SóProvas


ID
2712676
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            Texto I


                              O Aleph e o Hipopótamo I

                                                                                             Leandro Karnal


      O tempo é uma grandeza física. Está por todos os lados e em todos os recônditos de nossas vidas. Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada. Há dias em que o tempo não passa, anda devagar, como se os ponteiros do relógio (alguém ainda usa modelo analógico?) parecessem pesados. Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens. Tal é o tempo da sala de espera para ser atendido no dentista ou pelo gerente do banco, por exemplo.

      Em compensação, há o tempo que corre, voa, falta. Em nosso mundo pautado pelo estresse, por mais compromissos que a agenda comporta, a sensação de que a areia escorre mais rápido pela ampulheta é familiar e amarga. O tempo escasseia e os mesmos exatos 60 minutos que a física diz que uma hora contém viram uma fração ínfima do tempo de que precisamos.

      Vivemos um presente fugidio. Mal falei, mal agi e o que acabei de fazer virou passado, parafraseando o genial historiador Marc Bloch. Não é incomum querermos que o presente dure mais, se estique, para que uma faísca de felicidade pudesse viver alguns momentos mais longos.

      Se o presente é esse instante impossível de ser estendido, o passado parece um universo em franca expansão. Quanto mais envelhecemos, como indivíduos e como espécie, mais passado existe, mais parece que devemos nos lembrar, não nos esquecer. Criamos estantes com memorabilia, pastas de computador lotadas de fotos, estocamos papéis e contas já pagas, documentos. Criamos museus, parques, tombamos construções, fazemos estátuas e mostras sobre o passado.

      E o futuro? Como nos projetamos nesse tempo que ainda não existe… “Pode deixar que amanhã eu entrego tudo o que falta”; “Semana que vem nos encontramos, está combinado”; “Apenas um mês e… férias!”; “Daqui a um ano eu me preocupo com isso”. Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido. E tudo o que é sólido se desmancha no ar, não é mesmo? Ah, se pudéssemos ao menos ver o tempo, senti-lo nas mãos, calculá-lo de fato! [...]

      Saber sobre tudo que possa vir a ocorrer é um grande desejo. Ele anima as filas em videntes e debates sobre as centúrias de Nostradamus. Infelizmente, pela sua natureza e deficiência, toda profecia deve ser vaga. “Vejo uma viagem no seu futuro”, afirma a mística intérprete das cartas. Jamais poderia ser: no dia 14 de março de 2023, às 17h12, você estará no Largo do Boticário, no Rio de Janeiro, lendo o conto A Cartomante, de Machado de Assis. Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado.

      Entender o passado em toda a sua vastidão e complexidade, perceber o quanto ele ainda é presente, é o sonho de todos os historiadores, desejo maior de todos os que lotam os consultórios de psicólogos e psicanalistas. [...] Ao narrar o que vi e vivi, dependo da memória. Aquilo de que nos lembramos ou nos esquecemos nem sempre depende de nossa vontade ou escolhas. Quando digo: quero me esquecer disso ou daquilo, efetivamente estou me lembrando da situação. Alguns eventos são tão traumáticos que, como esquadrinhou Freud um século atrás, são bloqueados pela memória. Escamoteados pelo trauma, ficam ali condicionando nossas ações e não ações no presente. [...]

(Adaptado de https://entrelacosdocoracao.com.br/2018/03/o-aleph -e-o-hipopotamo-i/ - Acesso em 26/03/2018)

De acordo com o texto I, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • CORRETA E

    "O tempo é uma grandeza física. Está por todos os lados e em todos os recônditos de nossas vidas. Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada. Há dias em que o tempo não passa, anda devagar, como se os ponteiros do relógio (alguém ainda usa modelo analógico?) parecessem pesados."

  • A) Há uma relação dialética entre passado e presente, em que a percepção temporal se dá de maneira semelhante, já que ambos estão em intenso alargamento. ERRADO. A perceção temporal não se dá de maneira semelhante. "Se o presente é esse instante impossível de ser estendido, o passado parece um universo em franca expansão". 

    B) Fatos traumáticos são recalcados pela memória e, assim, não interferem nas vivências conscientes dos indivíduosERRADO. "Escamoteados pelo trauma, ficam ali condicionando nossas ações e não ações no presente".

    C) Se fosse possível saber fortuitamente do futuro, as pessoas agiriam para que as previsões não se concretizassem, uma vez que seriam predições detalhadas. ERRADO.  "Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado".

    D) Embora o futuro seja dubitável, os indivíduos o planejam como algo palpável. A causa desse hábito humano está na percepção volúvel da velocidade de passagem do tempoERRADO. "Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido".

    E) CERTO. Conforme comentário da Mônica C.

  • Texto absolutamente longo  para cansar e perder muito tempo nas questões .

    #oremos para ter concentração e calma

  • Eu concordo que a alternativa E esteja correta, mas não consigo vê o erro na D. Para mim existem duas resposta corretas

    Analisando a alternativa D, cheguei a essa conclusão:

    d)Embora o futuro seja dubitável, ("Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada.") os indivíduos o planejam como algo palpável. ("Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido.") A causa desse hábito humano está na percepção volúvel da velocidade de passagem do tempo. ( "...os mesmos exatos 60 minutos que a física diz que uma hora contém viram uma fração ínfima do tempo de que precisamos."/ "Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada.")

    Alguém pode me explicar porque a D está errada?

  • Lucia Machado, de fato a letra D aparentemente possui redação correta.

    Contudo, o autor do texto não faz menção à "percepção volúvel da velocidade de passagem do tempo."

  • Luciana Machado, apenas complementando o que a Rose Matos explicou, na alternativa D diz que "a causa desse hábito humano está na percepção volúvel de passagem do tempo", no entanto, no texto diz que arquitetamos um tempo incerto como algo sólido.

     

    Volúvel: algo instável, variável. Sentido oposto de sólido.

  • Tive a mesma percepção da Luciana Machado. Na minha opinião, não existe erro na alternativa D.

  • O erro da letra D é extrapolação da interpretação do texto, não se devem fazer inferências se não forem pedidas, o enunciado diz "de acordo com o texto", portanto é procurar explicitamente.


    "causa desse hábito humano está na percepção volúvel da velocidade de passagem do tempo." Não há passagem que confirme essa conclusão, para mim, dá para inferir que a causa do hábito é a conclusão das tarefas futuras ; “Pode deixar que amanhã eu entrego tudo o que falta”; “Semana que vem nos encontramos, está combinado”; “Apenas um mês e… férias!”; “Daqui a um ano eu me preocupo com isso”. Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido.

    Arquitetamos o futuro, porque há afazeres.

  • gostaria de saber o porquê da letra D está errada!

  • Essa banca é bizonha. PQP.

    Não tem a mínima lógica de ser a letra E.

    A resposta está explicita no texto no parágrafo quinto;

    E o futuro? Como nos projetamos nesse tempo que ainda não existe… Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido.

    Letra D é a resposta correta. Está de forma clara no texto.

    Ninguém entrou com recurso, só pode!!!

  • A. Passado e Presente NÃO estão em uma percepção temporal semelhante.. ERRADO

    B. Fatos traumáticos são recalcados pela memória e, assim, INTERFEREM nas vivências conscientes dos indivíduos. ERRADO

    C. O texto fala exatamente o contrário (Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado). ERRADO

    D. Nós não temos o futuro como algo palpável, pelo contrário, ele é algo incerto, impreciso. ERRADO

    E. A percepção humana do tempo é variável. A noção de seu decorrer depende da atividade que o envolve ou que dele depende.CERTO

  • Que questão D E L I R A N T E!

  • Eu também respondi a D

    Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido.

    Embora o futuro seja dubitável, os indivíduos o planejam como algo palpável.

  • a) Há uma relação dialética entre passado e presente, em que a percepção temporal se dá de maneira semelhante, já que ambos estão em intenso alargamento.

    A percepção temporal de passado e presente é diferente: "Vivemos um presente fugidio. ... Não é incomum querermos que o presente dure mais, se estique, para que uma faísca de felicidade pudesse viver alguns momentos mais longos." - presente visto como algo fugaz, mais veloz.

    "Se o presente é esse instante impossível de ser estendido, o passado parece um universo em franca expansão." - passado visto como algo prolongado, em expansão.

    b) Fatos traumáticos são recalcados pela memória e, assim, não interferem nas vivências conscientes dos indivíduos.

    Os fatos traumáticos realmente se escondem nas memórias, mas eles interferem na ações e decisões dos indivíduos. "Escamoteados pelo trauma, ficam ali condicionando nossas ações e não ações no presente."

    c) Se fosse possível saber fortuitamente do futuro, as pessoas agiriam para que as previsões não se concretizassem, uma vez que seriam predições detalhadas.

    De acordo com o texto, se as pessoas soubessem o futuro detalhadamente, poderiam agir para que a tal previsão se concretizasse. "Claro que mesmo uma predição detalhada seria problemática, pois, dela sabendo, eu poderia dispor as coisas de forma que acontecessem como anunciado."

    d) Embora o futuro seja dubitável, os indivíduos o planejam como algo palpável. A causa desse hábito humano está na percepção volúvel da velocidade de passagem do tempo.

    O primeiro período está de acordo com o texto: "Um cotidiano voltado para um tempo incerto, mas que arquitetamos como algo sólido". No entanto, em nenhum momento o autor diz que o que faz os indivíduos planejarem o futuro incerto como algo palpável é a percepção instável da velocidade que o tempo passa. Houve uma extrapolação, pois apesar de o texto abordar sobre a percepção da passagem do tempo, o autor não diz que essa seria a causa de as pessoas planejarem o futuro como algo palpável. Perceba que ele nem menciona o que as leva a ter essa atitude (o que seria o motivo, a causa), mas ele apenas complementa a ideia dizendo que esse tal planejamento palpável ou sólido não é tão certo assim, pois até esse planejamento do futuro pode ser desfeito. Veja: "E tudo o que é sólido se desmancha no ar, não é mesmo?"

    e) A percepção humana do tempo é variável. A noção de seu decorrer depende da atividade que o envolve ou que dele depende.

    "Dizemos que temos tempo de sobra para algumas coisas ou, às vezes, que não temos tempo para nada"

    "... Arrastam-se como se houvesse bolas de ferro em suas engrenagens. Tal é o tempo da sala de espera para ser atendido no dentista ou pelo gerente do banco, por exemplo.

       ... Em nosso mundo pautado pelo estresse, por mais compromissos que a agenda comporta, a sensação de que a areia escorre mais rápido pela ampulheta é familiar e amarga. O tempo escasseia e os mesmos exatos 60 minutos que a física diz que uma hora contém ..."

  • Justificativas

    A) Errada. O passado parece sempre aumentar enquanto o presente parece sempre fugir, se reduzir, tornar-se escasso

    B) Errada. O autor afirma que os fatos passados condicionam algumas ações nossas, no presente

    C) Errada. A afirmação que foi feita no texto é justamente a oposta

    D) Errada. A causa de os seres humanos planejarem o tempo não pode ser atribuída à fugacidade do tempo. Não há nada no texto que justifique essa afirmativa: erro de extrapolação.

    E) Correta. Tá de acordo com o escrito nos dois primeiros parágrafos.

  • Hipopótamo