SóProvas


ID
2575603
Banca
IESES
Órgão
IGP-SC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         DIÁLOGO DE SURDOS

                                                      Por: Sírio Possenti. Publicado em 09 mai 2016. Adaptado de:

                                       http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/4821/n/dialogo_de_surdos

                                                                                                                 Acesso em 30 out 2017.


      A expressão corrente trata de situações em que dois lados (ou mais) falam e ninguém se entende. Na verdade, esta é uma visão um pouco simplificada das coisas. De fato, quando dois lados polemizam, dificilmente olham para as mesmas coisas (ou para as mesmas palavras). Cada lado interpreta o outro de uma forma que este acha estranha e vice-versa.

      Dominique Maingueneau (em Gênese dos discursos, São Paulo, Parábola) deu tratamento teórico à questão (um tratamento empírico pode ser encontrado em muitos espaços, quase diariamente). [...]

      Suponhamos dois discursos, A e B. Se polemizam, B nunca diz que A diz A, mas que diz “nãoB”. E vice-versa. O interessante é que nunca se encontra “nãoB” no discurso de A, sempre se encontra A; mas B não “pode” ver isso, porque trairia sua identidade doutrinária, ideológica.

      Um bom exemplo é o que acontece frequentemente no debate sobre variedades do português. Se um linguista diz que não há “erro” em uma fala popular, como em “as elite” (que a elite escreve burramente “a zelite”, quando deveria escrever “as elite”), seus opositores não dirão que os linguistas descrevem o fato como uma variante, mostrando que segue uma regra, mas que “aceitam tudo”, que “aceitam o erro”. O simulacro consiste no fato de que as palavras dos oponentes não são as dos linguistas (não cabe discutir quem tem razão, mas verificar que os dois não se entendem).

      Uma variante da incompreensão é que cada lado fala de coisas diferentes.

      Atualmente, há uma polêmica sobre se há golpe ou não há golpe. Simplificando um pouco, os que dizem que há golpe se apegam ao fato de que os dois crimes atribuídos à presidenta não seriam crimes. Os que acham que não há golpe dizem que o processo está seguindo as regras definidas pelo Supremo.

      Um bom sintoma é a pergunta recorrente feita aos ministros do Supremo pelos repórteres: a pergunta não é “a pedalada é um crime?” (uma questão mérito), mas “impeachment é golpe?”. Esta pergunta permite que o ministro responda que não, pois o impedimento está previsto na Constituição.

      Juca Kfouri fez uma boa comparação com futebol: a expulsão de um jogador, ou o pênalti, está prevista(o), o que não significa que qualquer expulsão é justa ou que toda falta é pênalti...

      A teoria de Maingueneau joga água na fervura dos que acreditam que a humanidade pode se entender (o que faltaria é adotar uma língua comum, quem sabe o esperanto). Ledo engano: as pessoas não se entendem é falando a mesma língua.

      Até hoje, ninguém venceu uma disputa intelectual (ideológica) no debate. Quando venceu, foi com o exército, com a maioria dos eleitores ou dos... deputados.

                                                                                                                               Sírio Possenti

                                                                                                         Departamento de Linguística

                                                                                             Universidade Estadual de Campinas 

Leia as proposições a seguir com atenção ao emprego dos pronomes, de acordo com a norma padrão:


I. Informou-me que daria-me explicações mais tarde.

II. Não nos informou sobre o que nos faria perder a vaga.

III. Refeririam-se aos problemas já analisados?

IV. Dessa forma, far-se-ão novas consultas.


Estão corretas quantas das proposições? Assinale a alternativa que contenha essa resposta:

Alternativas
Comentários
  • a) dar-me-ia (caso de mesóclise, pois é proibida a ênclise após verbos no futuro do indicativo).


    b) CORRETO. Temos dois casos de próclise: Com palavra negativa antes do verbo (no caso, o advérbio "não") e com pronome relativo antes do verbo (no caso, "que").


    c) Referir-se-iam (caso de mesóclise, pois não se inicia frases com pronomes oblíquos e muito menos depois de verbos no futuro do indicativo)


    d) CORRETO. Caso de mesóclise, pois não se pode usar a próclise devido à vírgula e não se pode usar a ênclise porque o verbo está no futuro do indicativo.


    GAB: D

  • I- Daria (futuro do pretérito). Quando o verbo está no fututo do presente ou no futuro do pretérito, dá-se a PRÓCLISE ou a MESÓCLISE.

     

    II-.Nas orações que contêm uma palavra negativa quando entre ela e o verbo não há pausa, ocorre a PRÓCLISE.

     

    III- Eles refeririam (futuro do pretérito), usa-se a PRÓCLISE ou a MESÓCLISE.

     

    IV- Farão (futuro do presente), usa-se a PRÓCLISE ou a MESÓCLISE.

     

    Logo apenas as opções corretas são a II e a IV.

     

    Fé, Força e Foco

  • obrigada pelas explicações!!

  • Li "Referiam-se" ná assertiva III e errei.

  • I. Informou-me que me daria explicações mais tarde. Inicio com verbo: ênclise. Palavra atrativa (pronome relativo): próclise.

    II. Não nos informou sobre o que nos faria perder a vaga. Palavra atrativa (valor negativo e pronome relativo): próclise.

    III. Referir-se-iam-se aos problemas já analisados? Futuro do pretérito: mesóclise.

    IV. Dessa forma, far-se-ão novas consultas. Futuro do presente: mesóclise.