SóProvas


ID
2577763
Banca
IBFC
Órgão
SEE-MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I


                                 Não canse quem te quer bem

                                                                                                                           (Martha Medeiros)


      Foi durante o programa Saia Justa que a atriz Camila Morgado, discutindo sobre a chatice dos outros (e a nossa própria), lançou a frase: “Não canse quem te quer bem”. Diz ela que ouviu isso em algum lugar, mas enquanto não consegue lembrar a fonte, dou a ela a posse provisória desse achado.

      Não canse quem te quer bem. Ah, se conseguíssemos manter sob controle nosso ímpeto de apoquentar. Mas não. Uns mais, outros menos, todos passam do limite na arte de encher os tubos. Ou contando uma história que não acaba nunca, ou pior: contando uma história que não acaba nunca cujos protagonistas ninguém jamais ouviu falar. Deveria ser crime inafiançável ficar contando longos casos sobre gente que não conhecemos e por quem não temos o menor interesse. Se for história de doença, então, cadeira elétrica.

      Não canse quem te quer bem. Evite repetir sempre a mesma queixa. Desabafar com amigos, ok. Pedir conselho, ok também, é uma demonstração de carinho e confiança. Agora, ficar anos alugando os ouvidos alheios com as mesmas reclamações, dá licença. Troque o disco. Seus amigos gostam tanto de você, merecem saber que você é capaz de diversificar suas lamúrias.

     Não canse quem te quer bem. Garçons foram treinados para te querer bem. Então não peça para trocar todos os ingredientes do risoto que você solicitou - escolha uma pizza e fim.

      Seu namorado te quer muito bem. Não o obrigue a esperar pelos 20 vestidos que você vai experimentar antes de sair - pense antes no que vai usar. E discutir a relação, só uma vez por ano, se não houver outra saída.

      Sua namorada também te quer muito bem. Não a amole pedindo para ela explicar de onde conhece aquele rapaz que cumprimentou na saída do cinema. Ciúme toda hora, por qualquer bobagem, é esgotante.

      Não canse quem te quer bem. Não peça dinheiro emprestado pra quem vai ficar constrangido em negar. Não exija uma dedicatória especial só porque você é parente do autor do livro. E não exagere ao mostrar fotografias. Se o local que você visitou é realmente incrível, mostre três, quatro no máximo. Na verdade, fotografia a gente só mostra pra mãe e para aqueles que também aparecem na foto.

      Não canse quem te quer bem. Não faça seus filhos demonstrarem dotes artísticos (cantar, dançar, tocar violão) na frente das visitas. Por amor a eles e pelas visitas.

      Implicâncias quase sempre são demonstrações de afeto. Você não implica com quem te esnoba, apenas com quem possui laços fraternos. Se um amigo é barrigudo, será sobre a barriga dele que faremos piada. Se temos uma amiga que sempre chega atrasada, o atraso dela será brindado com sarcasmo. Se nosso filho é cabeludo, “quando é que tu vai cortar esse cabelo, garoto?” será a pergunta que faremos de segunda a domingo. Implicar é uma maneira de confirmar a intimidade. Mas os íntimos poderiam se elogiar, pra variar.

      Não canse quem te quer bem. Se não consegue resistir a dar uma chateada, seja mala com pessoas que não te conhecem. Só esses poderão se afastar, cortar o assunto, te dar um chega pra lá. Quem te quer bem vai te ouvir até o fim e ainda vai fazer de conta que está se divertindo. Coitado. Prive-o desse infortúnio. Ele não tem culpa de gostar de você.” 

Marta Medeiros é colunista de um jornal de grande circulação. Nesse sentido, seus textos apresentam características que buscam uma maior aproximação com o leitor. Assinale a opção cujo recurso apontado NÃO represente um comentário correto no cumprimento desse papel.

Alternativas
Comentários
  • A. O emprego do modo imperativo marcando interlocução como em “escolha uma pizza e fim” (4°§) ERRADO. Há uso do modo imperativo. B. O uso da primeira pessoa do plural como em “conseguíssemos” (2°§) implicando certa equivalência entre enunciador e interlocutor. ERRADO. É utilizado esse recurso, que aproxima o leitor do autor. C. A demarcação gramatical de um interlocutor ao longo do texto por meio dos pronomes “te” e “você”. ERRADO. Várias vezes a autora utiliza tais expressões para, mais uma vez, reforçar a aproximação com quem lê. D. A opção pelo gênero crônica que solicita o emprego de vocábulos mais formais como “lamúrias” (3°§), por exemplo. GABARITO. Não há essa exigência: de que nas crônicas sejam utilizados vocábulos formais.


  • A. O emprego do modo imperativo marcando interlocução como em “escolha uma pizza e fim” (4°§) CERTO. Há o uso do modo imperativo.

    B. O uso da primeira pessoa do plural como em “conseguíssemos” (2°§) implicando certa equivalência entre enunciador e interlocutor. CERTO. Aproxima "Nós conseguíssemos"

    C. A demarcação gramatical de um interlocutor ao longo do texto por meio dos pronomes “te” e “você”. CERTO. Tu e Você (Formal e informal)

    D. A opção pelo gênero crônica que solicita o emprego de vocábulos mais formais como “lamúrias” (3°§), por exemplo. ERRADO. Lamúrias (Formal)

    De maneira geral, encontramos as crônicas narrativas em suportes de circulação como jornais, revistas e livros (coletâneas de crônicas). Os cronistas, assim chamados os escritores de crônicas, relatam os acontecimentos sociais a partir de sua visão crítica sobre os fatos. Em grande parte das crônicas narrativas, é possível encontrar muitas sequências de (diálogo).

    https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/cronica-narrativa.htm

  • d)Não há essa exigência que as crônicas utilizem vocábulos mais formais.

    De maneira geral, encontramos as crônicas narrativas em suportes de circulação como jornaisrevistas e livros (coletâneas de crônicas). Os cronistas, assim chamados os escritores de crônicas, relatam os acontecimentos sociais a partir de sua visão crítica sobre os fatos. Em grande parte das crônicas narrativas, é possível encontrar muitas sequências de (diálogo).

  • Gab, D

    Pelo fato dela estar se aproximando do seu leitor, que podem ser diversos tipos de pessoas, cultas e não cultas, acredito que uma pista da alternativa D é afirmar no uso da linguagem FORMAL, pois pra se alcançar diversos tipos de leitores no caso da crônica dela acredito ser necessário uma linguagem mais INformal ou até mesmo coloquial em alguns casos excepcionais.

    AVANTE

  • A opção pelo gênero crônica que solicita o emprego de vocábulos mais formais como “lamúrias” (3°§), por exemplo.