nos aproximarmos da segunda.

      Mas o que aconteceria se habitássemos um mundo no qual não faz mais sentido distinguir entre paixões tristes e alegres? Um mundo no qual existem apenas paixões, com a capacidade de às vezes nos fazerem tristes, às vezes alegres. Ou seja, um mundo no qual as paixões têm uma dinâmica que inclui necessariamente o movimento da alegria à tristeza.

     Pois, se esse for o caso, então talvez sejamos obrigados a concluir que não é possível para nós nos afastarmos do que tenderíamos a chamar de "paixões tristes", pois não há paixão que, em vários momentos, não nos entristeça. Não há afetos que não nos contraiam, não há vida que não se deixe paralisar, que não precise se paralisar por certo tempo, que não se vista com sua própria impotência a fim de recompor sua velocidade. Mais, ainda. Não há vida que não se sirva da doença para se desconstituir e reconstruir.

                                                                      (SAFATLE, Wladimir. Folha de S.Paulo, 23/06/2017)

O parágrafo 3 está estruturado, na sequência dada e em coesão adequada, por meio dos seguintes passos:

Alternativas
Comentários
  • Quando que a CESPE ia falir mesmo?

  • Que isso, papai?

  • Saudades CESPE, rs

  • Mata!!!!!

  • Vamos rezar que estudar está difícil.

  • A FCC está mudando sua forma de cobrar questões de concurso. Essa, em particular, é bem capciosa. Errei agora e erraria, com absoluta certeza, na prova.

  • Eu só consegui acertar essa questao porque consegui entender o primeiro período do texto. Analisando as alternativas, consegui tirar de cara as alternativas A B E. No entanto, fiquei ainda com dúvida na alternativa C e D. 

     

    Um exemplo de dicotomia que tem força evidente no pensamento crítico atual é aquela (dicotomia), herdada de Spinoza, entre paixões tristes e paixões alegres. 

     

     c)

    exemplo de uma dicotomia das paixões; descrição das paixões; outro exemplo de dicotomia: liberdade/escravidão; conclusão sobre a vida em sua atividade soberana. 

     d)

    exemplo de um certo tipo de dicotomia, que envolve paixões; caracterização dessa dicotomia; menção a dicotomia associada à dicotomia exemplificada; dedução acerca da dinâmica dos afetos. 

  • Se você acertou essa ,sinta orgulho por fazer parte dos 40% , CONFORME as estatísticas.

  • Gente que prova foi essa? Mas depois fui pesquisar o que o analista de Taquigrafia faz e entendi que a disciplina português tem que ser cobrada mesmo! Mas já era a época em que a gente gabaritava prova da FCC

     

    Foco genteeeeee VAI DAR CERTO!

  • marquei a C. Mas li novamente, com mais calma, e cheguei às seguintes conclusões:

    c) "1 exemplo de uma dicotomia das paixões;descrição das paixões; outro exemplo de dicotomia: liberdade/escravidão"

    d) "exemplo de um certo tipo de dicotomia, que envolve paixões (oração sub. adj. explicativa); 2 caracterização dessa dicotomia; 3 menção à dicotomia associada à dicotomia exemplificada;

     

    Nos itens, que enumerei, é possível perceber a semelhança na essência semântia de cada item. Por enquanto as duas estão corretas, assim penso!

    O que difere é o final...tornando a d) correta.

    c) 4 conclusão sobre a vida em sua atividade soberana. 

    d) 4 dedução acerca da dinâmica dos afetos

    O autor conclui sobre a vida em sua atividade soberana? Não, porém deduz a respeito das dinâmica dos afetos.

     

    "Haveria (futuro do pretérito do indicativo, ideia de hipótese, dedução) pois aquilo que nos afeta de forma tal que permitiria (novamente o autor recorre à mesma estratégia) a nossos corpos desenvolver ou não uma potência de agir e existir que é o exercício mesmo da vida em sua atividade soberana (esse trecho final, sublinhado, é apenas uma oração sub. restritiva. A alternativa C a coloca como a essência do parágrafo, quando na verdade somente restringe o termo anterior - que é a possível dedução acerca da dinâmica dos afetos: o trecho, em azul, ao final).

     

  • prova sinistra

  • Tentando enxergar algum sentido...

     

     

     

    Trecho:

     

    Um exemplo de dicotomia que tem força evidente no pensamento crítico atual é aquela, herdada de Spinoza, entre paixões tristes e paixões alegres. Paixões tristes diminuem nossa potência de agir, paixões alegres aumentam nossa potência de agir e nossa força para existir. A liberdade estaria ligada à força afirmativa das paixões alegres, assim como a servidão seria a perpetuação do caráter reativo das paixões tristes. Haveria pois aquilo que nos afeta de forma tal que permitiria a nossos corpos desenvolver ou não uma potência de agir e existir que é o exercício mesmo da vida em sua atividade soberana.

     

     

     

    (1)  Um exemplo de dicotomia que tem força evidente no pensamento crítico atual é aquela, herdada de Spinoza, entre paixões tristes e paixões alegres. ( exemplo de um certo tipo de dicotomia, que envolve paixões )

     

     

    (2) Paixões tristes diminuem nossa potência de agir, paixões alegres aumentam nossa potência de agir e nossa força para existir.                     ( caracterização dessa dicotomia )

     

     

    (3) A liberdade estaria ligada à força afirmativa das paixões alegres, assim como a servidão seria a perpetuação do caráter reativo das paixões tristes.( menção a dicotomia associada à dicotomia exemplificada )

     

     

     

    (4) Haveria pois aquilo que nos afeta de forma tal que permitiria a nossos corpos desenvolver ou não uma potência de agir e existir que é o exercício mesmo da vida em sua atividade soberana.  ( dedução acerca da dinâmica dos afetos )

     

     

     

    Assertiva:

     

    d) exemplo de um certo tipo de dicotomia, que envolve paixões; caracterização dessa dicotomia; menção a dicotomia associada à dicotomia exemplificada; dedução acerca da dinâmica dos afetos. 

     

     

     

    GABARITO LETRA D

  • O trabalho dos taquigrafos: https://www.youtube.com/watch?v=bBV7E-0d1zg por isso que a prova de português é dificil!

  • Quer chorar? faça uma prova de português de taquígrafo.

  • Errei agora para não errar na prova! Maque C também... Enfim, manda mais!

     

  • ERRADA. Estava tudo certo até chegar em: "dedução sob raciocínio hipotético: corpos podem ser afetados em sua força vital". Isso porque a dedução não tem como objetivo evidenciar que corpos podem sofrer abalos externos, mas sim estabelecer um paralelo entre o que nos afeta e o resultado que isso nos provoca, ou seja, se forem paixões tristes, encrustamos; se forem paixões alegres, desabrochamos.

    ERRADA. O erro está em dizer que no terceiro período há uma contradição. Não há, senão uma analogia/relação/associação.

    ERRADA. Não há "outro exemplo de dicotomia", há o mesmo exemplo explicado por uma analogia.

    CERTA. "Tá bunito", tudo perfeitinho, tudo encaixadinho, e a parte da dedução então: angelical, e é, aliás, ela que faz estar certa a assertiva "d" e errada "a".

    ERRADA. Há uma clara extrapolação. Em instante algum, nesse parágrafo, o autor destaca a importância dessa ou daquela paixão, ainda que inferir sobre tal importância seja inevitável ao se ler.

  • Caraca uma das questões mais difíceis que já fiz de português, faca na caveira. Já começa a dificuldade em interpretar esse longo texto. FCC pior que CESPE.

  • Trocando em miúdos...

    Multa penal: somente o apenado paga.

    Multa civil: estende-se aos herdeiros