SóProvas


ID
2588599
Banca
RBO
Órgão
CPTM
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            Cena de trem com moça e jovem de batina


      De todas as comparações sobre o amor, feitas ao longo de 8.000 anos, a mais próxima da essência do sentimento que, segundo Dante, "move o Sol e as outras estrelas", é a de dois trens parados na mesma estação, mas com destinos diferentes.

      Eu em muito criança, nem sabia o que podia ser o amor, li uma pequenina novela de Turgueniev que caíra da estante de livros de meu pai. A capa era atraente: o rosto de uma jovem na janela de um trem. Naquela época, eu era louco por trens, queria ser maquinista da Central do Brasil. Fiquei olhando aquela capa, não por causa da moça, mas por causa do trem.

      Até que li a novela. Para a minha idade, não era grande coisa. Contudo, uma cena ficou marcada dentro de mim, foi talvez a única que entendi realmente - e ela atravessou comigo esses anos todos, nunca a esqueci. Pior: muitas vezes a revivi em causa própria. É talvez a situação mais recorrente de uma vida que pode merecer tudo, menos a classificação de novela.

      Turgueniev conta a história de dois jovens que se enamoram. Um deles é casado. Por isso ou aquilo se separam, nunca mais se veem. Passa o tempo e, um dia, o jovem está num trem que para numa estação. Na plataforma ao lado, há outro trem parado. Após alguns minutos, os dois trens começam a andar, lentamente, em sentido contrário.

      De repente, o jovem vê, na janela do outro trem, a jovem que amou e que também olha para ele. São breves, fugazes, os poucos segundos em que se olham, sem surpresa, sem dor. Ele não sabe para onde vai o trem dela. A recíproca é verdadeira: ela também não sabe para onde o jovem vai. Somente uma coisa é certa: eles se olharam e se compreenderam. Eles se amaram e se amarão sempre. Não importa o destino de cada um. O amor se realiza naquela troca de olhares, que poderá ser a última, nem por isso deixa de ser a mais amargamente doce.

      Tudo que poderia ter sido e não é - eis também uma definição do amor. Ele se realiza de maneira integral nesses instantes fugidios em que as palavras não têm tempo de serem ditas, nem precisam. E que tudo se resume numa conspiração de dois seres que se olham e subitamente se entregam um ao outro de forma imaterial e breve - mas para sempre.

     Como disse, eu era criança quando li a novela de Turgueniev, que se chama "Ássia" - nome da principal personagem. Eu não amara ninguém, até então. Afinal, estava indo para um seminário, já superara a ideia de ser maquinista da Central e queria ser sacerdote de Deus.

      Viver aquela situação seria impossível. Em matéria de amor, eu não teria futuro nem passado - como os dois jovens da novela de Turgueniev, que ao menos tiveram um passado.

      Contudo, ali pela altura dos 18 anos, fui passar férias em Rodeio, uma cidadezinha à beira da estrada de ferro. Todas as manhãs ia à missa no alto de um pequeno morro, tomava café com o vigário. Ele me pedia que descesse à estação para apanhar os jornais que vinham do Rio.

      Naquela manhã, quando cheguei à estação, havia um trem parado, esperando que o sinal de acesso ao túnel 12 fosse aberto. Apanhei os jornais e caminhei pela plataforma vazia. Chamava a atenção dos passageiros, que olhavam aquele rapaz de 18 anos, vestido de batina, a faixa de seda azul na cintura, o passo firme e satisfeito de quem sabia o que desejava na vida.

      Súbito, numa janela do trem, lá estava a moça que me olhava. Devia ter a minha idade, ou menos. Uma tabuleta do lado de fora do vagão indicava que ela estava indo para Juiz de Fora.

      Até hoje, tenho a certeza de que ela olhara antes. Talvez nunca tivesse visto um jovem, da idade dela, de batina. Ainda mais de repente, na plataforma de uma estação perdida na Serra do Mar. Quando senti que ela me olhava, parei de caminhar e enfrentei o seu olhar. De início, parecia apenas espantada ao ver surgir um rapaz, jovem como ela, isolado do mundo pela batina, pela faixa de seda azul que era um estigma da castidade em que vivia.

      Quando notou que eu também a olhava, teve pena de mim. Pelo menos foi isso que percebi. Olhei-a mais fundamente e ela compreendeu. Foi uma eternidade estraçalhada em segundos: o trem começou a andar e ela foi se afastando. Afastou-se tanto que nunca mais voltou.

      Eu voltei. Segui destino diferente, levei os jornais para o vigário, fiquei ainda dois anos com aquela batina, aquela faixa de seda azul, símbolo de uma castidade que eu não mais amava.

      Tomei muitos, infinitos trens pela vida afora, trens, aviões, navios. Volta e meia, continuo vendo por aí um rosto que se detém na minha retina, trazendo-me aquela cena, metade vivida na novela de Turgueniev, metade vivida na plataforma vazia de uma estação, por um jovem que não se julgava com direito ao futuro e à memória.

(Carlos Heitor Cony, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq23079935.htm Acessado em 09/08/2017).

Assinale a alternativa em que as palavras destacadas possuem, respectivamente, o mesmo tempo e modo verbal que as palavras em destaque no trecho abaixo.


Como disse, eu era criança quando li a novela de Turgueniev, que se chama "Ássia" - nome da principal personagem. Eu não amara ninguém, até então.

Alternativas
Comentários
  • a forma verbal "era" está conjugada no pretérito imperfeito do indicativo. Esse tempo indica uma ação que começou e não terminou. Eu era criança e nao deixei de ser. 

     

    No pretérito perfeito do indicativo seria "eu fui criança".

     

     

    Amara está conjugado no pretério mais que perfeito do indicativo. Todo verbo teminado em "ra" sem acento indica que ele está conjugado no pretérito mais que perfeito do indicativo. Só sabendo disso dava pra matar a questão, pois a única alternativa que apresenta o segundo verbo conjugado no pretérito mais que perfeito do indicativo é a letra D.

     

    gabarito letra D pessoal.

     

     

    ad astra et ultra.

  • Acho q analisar o modo primeiro em vez de tempo dá pra resolver mais rápido ainda.

    O gabarito é a letra d).

  • Letra D é a resposta

    Verbos no Pretérito Imperfeito terminados em  ER e IR, fica  IA. Terminados em OR e AR fica AVA. Ex. BATER = BATIA / PARTIR = PARTIA / CANTAR = CANTAVA. O sentido é de uma ação haboitual iniciada no passado e terminanda momentos antes da fala. 

    Verbor com a desinência ARA ou IRA, geralmente estão no Pretérito Mais-que-Perfeito. Possui sentido de uma ação realizada no passado antes de uma outra ação do passado. EX. Eu LIGUEI para meu amor enquanto CAMIARA. 

    Veja que primeiro eu caminhei e depois eu liguei para meu amor. Ambos estão no passado, porém o CAMINHARA é um passado mais que perfeito. 

  • Pretérito imperfeito usa Va I Nha porque já ERA

  • Era, tinha, va, ia (sem R)

  • Fiz a analise morfológica...

    Era: verbo SER - verbo de ligação

    Amara - Verbo

    Estava: Verbo Estar - Verbo de ligação

    Arrumara - verbo

    Os principais verbos de ligação são: serestar, permanecer, ficar, tornar-se, andar, parecer, virar, continuar, viver

  • Pretérito imperfeito --> termina com VA IA NHA ERA

    Pretérito mais que perfeito --> termina com RA

  • A) houvera - pretérito mais-que-perfeito / tenha - presente do subjuntivo

    B) comprasse - pretérito imperfeito do subjuntivo / teria - pretérito imperfeito

    C) imprimir - verbo no infinitivo / será - futuro do presente

    D) estava - pretérito imperfeito / arrumara - pretérito mais-que-perfeito

    E) imporá - futuro do presente / esforçarão - futuro do presente