SóProvas


ID
2686258
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Barretos - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Recentemente, acabei me detendo num debate sobre o conceito de reputação. Antes a reputação era apenas boa ou ruim e, diante do risco de ter uma má reputação, muitos tentavam resgatá-la com o suicídio ou com crimes de honra. Naturalmente, todos desejavam ter uma boa reputação.

      Mas há muito tempo o conceito de reputação deu lugar ao de notoriedade.

      O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”. O valor predominante é aparecer e naturalmente o meio mais seguro é a TV. E não é necessário ser um renomado economista ou um médico agraciado com o prêmio Nobel, basta confessar num programa lacrimogêneo que foi traído pelo cônjuge.

      Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação. E não é que as pessoas não almejem uma boa reputação, mas é muito difícil conquistá-la, é preciso protagonizar um ato heroico, ganhar um Nobel, e estas não são coisas ao alcance de qualquer um. Mais fácil atrair interesse, melhor ainda se for mórbido, por ter ido para a cama por dinheiro com uma pessoa famosa ou por ter sido acusado de peculato. Passaram-se décadas desde que alguém teve a vida destruída por ter sido fotografado algemado.

      O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.

      Ora, este frenesi de aparecer (e a notoriedade a qualquer custo, embora o preço seja algo que antigamente seria a marca da vergonha) nasce da perda da vergonha ou perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade).

      Também é sinal de falta de vergonha falar aos berros ao celular, obrigando todo mundo a tomar conhecimento das próprias questões particulares, que antigamente eram sussurradas ao ouvido. Não é que a pessoa não perceba que os outros estão ouvindo, é que inconscientemente ela quer que a ouçam, mesmo que suas histórias privadas sejam irrelevantes.

      Li que não sei qual movimento eclesiástico quer retornar à confissão pública. Claro, que graça pode ter contar as pró- prias vergonhas apenas para o confessor?

(Umberto Eco. Por que só a Virgem Maria? Pape satàn aleppe: Crônicas de uma sociedade líquida. Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)

Nas frases do 3° parágrafo – O que conta é ser “reconhecido”… / “Olhe, é ele mesmo!”. –, as aspas são empregadas, respectivamente, para

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

  • "alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”" >>> indicar uma fala atribuída a outra pessoa - deu a resposta facinho ;)

     

    C) relativizar o sentido da palavra / indicar uma fala atribuída a outra pessoa. 

     

    Bons estudos

  • Embora tenha ficado muito fácil devido ao cunho da segunda parte, poderíamos observar a primeira: "O que conta é ser “reconhecido”… / “Olhe, é ele mesmo!”." Onde "reconhecido" está salientando o relativismo da ideia.  

  • Significado de Relativizar:

    (verbo transitivo direto e pronominal)

    Descrever algo relacionando uma coisa com outra; não admitir ou tomar como absoluto, completo, restrito: relativizar um problema; as questões se relativizaram com a nova teoria. Tratar ou descrever uma coisa negando-lhe caráter absoluto ou independente, considerando-a, portanto, como de importância ou valor relativo.

    Etimologia (origem da palavra relativizar). Relativo + izar.

  • Questão dificil...

  • Podemos ainda descartar as questões A, C e D, pois trazem praticamente a mesma ideia (intensificar, acentuar e realçar). Pelo menos foi essa ideia que me ajudou a acertar. rs!

  • “Olhe, é ele mesmo!", concordo que se refere a fala de um terceiro, mas a expressão "reconhecido" não está indicando uma fala atribuída a outra pessoa.

  • Toda questão que tem um pouco (ou bastante) de carga de subjetividade, por parte de quem a elabora,é ,de certa forma, difícil.

    Recordo-me de uma aula do Professor Pablo Jamilk, em que ele fala justamente dessa questão e diz mais ou menos assim:

    No processo de interpretação de um texto/trecho há 3 "canais de interpretação"(Expressão minha):

    1) A intenção de quem escreveu o texto;

    2)A interpretação de quem leu o texto e elaborou a questão;

    3)A interpretação de quem leu o texto e precisa respondê-la.

    O problema surge,justamente, quando há divergências entre as interpretações. Porém, para fins de concursos público, o que nos interessa é que nossa interpretação esteja de acordo,obviamente, com a do segundo agente do processo.

    Quem já está há um tempo nesse processo de estudos,por exemplo, com certeza já encontrou casos em que,claramente, o autor do texto diz algo, porém no gabarito da questão o elaborador "deu uma forçada de barra" e atribuiu um gabarito "estranho"à questão.

  • QUESTÃO DIFÍCIL, MAS BOA PARA TRABALHAR OS SENTIDOS

  • Em 23/08/19 às 09:04, você respondeu a opção E.

    Você errou!

    Em 04/12/18 às 10:17, você respondeu a opção A.

    Você errou!

    Em 26/06/18 às 10:32, você respondeu a opção E.

    Você errou!

    Pior que dessa vez fiquei entre E e C. Treino difícil jogo fácil!

  • Questão fácil

    " indicar uma fala atribuída a outra pessoa." 100% correto, é o que basta.

    Gabarito: C