SóProvas


ID
2712706
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            Texto II


      [...] Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo que é hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se o último final da tarde fosse mancha de sangue e ouro quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o primeiro esgar da noite que, sim, sim, era funda e faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber se atravessaria a rua pois sua vida já estava mudada. E mudada por palavras — desde Moisés se sabe que a palavra é divina. Até para atravessar a rua ela já era outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma, isso significava uma perda que valia por um ganho. Assim como havia sentença de morte, a cartomante lhe decretara sentença de vida. Tudo de repente era muito e muito e tão amplo que ela sentiu vontade de chorar. Mas não chorou: seus olhos faiscavam como o sol que morria. Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.

      Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta. E da cabeça um fio de sangue inesperadamente vermelho e rico. O que queria dizer que apesar de tudo ela pertencia a uma resistente raça não teimosa que um dia vai talvez reivindicar o direito ao grito. [...]

(Excerto adaptado e extraído da obra “A Hora da Estrela”. LISPECTOR, Clarice. 23ª edição. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.)

De acordo com o texto II, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Sinceramente não entendi o erro da letra D. 

     

    Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo que é hora de ninguém. 

    E mudada por palavras — desde Moisés se sabe que a palavra é divina.

    E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a — e neste mesmo instante em algum único lugar do mundo um cavalo como resposta empinou-se em gargalhada de relincho.

    Quanto a letra E: Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez! ( Entendo como se  o Destino houvesse sussurrado para Macabea e não ela falando ao ver proproriamente a Mercedes. )

    Alguém poderia me esclarecer tais questionamentos, por favor. 

     

  • O erro da D é que nem todos os usos são de natureza explicativa. Alguns são interferentes - comentários alheios da própria autora (como esse parenteses que estou fazendo nesse exato momento).

    O travessão utilizado por mim é uma explicação e o parenteses é uma oração interferente.

  • Perceba que no travessão que fala do cavalo, não há uma explicação de algum termo no texto. Ou seja, a D está incorreta.

  • O erro da alternativa "D" é justamente a expressão "TODOS" logo no início da alternativa. Nem todas todos os travessões utilizados no excerto servem para inserir comentários do narrador de tom explicativo, a fim de elucidar e amplificar as percepções do leitor diante da descrição da cena narrada.

    É de bom tom que saibamos a utilização correta e o momento ideal quando de sua utilizaçao :)

    Por eliminação, alternativa "A" (alternativa correta).

  • Alguém poderia explicar o erro da "E"?

  • Com relação ao erro da E, conforme o colega perguntou abaixo, eu entendi que o erro da alternativa está em dizer que o trecho: "é agora é já, chegou a minha vez!” representa a fala de Macabéa ao ver a Mercedes chegando em sua direção, quando na verdade, pelas palavras usadas, me parece que foi no momento do impacto. Palavras: explosão, pegou-a. Eu interpretei assim. Compare coma parte do texto abaixo:  

    "Então ao dar o passo de descida da calçada para atravessar a rua, o Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez! E enorme como um transatlântico o Mercedes amarelo pegou-a." 

  •  O Destino (explosão) sussurrou veloz e guloso: é agora é já, chegou a minha vez!

    Não foi a garota que sussurrou tais palavras mas as mesmas foram ditas pra ela, assim como

    uma voz na sua memória. Uma espécie de Personificação ou prosopopéia.

  • O ERRO DA LETRA "D" É POR CAUSA DA EXTRAPOLAÇÃO QUE A BANCA FEZ, POIS NÃO SÃO TODOS OS COMENTÁRIOS ENTRE TRAVESSÕES QUE TEM O TOM EXPLICATIVO.

    O ÚLTIMO TRAVESSÃO RELATA APENA UM ACONTECIMENTO.

  • RESP. A

    Alguns elementos textuais que compõem a descrição da cena formam um campo semântico voltado à melancolia e ao findar da vida, como o “crepúsculo”, o “final da tarde”, a “mancha de sangue” e o “sol que morria”.

     

    De fato esses e outros termos no texto levam o leitor a inferir, subentender a morte 

  • Justificativas

    A) Correta. Pode-se entender, pelo contexto, que todos os elementos citados podem ser usados para descrever situações melancólicas, tristes e dramáticas. A morte é uma situação melancólica, triste e dramática

    B) Errada. Ao meu ver, o texto não retrata uma situação hipotética mas algo que aconteceu de fato na vida da personagem

    C) Errada. É justamente o contrário. Todo o contexto mostra que a personagem era uma "sofredora" e que buscava ouvir algo que lhe aplacasse o seu sofrimento rotineiro

    D) Errada. Nem todos os travessões inserem falas com tom explicativo

    E) Errada. Essa fala não tem relação direta com a chegada da Mercedes.

    Não sei como explicar 100% a alternativa B. Se alguém souber explicar melhor, complementa aê! Abraços!

  • A) Por eliminação é a mais correta. Tudo que remete ao fim (no texto) pode lembrar a morte.

    B) Presente do subjuntivo geralmente indica: dúvida, incerteza... ela não sabia de fato o que estava sentindo.

    “[...] Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero.”.

    C) Bater a cabeça descreve um tratamento humano? A cartomante bagunçou a cabeça dela, logo depois foi atingida por um carro de luxo, ficou sem socorro... Não houve tratamento humano da parte de ninguém.

    D)"Todos" geralmente indica extrapolação.

    E) A fala é do "Destino" e não da Macabéa.

    Foi o que eu entendi.