SóProvas


ID
2679238
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Indaiatuba -SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder a questão abaixo.


A última crônica


    A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade, estou adiando o momento de escrever.

    A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso de um poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

    Ao fundo do botequim, um casal acaba de sentar-se numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma menininha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

    Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

    A menininha olha a garrafa de refrigerante e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

    São três velinhas brancas que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve o refrigerante, o pai risca o fósforo e acende as velas. A menininha sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabéns pra você...”. A menininha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

    Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.


(Fernando Sabino. http//contobrasileiro.com.br. Adaptado)

A frase redigida de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa e, ao mesmo tempo, fiel às ideias do texto está na alternativa:

Alternativas
Comentários
  • a) Sentam-se a mesa do botequim para saciar a fome numa refeição festiva uma família de três seres.

    Adjunto adverbial de lugar – ocorre crase. Correto: “à mesa”

     

    b) O garçom pega a fatia de bolo, a coloca cuidadosamente num pratinho e lhe leva até a menininha.

    Quem leva, leva alguma coisa (leva o bolo até a menininha). Não necessita de preposição.

     

    c) A menininha começa à comer alegremente, assim que o garçom ponha o prato à sua frente.

    Não pode crase antes de verbo.

     

    d) O modesto ritual da família à mesa é observado apenas pelo cronista, por ninguém mais.

     

    e) Apesar de a menininha ter ensaiado antes, ela sopra com força e apagam às três velinhas. Parte inferior do formulário

    Quem apaga, apaga alguma coisa – não precisa de preposição.

  • "Ninguém mais os observa além de mim."

     

    D) O modesto ritual da família à mesa é observado apenas pelo cronista, por ninguém mais.

  • Frases com as devidas correções:

    a)Senta-se à mesa do botequim para saciar a fome numa refeição festiva uma família de três seres. 

     b)O garçom pega a fatia de bolo, a coloca cuidadosamente num pratinho e leva-a até a menininha.

     c)A menininha começa a comer alegremente, assim que o garçom pôs o prato à sua frente.

     d)O modesto ritual da família à mesa é observado apenas pelo cronista, por ninguém mais. CORRETO

     e)Apesar de a menininha ter ensaiado antes, ela sopra com força e apaga as três velinhas. 

  • Caso esteja com dúvida! Atente-se para a informação da frase, se está de acordo com o texto.

    Fiquei em dúvida entre a "A" e "D", mas em momento algum o autor cita que a família foi ao botequim para saciar a fome. Que é o que está na letra "A".

  • LETRA D

    (A) Sentam-se a mesa do botequim para saciar a fome numa refeição festiva uma família de três seres.

    Verbos Transitivos Indiretos + se o verbo fica no singular, Senta-se

    (B) O garçom pega a fatia de bolo, a coloca cuidadosamente num pratinho e lhe leva até a menininha.

    O verbo levar é transitivo direto e não usa o lhe, somente se usa lhe em verbos transivos indiretos, Leva-o

    (C) A menininha começa à comer alegremente, assim que o garçom ponha o prato à sua frente.

    Não se usa crase diante verbos no infinitivo, a comer

    (D) O modesto ritual da família à mesa é observado apenas pelo cronista, por ninguém mais.

    à mesa é uma locução adverbial com núcleo feminino, portanto deve haver crase

    (E) Apesar de a menininha ter ensaiado antes, ela sopra com força e apagam às três velinhas.

    Quem apaga, apaga alguma coisa, o verbo apagar é transitivo direto e não se usa crase. Apagam as

  • Neste caso, prescindiu-se a leitura do texto.

  • Pura interpretação de texto.

    Agora que começamos não podemos parar!

  • conheço esse texto tem mais de 20 anos.. e cada vez que leio.. força uma lagrima querendo sair..

  • Nunca nem li. Parem de chorar seus merdas tem como acertar sem interpretar sim.

  • A frase redigida de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa e, ao mesmo tempo, fiel às ideias do texto está na alternativa:

    (A) Sentam-se a mesa do botequim para saciar a fome numa refeição festiva uma família de três seres. ERRADA

    • Verbo transitivo indireto fica no singular quando vier com um pronome apassivador (se)

    Senta-se...

    (B) O garçom pega a fatia de bolo, a coloca cuidadosamente num pratinho e lhe leva até a menininha. ERRADA

    • leva algo (Verbo transitivo direto)

    ...a leva até a menininha

    (C) A menininha começa à comer alegremente, assim que o garçom ponha o prato à sua frente. ERRADA

    • Começa algo (Verbo transitivo direto)
    • Caso proibido de crase diante de verbo

    A menininha começa a comer alegremente...

    (D) O modesto ritual da família à mesa é observado apenas pelo cronista, por ninguém mais. CERTA

    • Locução adverbial feminina

    (E) Apesar de a menininha ter ensaiado antes, ela sopra com força e apagam às três velinhas. ERRADA

    • apagam algo (Verbo transitivo direto)
    • Caso proibido de crase diante de numeral

    ...apagam as três velinhas

    GAB. D