SóProvas


ID
2664607
Banca
FCC
Órgão
ALESE
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Não faz muito tempo, fui assistir à ópera "As Bodas de Figaro", de Mozart. Lá para o final, o personagem mais importante, Fígaro, faz um retrato cruel das mulheres. Diz: "Abram um pouco os olhos, homens incautos e bobos. Olhem essas mulheres, olhem o que elas são". Segue enumerando: "São bruxas que enfeitiçam para nos deixar sofrendo... São rosas espinhosas, raposas maliciosas, mestras de engano e de angústias, que fingem e mentem, que amor não sentem, não sentem piedade".

      No século 18, quando essa ópera foi composta, a sala toda ficava iluminada. Não se deixava o público no escuro, como hoje. Os cantores podiam então interpelar diretamente a assistência. Na montagem que vi, o diretor de cena teve a ideia de acender as luzes da sala durante a ária de Fígaro, que saiu do palco e dirigiu-se diretamente aos homens presentes.

      Quando ele passava pelo corredor entre o público, uma senhora furiosa levantou-se. Fez o sinal de "não" nas fuças do pobre cantor e retirou-se protestando em voz alta. De início, pensei que fosse parte do espetáculo - hoje em dia, com as montagens modernas, tudo é possível. Mas não, era uma feminista embravecida.

      Ela poderia ter prestado mais atenção. O tema nuclear de "As Bodas de Fígaro" é atual: trata-se de desmascarar, denunciar e punir um poderoso aristocrata que é violento predador sexual.

      Aquela senhora não deu tempo para a conclusão da ópera, não chegou a ver a condenação do conde brutal. Tal suscetibilidade, irritada pela situação em que, injustamente, as mulheres são mantidas em nossas sociedades, é compreensível. Levou-a a partir antes que as acusações de Fígaro contra o gênero feminino fossem desmentidas. Indignou -se cedo demais.

      Indignação: eis o problema. Nunca tive simpatia por essa palavra. Pressupõe cólera e desprezo. Quando estamos sozinhos, a indignação nos embriaga como se fosse uma droga. Arrebata a alma, enfurece as vísceras, dilata os pulmões e nos faz acreditar na veemência do nosso ódio. Viramos heróis justiceiros diante de nós mesmos.

      A solidão indignada faz grandes discursos interiores contra aquilo que erigimos como inimigo. Serve para dar boa consciência. É autossatisfatória. Um prazer solitário. Exaltados, arquitetamos vinganças e reparações. Depois, o balão murcha, sobrando apenas nossa miserável impotência.

      Ao se manifestar na presença de outra pessoa, ou de duas, ou num pequeno grupo, a indignação leva ao descontrole. Nervosos, falamos alto e dizemos coisas que, na calma, jamais pronunciaríamos.

      Quando um de seus heróis se deixa levar pelos discursos coléricos, Homero faz alguém sempre repreender: "Que palavras ultrapassaram a barreira de teus dentes!". Porque não somos mais nós que falamos, mas algo que está em nós e que ocupou nosso corpo esvaziado de qualquer poder reflexivo: a indignação. Assim também ocorre com os jorros furibundos de palavras que inundam as redes sociais.

      A multidão indignada é, por sua vez, uma catástrofe. Tomada por um furacão de pulsões, ela atropela, esmaga, lincha. A indignação trava as forças racionais. Alimentada pelas paixões, usa uma aparência de razão como fole para soprar nas brasas. Está claro, aceita só argumentos que servem a reforçar e ampliar seu domínio. É feita de radicalismos.

Obs. ária: parte de uma ópera executada por voz solista.

                (Adaptado de: COLI, Jorge. Folha de S.Paulo, 4 de fevereiro de 2018, A2)

Não faz muito tempo, fui assistir à ópera "As Bodas de Fígaro", de Mozart.


A frase estará clara e em conformidade com a norma-padrão se o trecho destacado for substituído por:

Alternativas
Comentários
  • Quem é autor, é autor DE alguma coisa. Por isso, a letra D está correta.

  • GABARITO LETRA D.

    fui assistir à ópera da qual Mozart é autor.  ------> observem: Mozart é autor da ópera, por isso que o correto é "da qual Mozart é autor"

    *

    “Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber” (Atos 20:35) 

     

  • Com essas questões de regência eu uso um ''passo a passo'' que aprendi com a Professora Laís do Exército PHD.

     

    1) Procure o pronome relativo

        Nessa questão pensei: O pronome relativo é o ''QUE''

     

    2) O que retomou? ( esse pronome retoma a palavra anterior a ele)

        Observei que retomou: "As bodas de Fígaro"

     

    3) Tente montar um novo período com o que vem após o pronome relativo até encaixar a palavra que ele retomou

        Montando o período: Mozart é autor DAS bodas de fígaro. ( como o colega Lucas falou: quem é autor, é autor DE alguma coisa)

     

    4) Analisar se precisa ou não de PREPOSIÇÃO. Se sim, qual? 

        Percebemos que precisa de preposição. No caso, a alternativa correta é a LETRA D.

     

    Caso não entenda, estamos aqui para ajudar. Bons estudos. FÉ.

  • Uma dica que pode parecer fútil, mas se você não se ater a isso, vai ficar igual cego em tiroteio em questões de pt:

    Se a questão falou: ''de acordo com a regência e a estruturação'' Busque só esses 2 termos.

    Uma exceção a esses pontos enxutos escritos pelo examinador, para respondermos com mais eficácia as questões, são com operadores linguísticos subordinados (adjuntos adverbiais) e cordenados; pois eles podem variar conforme o contexto.

     

  • Assistir À opera DE ALGUÈM = DE Mozart. GAB: D

  • Obrigado, Vitor moraes, vc ajudou muito!


  • Pessoal, apesar de ter errado, agora analisando com calma. Ainda que não soubesse sobre as regras, para qualquer pessoa que tem o hábito de responder questão, acertaria, caso substituísse o termo destacado do comando da questão pelas alternativas. Não teria como errar o gabarito. Vacilo geral, ainda que a questão pareça complexa, estava fácil. 

     

    Não faz muito tempo, fui assistir à ópera "As Bodas de Fígaro",  DA QUAL MOZART é autor. (As outras não soam bem ao ouvido, ainda que nem todos os termos soarão).

     

  • acertei mas fiquei uns minutos olhando, essa questões naõ tem fudamentos 

  • Gab D

    "As Bodas de Fígaro", de Mozart

    "As Bodas de Fígaro", da qual Mozart é autor

    da qual = obra

  • Não faz muito tempo, fui assistir à ópera "As Bodas de Fígaro", de Mozart.

    Ordem inversa:

    Não faz muito tempo, fui assistir à ópera da qual Mozart é autor.

    Ordem direta:

    MOZART É O AUTOR DA OBRA ( OU ÓPERA) "As Bodas de Fígaro" . --> DA QUAL MOZART É AUTOR.

    DA QUAL RETOMA A REGÊNCIA DO SUBSTANTIVO AUTOR, POIS QUEM É AUTOR É AUTOR DE, NESTE CASO, DA OBRA.

    AUTOR DE QUÊ? DA OBRA/ÓPERA = DA QUAL.

  • Esse tipo de questão se vc viajar erra mesmo!