SóProvas


ID
2594659
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Câmara de Nova Friburgo - RJ
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            Liberdade e igualdade


      O significado tradicional de liberdade – aquele a partir do qual se falava de uma liberdade de culto, ou de pensamento, ou de reunião, ou de associação, em sentido geral e específico, de uma liberdade pessoal – era aquele relacionado à faculdade de se fazer ou não fazer determinadas coisas não impedido por normas vinculantes; era a liberdade entendida como não impedimento, ou liberdade negativa. A esfera da liberdade coincidia com a esfera dos comportamentos não regulados, e, portanto, lícitos ou indiferentes. [...]

      A primeira ampliação do conceito de liberdade ocorreu com a passagem da teoria da liberdade como não impedimento para a teoria da liberdade como autonomia, quando “liberdade” passou a ser entendida não mais apenas como o não ser impedido por normas externas, mas [...] como o obedecer a leis estabelecidas por nós para nós mesmos. Com o conceito de autonomia, a liberdade não consiste mais na ausência de leis, mas sim na presença de leis internamente desejadas e internamente estabelecidas. [...]

      Também o conceito de igualdade é extremamente amplo e pode ser enriquecido por diferentes conteúdos. Tal como ocorreu com a história do direito de liberdade, a história do direito à igualdade também se desenvolveu por sucessivos enriquecimentos. Dizer que nas relações humanas deve ser aplicado o princípio da igualdade significa muito pouco, se não forem especificados ao menos dois aspectos: 1) igualdade em quê? 2) igualdade entre quem? [...]

      Com relação à primeira pergunta, “igualdade em quê? ”, a Declaração Universal (dos Direitos Humanos) responde que os seres humanos são iguais “em dignidade e direitos”. A expressão seria extremamente genérica se não devesse ser entendida no sentido de que os “direitos” sobre os quais fala são precisamente os direitos fundamentais enunciados em seguida. O que na prática significa que os direitos fundamentais enunciados na Declaração devem constituir uma espécie de mínimo denominador comum das legislações de todos os países. É como se disséssemos, em primeiro lugar, que os seres humanos são livres [...], e posteriormente se acrescenta que são iguais no gozo dessa liberdade. [...]

      Com relação à segunda pergunta, “igualdade entre quem”?, a Declaração responde que, no que se refere aos direitos fundamentais, todos os seres humanos são iguais, ou seja, responde afirmando uma igualdade entre todos, e não apenas entre os pertencentes a esta ou àquela categoria. Isto significa que, em relação aos direitos fundamentais enumerados na declaração, todos os seres humanos devem ser considerados pertencentes à mesma categoria. Como tenhamos chegado ao reconhecimento de que os seres humanos, todos os seres humanos, pertencem à mesma categoria em relação aos direitos fundamentais cada vez mais amplos, não pode ser nem de longe resumido. Podemos dizer, contudo, em linhas gerais, que esse ponto de chegada é a conclusão de um processo histórico de sucessivas equiparações diferentes, ou seja, de sucessivas eliminações de discriminações entre indivíduos, que fez desaparecer pouco a pouco categorias parciais discriminantes absorvendo-as em uma categoria geral unificadora. [...] A igualdade entre todos os seres humanos em relação aos direitos fundamentais é o resultado de um processo de gradual eliminação de discriminações, e, portanto, de unificação daquilo que ia sendo reconhecido como idêntico: uma natureza comum do homem acima de qualquer diferença de sexo, raça, religião, etc.

(BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Adaptado.)

O emprego dos elementos de referenciação e retomada (pronomes, repetição dos nomes já empregados ou substituição desses por novos etc.) é um dos recursos que promovem a coesão textual. A sugestão de reescrita, com os necessários ajustes, foi realizada corretamente em:

Alternativas
Comentários
  • "Fazer ou não fazer determinadas coisas = fazer ou não as fazer", acho que a resposta que caberia aqui é que as retoma o sujeito que é determinadas coisas.

  • Bom dia Rodrigo!

    Obrigado pela sua atenção em esclarecer a questão. Mas o ítem (B) Como o obedecer a leis = como o obedecê-las. me gerou certa dúvida. Porque no meu enterder (o obedecer) não está funcionando como verbo e sim como substantivação do verbo (sujeito) visto que verbos não são precedidos de artigo ou preposição (o obedecer) . Temo como me esclarecer essa dúvida.

    Grato!

  • B

    Fazer ou não fazer determinadas coisas = fazer ou não as fazer

  • Acredito que, mesmo com a substantivação do verbo na letra A, a regência deve ser obedecida. Portanto ficaria: "Como obedecer a elas.", tendo em conta que o pronome lhes é aplicado a pessoas e não a "leis".

    A letra B está correta, é o gabarito, mas lembrando que seria possível também colocar o pronome após o verbo, apesar da palavra atrativa, pois o infinitivo permite tal construção: "fazer ou não fazê-las."

    Se não estiver correto, por favor me avisem para eu não sair errando por aí

  • Quem felicita, felicita ALGUÉM. Logo é VERBO TRANSITIVO DIRETO.

    O pronome "lhe" só é usado quando tivermos um OBJETO INDIRETO.

    Com OBJETO DIRETO, temos: o, a, os, as, lo, la, los, las, no, na, nos, nas.

    Verbos com terminações r,s e z usaremos lo, la, los, las.

    E verbo HAVER com sentido de existir será SEMPRE impessoal, não flexionando e permanecendo no SINGULAR.

  • Próclise

    Próclise é a colocação dos pronomes oblíquos átonos antes do verbo. Usa-se a próclise, obrigatoriamente, quando houver palavras atrativas. São elas: 

    • Palavras de sentido negativo: Você nem se preocupou com meus problemas! 

    • Advérbios: Aqui se pode viver tranquilamente.

    • Pronomes Indefinidos: Alguém me telefonou?

    • Pronomes Interrogativos: Que me falta conhecer?

    • Pronomes Relativos: A pessoa que te telefonou não se identificou.

    • Pronomes Demonstrativos Neutros: Isso o comoveu demais.

    • Conjunções Subordinativas: Chamava pelos nomes, conforme se lembrava deles.

    O pronome poderá vir proclítico quando o infinitivo estiver precedido de preposição ou palavra atrativa.

    É preciso encontrar um meio de não o magoar.

    É preciso encontrar um meio de não magoá-lo.

    logo a opção com "fazer ou não as fazer" encontra-se correta por que ocorre a próclise após a palavra atrativa "não" adv de negação.