TEXTO I
Um povo que acolhe e rejeita
O clichê patriótico de que o Brasil é aberto e cordial não sobrevive a dez minutos de conversa com um desses imigrantes que aportaram no país nos últimos cinco anos. Quando a acolhida calorosa aos estrangeiros - que também existe, é claro - e a repulsa são postas em uma balança imaginária, o sentimento negativo é o que mais pesa no Brasil de hoje.
Xenofobia é o medo, a antipatia ou a desconfiança em relação a pessoas que vêm de fora do país. A xenofobia à brasileira, no entanto, tem peculiaridades únicas. Ao contrário do que ocorre em outras nações, não há, por aqui, pichações nos muros pedindo a saída dos imigrantes. Tampouco existem partidos políticos que incluam isso em seus programas de governo. Ataques violentos contra estrangeiros são raros e, quando ocorrem, (...) quase nunca são premeditados. (...). Manifestações xenófobas são esporádicas, fugazes e desorganizadas. Estão em pequenos gestos cotidianos que só os estrangeiros percebem. Tudo isso decorre de uma vantagem da miscigenação brasileira: a pouca importância que a questão étnica tem na sociedade. (...).
Talvez por isso a hospitalidade brasileira seja claramente seletiva. A rejeição a estrangeiros é maior em relação a pessoas de países pobres ou em desenvolvimento. Se esses imigrantes ou refugiados têm boa qualificação profissional e competem por vagas informais ou de salários baixos, a aversão é mais forte. (...) Por outro lado, quando os estrangeiros chegam de países desenvolvidos para ocupar vagas com bons salários, ganham a alcunha de "expatriados" e são recebidos com admiração. (...).
A recepção de estrangeiros com dois pesos, duas medidas não é novidade na história brasileira. Ela apenas foi exacerbada pelas novas ondas migratórias, que começaram a ganhar volume em 2010, depois do terremoto que destruiu o Haiti. (...).
Com reportagem de Luisa Bustamante e Luiza Queiroz Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2018, edição nº 2570
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