SóProvas


ID
2691679
Banca
FCC
Órgão
SABESP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.


      O filósofo sempre foi considerado um personagem bizarro, estranho, capaz de cair num poço quando se embrenha em suas reflexões − é o que contam a respeito de Tales (cerca de 625-547 a.C.). O primeiro filósofo, segundo a tradição grega, combina enorme senso prático para os negócios com uma capacidade de abstração que o retira do mundo. Por isso é visto como indivíduo dotado de um saber especial, admirado porque manipula ideias abstratas, importantes e divinas. No fundo não está prefigurando as oposições que desenharão o perfil do homem do Ocidente? O divino Platão e o portentoso Aristóteles fizeram desse estranhamento o autêntico espanto diante das coisas, o empuxo para a reflexão filosófica.

      Nos dias de hoje essa imagem está em plena decadência; o filósofo se apresenta como um profissional competindo com tantos outros. Ninguém se importa com as promessas já inscritas no nome de sua profissão: a prometida amizade pelo saber somente se cumpre se a investigação for levada até seu limite, cair no abismo onde se perdem suas raízes. A palavra grega filosofia significa “amigo da sabedoria”, por conseguinte recusa da adesão a um saber já feito e compromisso com a busca do correto.

      Em contrapartida, o filósofo contemporâneo participa do mercado de trabalho. Torna-se mais seguro conforme aumenta a venda de seus livros, embora aparente desprezar os campeões de venda. Às vezes participa do jogo da mídia. Graças a esse comércio transforma seu saber em capital, e as novidades que encontra na leitura de textos, em moeda de troca. Ao tratar as ideias filosóficas como se fossem meras opiniões, isoladas de seus pressupostos ligados ao mundo, pode ser seduzido pela rigidez de ideias sem molejo, convertendo-se assim num militante doutrinário. Outras vezes, cai nas frivolidades da vida mundana. Não vejo na prática da filosofia contemporânea nenhum estímulo para que o estudioso se comprometa com uma prática moral e política mais consciente de si mesma, venha a ser mais tolerante às opiniões alheias.

      Num mundo em que as coisas e as pessoas são descartáveis, a filosofia e o filósofo também se tornam dispensáveis, sempre havendo uma doutrina ou um profissional capaz de enaltecer uma trama de interesses privados. A constante exposição à mídia acaba levando o filósofo a dizer o que o grande público espera dele e, assim, também pode usufruir de seus quinze minutos de celebridade. Diante do perigo de ser engolfado pela teia de condutas que inverte o sentido original de suas práticas, o filósofo, principalmente o iniciante, se pretende ser amante de um saber autêntico, precisa não perder de vista que assumiu o compromisso de afastar-se das ideias feitas − ressecadas pela falta da seiva da reflexão − e de desconfiar das novidades espalhafatosas. Se aceita consagrar-se ao estudo das ideias, que reflita sobre o sentido de seu comportamento.

(Adaptado de: GIANNOTTI, José Arthur. Lições de filosofia primeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, edição digital) 

A respeito do 1° parágrafo, afirma-se corretamente:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C

    "Segundo" e "conforme" são conjunções subordinativas conformativas, assim como "consoante" e "como".

  • a) ERRADA. O segmento quando se embrenha em suas reflexões pode ser substituído por “ao passo que em pensamentos se perdem”.

    O verbo deveria estar no singular, flexionado de acordo com seu sujeito ' O filosófo.....se perde '.

     

    c) CORRETA. O segmento segundo a tradição grega pode ser substituído por “conforme dita a tradição grega”, sem prejuízo do sentido. 

    As conjunções em destaque são equivalentes quanto ao sentido.

     

    e) ERRADO. Sem prejuízo do sentido e da correção gramatical, o segmento é o que contam a respeito de Tales pode ser substituído por “é o que se relatam sobre Tales”. 

    A partícula 'se' deixa o sujeito indeterminado, motivo pelo qual o verbo não pode ser flexionado. O correto seria 'que se relata sobre'.

     

    Qualquer erro, enviar no privado. ;)

     

     

  • O erro da a, ao meu ver, é que  a conjunção "ao passo que" é  proporcional e "quando" é uma conjunção temporal.

  • Alguém sabe dizer o erro da letra "b"?

  • Ni Bering,

     

    Segundo a professora Flavia Rita, pergunta retórica não objetiva resposta, mas apenas estimula a reflexão do leitor sobre determinado assunto. Normalmente, a pergunta traz em si mesmo a resposta, como no exemplo a seguir:

    "é justo enquanto você estuda seu marido ficar bebendo no bar?"

     

    Veja que no exemplo acima o ponto de interrogação pode ser retirado, pois a pergunta tem caráter retórico, isto é, não objetiva resposta, mas apenas leva o leitor à reflexão. Isso não acontece, por exemplo, com a alternativa "B", na qual o ponto de interrogação NÃO foi usado com caráter retórico, mas para fazer uma pergunta direta dentro do texto. 

  • Sobre a II:

     

    Na minha humilde opinião, a justificativa da Prof. Flavia Rita, apresentada pela colega Ieda Oliveira, não convenceu. Retirando a interrogação da frase exemplificada "é justo enquanto você estuda seu marido ficar bebendo no bar?" alteraria completamente o sentido, visto que, passaria a ideia de que a pessoa acha mesmo justo o marido ficar bebendo no bar enquanto você estudaBuscando entender melhor o erro da II, encontrei a explicação de um exercício similar e achei relevante. Por isso, compartilho com vocês:

     

    QUESTÃO COMENTADA DE PORTUGUÊS
    ( FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12a REGIÃO - 2013)

    Atente para o que se afirma abaixo a respeito da pontuação empregada no texto.

     

    I. É uma escolha que deveria nos deixar mais livres. (2o parágrafo)
    Uma vírgula pode ser inserida imediatamente após que, sem prejuízo para a correção.
    II. No segmento cada um era definido por sua proveniência, e as perguntas iniciais diziam.. (1o parágrafo) a vírgula pode ser suprimida, sem prejuízo para a correção.
    III. Quem foram seus pais e antepassados?
    Onde você nasceu? Quais são as dívidas que você herdou? (início do texto)
    Os pontos de interrogação podem ser suprimidos, sem prejuízo para a correção e o sentido, pois as perguntas feitas nas frases acima são retóricas.

     

    Está correto o que se afirma APENAS em
    (A) III.
    (B) I e II.
    (C) II e III.
    (D) I e III.
    (E) II.

     

    RESPOSTA: (B)
    Em I, a oração que se inicia com o "que" é adjetiva, já que se trata de um pronome relativo. Sabe-se que as orações adjetivas não virguladas são de valor restritivo. Colocada a vírgula, elas passam a ser explicativas, alternando, assim, o sentido. Entretanto a alternativa fala "correção" e esta não se altera.

     

    Em II, a vírgula antes do "e"´ pode ser usada, porque está unindo orações de sujeitos diferentes, Só que, quando isso ocorre, ela é facultativa. Assim, sua retirada não altera a correção.

     

    Em III, se forem retiradas as interrogações, as frases (mesmo retóricas) perdem o caráter de pergunta, de reflexão e passam a ser afirmações. A correção vai se prejudicar.

     

    fonte: Prof. Ricardo ERSE (https://www.facebook.com/RicardoErsePortugues/posts/663159267058073)

     

  • Errei, me empolguei quando vi a letra B e sequer li o restante...
    Preciso aprender a não me precipitar!! ¬¬

  • Conjução conformativa: (Segundo, Conforme, Consoante).  Letra (C).

  • Eu acho que a "B" está errada porque se você tirar a interrogação ela deixa de ser uma pergunta e se transforma numa afirmação, alterando o sentido original.

    O erro não se relaciona com o fato dela ser uma pergunta retórica (que é aquela que busca reflexões, e não respostas). 

  • Erro B: não se retira ponto de interrogação de perguntas diretas ou retóricas.

    Perguntas indiretas não exigem ponto de interrogação.