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ID
2654188
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A questão abaixo refere-se ao texto seguinte.


    Levante a mão quem nunca teve o azar de ser amado pelas razões erradas. Eis uma experiência capaz de produzir a angústia de quem se depara com um duplo de si mesmo: o espelho do olhar do outro te devolve uma imagem que parece sua, mas na qual você não se reconhece. Claro que ninguém ama com objetividade. O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia. Não me refiro, então, à impossibilidade fundamental de complementaridade entre os casais, mas aos encontros que se dão na base do puro mal-entendido. Sentir-se amado por qualidades que o outro imagina, mas não têm nada a ver com você, pode ser muito angustiante. E sedutor. Vale lembrar que a palavra “sedução” indica o ato de desviar alguém de seu caminho: “eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá”.

  Pensava essas coisas de meu lugar na plateia lotada do Credicard Hall (que nome para um teatro, caramba!), onde fui ver o show de uma de minhas cantoras favoritas no momento: Maria Gadú. Com jeito de moleque, encarapitada no banquinho, de onde não desceu para rebolar nenhuma vez, composições muito pessoais que escapam ao clichê romântico e uma rara sofisticação musical, Maria Gadú parecia não se reconhecer diante do público que – vibrava? Não, vibrar seria compreensível. Delirava? Sim; mas o entusiasmo foi muito além disso. O público ululava desde os primeiros acordes de cada canção, que todos sabiam de cor, mas não conseguiam escutar. A energia com que aplaudiam mais parecia uma fúria, que a timidez da artista só fazia excitar mais e mais. Pareciam todos sedentos por uma experiência musical autêntica, promovida por alguém que não vendesse sensualidade barata, e ao mesmo tempo não se conformavam de não conseguir puxar a cantora para o terreno familiar da vulgaridade e do sex appeal.

   Mas estava espantada com a dimensão do sucesso. Como responderá ao apelo de um público que talvez esteja apaixonado por ela pelas razões erradas? Como não se espelhar na imagem banal de pop star que lhe oferecem? O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público para quem sua obra se dirige ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas?

   Ela diz ter com a música uma aliança impossível de desfazer. Sua intuição musical parece capaz de levá-la muito além da próxima esquina, e a sutil entonação dolorida na voz talvez não permita que ela vire uma espécie de Ivete Sangalo paulistana. O CD de estreia é dedicado à avó Cila. A terceira faixa é uma homenagem fúnebre tocante, uma toada em feitio de oração. Como outro grande compositor negro, Gilberto Gil, Gadú se mostra capaz de reverenciar a força de seus ancestrais. “Se queres partir, ir embora / me olhe de onde estiver”, pede para a avó, contando com a ajuda dos orixás. Quem sabe a forte conexão com sua origem a proteja de se transformar em fast food para a voracidade dos consumidores.

(Adaptado de: KEHL, Maria Rita. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011)

O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público para quem sua obra se dirige ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas? (3o parágrafo)

Considere as afirmações a seguir, a respeito do período acima.

I. A vírgula imediatamente após enfrentar pode ser suprimida sem prejuízo para a correção e o sentido da frase.
II. Acrescentando-se uma vírgula imediatamente após público, o período permanece correto, mas o público em questão passa a ter caráter mais abrangente.
III. Pode-se acrescentar uma vírgula após dirige, sem prejuízo da correção e do sentido da frase, uma vez que “ou” é conjunção alternativa.

Está correto o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • Sobre a III

     

    E. Bechara (2002, pág. 609) indica que:

     

    [...] [se emprega vírgula] para separar orações coordenativas alternativas (ou, quer, etc), quando proferidas com pausa:

    Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo.

     

    OBSERVAÇÃO: Vigora esta norma quando ou exprimir retificação:

    Teve duas fases nossa paixão, ou ligação, ou qualquer outro nome, que eu de nome não curo [...]1

     

    Se denota equivalência, não se separa por vírgula o ou posto entre dois termos: Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino.

  • Gabarito - C

     

     

    "O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público para quem sua obra se dirige ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas?"

     

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    I. A vírgula imediatamente após enfrentar pode ser suprimida sem prejuízo para a correção e o sentido da frase. 

     

     

    →   Correto, o termo "na vida artística" tem função de adjunto adverbial de lugar, como o termo se encontra no final da oração, esta vírgula é facultativa.

     

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    II. Acrescentando-se uma vírgula imediatamente após público, o período permanece correto, mas o público em questão passa a ter caráter mais abrangente.

     

     

    →  Errado, para transformarmos a oração subordinada substantiva restritiva em oração subordinada substantiva explicativa, devemos acrescentar 2 vírgulas para isolar o trecho explicativo. Isso faz com que o termo "público" tenha caráter mais abrangente.

     

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    III. Pode-se acrescentar uma vírgula após dirige, sem prejuízo da correção e do sentido da frase, uma vez que “ou” é conjunção alternativa.

     

     

    →  Correto, como já explicado pela colega Nathália. Lembrando que: A vírgula que separa orações coordenadas alternativas é facultativa.

     

     

     

    *  Comentário devidamente corrigido quanto ao item II.

     

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    Confira o meu material gratuito > https://drive.google.com/drive/folders/1sSk7DGBaen4Bgo-p8cwh_hhINxeKL_UV?usp=sharing

  • O erro do item III não é por que precisa de outra vírgula após a palavra "dirige" para se tornar explicativa, cando caráter mais abrangente ao público?

    "O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público , para quem sua obra se dirige , ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas?"

    II. Acrescentando-se uma vírgula imediatamente após público, o período permanece correto, mas o público em questão passa a ter caráter mais abrangente. colocando só uma vírgula o período fica incorreto.

  • Sobre a questão II,

    acho que o erro é que para mudar a oração restritiva para explicativa, devemos acrescentar 2 vírgulas para isolar o trecho explicativo, e não somente 1 vírgula.

  • Aprendi que nas orações coordenadas, com exceção da aditiva (cujo uso é facultativo no caso de sujeitos diferentes), SEMPRE usa-se vírgula... Errei a questão por não ter conhecimento de que:

     

    "[...] [se emprega vírgula] para separar orações coordenativas alternativas (ou, quer, etc), quando proferidas com pausa:

    Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo." (Comentário de Nathalia Alves)

     

    Bons estudos!

  • Sérgio Farias, seu comentário sobre a alternativa 2 está equivocado, o "se" empregado na frase, somado ao VTDI "dirigir" faz com que a oração esteja na voz passiva sintética, cujo sujeito da mesma é "sua obra".

    O erro da assertiva é afirmar que o uso de uma vírgula após "público" seria suficiente, quando séria necessária outra vírgula após "dirige" isolando a oração subordinada adjetiva explicativa.

  •  

    Renato Laurent 

    para quem sua obra se dirige ( PASSIVA)???

     

  • Trt/BA, está na voz passiva sintética.

    Vtdi+se.

    Na voz passiva analítica, ficaria: " Para quem sua obra é dirigida.

    Sujeito passivo: " Sua obra".

  • É isso mesmo, obrigada pela explicação!

  • Essa prova do metrô foi de lascar.

  • Observem:


    I. A vírgula imediatamente após enfrentar pode ser suprimida sem prejuízo para a correção e o sentido da frase. Perfeita!


    O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público para quem sua obra se dirige ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas?


    Como "na vida artística" é um adjunto adverbial e está em sua posição natural que é o final da oração, a vírgula será facultativa.


    II. Acrescentando-se uma vírgula imediatamente após público, o período permanece correto, mas o público em questão passa a ter caráter mais abrangente. Errado!


    Nesse caso seria necessário, um par de vírgulas, somente uma deixaria a oração "mancando".


    III. Pode-se acrescentar uma vírgula após dirige, sem prejuízo da correção e do sentido da frase, uma vez que “ou” é conjunção alternativa. Perfeita!


    A vírgula antes de ou é utilizada para separar orações coordenadas alternativas, bem como para exprimir retificação.


    Letra C.

  • onde seria essa segunda virgula do item 2 das explicações? não consegui entender . se alguém puder indicar, fica aqui o meu muito obrigado .

  • Um sonhador,

    Ficaria assim:

    O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público, para quem sua obra se dirige, ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas? 

    Consegue perceber que “para quem sua obra se dirige” está explicando quem é o público que o artista enfrentaria a resistência?

  • Acho que o erro da ll é faltar outra vírgula pra isolar

  • Em I, a existência da vírgula constitui mero aparato estilístico, sendo facultativa, já que separa adjunto adverbial que está no seu lugar devido, ou seja, no final da oração. Dessa forma, a supressão da vírgula não resulta em incorreção gramatical. A assertiva está correta.

    Em II, caso acrescentemos uma vírgula após “público”, para a manutenção da correção gramatical, seria necessária também uma vírgula após “obra”. Fazendo-se isso, a oração “para quem sua obra se dirige” deixaria de ser restritiva e passaria a ser explicativa. Dessa forma, o público não seria restrito, e sim abrangente. Porém, repitamos: pondo somente vírgula após “público”, a frase ficaria incorreta. Seria necessária mais uma vírgula após “obra”. A assertiva está errada.

    O item está correto, pois a gramática normativa permite o uso de vírgulas antes de conjunções alternativas, como é o caso de “ou”. A assertiva está correta.

  • Se não ler o trecho inteiro, se estrepa.