SóProvas


ID
2569366
Banca
VUNESP
Órgão
PM-SP
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      AUTOR – Eu sou o autor de uma mulher que inventei e a quem dei o nome de Ângela Pralini. Eu vivia bem com ela. Mas ela começou a me inquietar e vi que eu tinha de novo que assumir o papel de escritor para colocar Ângela em palavras porque só então posso me comunicar com ela.

      Eu escrevo um livro e Ângela outro: tirei de ambos o supérfluo.

      Eu escrevo à meia-noite porque sou escuro. Ângela escreve de dia porque é quase sempre luz alegre.

      Este é um livro de não memórias. Passa-se agora mesmo, não importa quando foi ou é ou será esse agora mesmo.

      (…)

      ÂNGELA – Viver me deixa trêmula.

      AUTOR – A mim também a vida me faz estremecer.

      ÂNGELA – Estou ansiosa e aflita.

      AUTOR – Vejo que Ângela não sabe como começar. Nascer é difícil. Aconselho-a a falar mais facilmente sobre fatos? Vou ensiná-la a começar pelo meio. Ela tem que deixar de ser tão hesitante porque senão vai ser um livro todo trêmulo, uma gota d’água pendurada quase a cair e quando cai divide-se em estilhaços de pequenas gotas espalhadas. Coragem, Ângela, comece sem ligar para nada.

(Clarice Lispector. Um sopro de vida)

Em relação aos períodos “Viver me deixa trêmula.” e “Vejo que Ângela não sabe como começar.”, é corretor afirmar que

Alternativas
Comentários
  • “Viver me deixa trêmula.”  ~~> Período simples  (Apenas 1 verbo) 

     

    Vejo que Ângela não sabe como começar.” ~> Período composto por subordinação (uma oração depende da outra)

                          

                         ATENÇÃO: O segundo período é uma oração subordinada objetiva direta, pois quem vê, vê alguma coisa. Nessa oração o que é visto? que Ângela não sabe como começar. É o famoso objeto oracional. É oracional, pois é um objeto que contém um verbo. 

  • “Viver me deixa trêmula.”  ~~> Período simples  (Apenas 1 verbo) 

    Por favor, podem me explicar porque só há um verbo na frase? "Viver" não conta?

  • Eu queria saber o porquê de DEIXA não ser considerado verbo nesta assertiva.

     

  • Depois de muito pensar sobre essa questão cheguei a seguinte conclusão:

    "Viver me deixa trêmula" - Viver = Sujeito ( Verbos no infinitivo funcionam como nomes normais, portanto podem exercer função de sujeito ).

    Me = Objeto direto ( Pronomes obliquos não podem < na maioria dos casos > exercer função de sujeito, portanto é complemento ).

    Deixa = VTD ( concorda com o sujeito VIVER < e de onde se deve começar a análise >, pois se tivesse a conjugação DEIXOU, aí seria outro tipo de frase ).

    TRêmula = Predicativo do objeto.

     

  • O que eu conclui foi: O verbo viver no caso da oração foi subtantivado, ou seja, ele está apresentado como "O Viver"... Logo, ele passa a ser o sujeito do período.

  • ATENÇÃO: O VERBO VIVER,NA PRIMEIRA FRASE, ESTÁ COM FUNÇÃO DE SUBSTÂNTIVO,OU SEJA, PODE SER CONSIDERADO UMA DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA .

  • A banca deu como correta a alternativa (B), pois ela entendeu o infinitivo “viver” como um substantivo ocupando a função de um sujeito simples.

    Porém, cabe também a interpretação de que o infinitivo “viver” é o sujeito oracional, isto é, uma oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo e a oração “me deixa trêmula” é a principal.

    Note que o segundo período apresenta a oração principal “Vejo” e a oração subordinada substantiva objetiva direta “que Ângela não sabe”. Esta é seguida por outra oração subordinada substantiva objetiva direta “como começar”.

    Reforçando: a banca deu como correta a alternativa (B), mas caberia também a (C) como correta. Como provavelmente ninguém contestou tal interpretação ou não aprofundou na argumentação, a questão não foi anulada. Mas ressalto que não há respaldo gramatical em negar a possibilidade de o primeiro período apresentar período composto por subordinação substantiva.