SóProvas


ID
2713246
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.


Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.


      Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam.


      A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.


      Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.


(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017) 

Caso a oração sublinhada no segmento ... nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e [...] a avaliar mal sua dimensão de pensamento... (2° parágrafo) seja subordinada à anterior, atribui-se um sentido adequado ao contexto em:

Alternativas
Comentários
  • gab letra c 

     

    No contexto, a frase tem idéia de consequência, assim, apenas a assertiva C atende ao comando da questão, trazendo uma redação correspondente ao sentido original da frase .

     

    "Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento." (a tal ponto que, de modo que, de mandeira que) - Relação de  O FATO DE ... FAZ COM QUE ...

     

    Conjuções consecutivas: que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, tanto que, tal que,  de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que, etc

  • fui de letra D por causa do "nos leva a tomá-los muito a sério" == demasiadamente a sério

  • Subordinação: orações dependentes sintaticamente; substantiva, pode-se colocar isto ou disto antes da conjunção (sendo assim, haverá oração principal sem conjunção, conjunção integrante e oração subordinada substantiva – são substantivas a subjetiva, objetiva direta, objetiva indireta, predicativa, completiva nominal e apositiva; adjetiva, o pronome relativo liga a oração principal à subordinada (explicativa possui pontuação e restritiva não possui pontuação); adverbial indica circunstância da oração principal, classificando-se em causal (por quê?), consecutiva (de modo que), condicional (se, caso), concessiva (embora, apesar de), comparativa, conformativa (conforme), final (para quê?), proporcional (à proporção que) e temporal.

    Abraços

  • Gab. C  

     

    Como bem exemplificado pela amiga @Nathália, o sentido é consequência.

        

    Vamos analisar o restante?

        

    A – Comparação e preferência.

    Lembrando que: Preferir pede preposição “a”, “do que” ou “mais” estão errados

        

    B – Adição.

    Nos levar a isso, quanto[e] aquilo.

      

    C – Gabarito e já foi pontuado. Só uma observação, eu trocaria o "avaliemos" por "avaliamos". Acho que fica melhor, opinião pessoal. E como não é o que foi pedido, devemos ignorar o fato.

      

    D – Conclusão.

    Não há essa ideia, pois o avaliar mal não é conclusão de tomar em demasiado.

      

    E – Finalidade.

    Não há essa relação. Avaliar não é a finalidade de tomar a sério.

       

    Essas foram minhas análises ao longo da resolução. Erros ou dúvidas, mande msg. Abraço.

  • O que está sublinhado?

  • Para aqueles que estão perguntando o que está sublinhado:

     

    Caso a oração sublinhada no segmento ... nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e [...] a avaliar mal sua dimensão de pensamento... 

  • Não fica com um sentido adequado ao contexto. Nos levar a tomá-los a sério ≠ de tomá-los muito a sério.

  • Gab: C

     

    Eu também ia na D pelo texto estar escrito ...a tomá-los MUITO “a sério”, uma vez que não levamos só a sério, levamos MUITO a sério, e na alternativa D estar "demasiadamente", que são sinônimos. A conjunção portanto é conclusiva, o que não condiz com o trecho do texto que me deu ideia de causa e consequência. vejam...

     

    Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam (provocam, produzem, ocasionam) os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Pelo fato de levarmos muito a sério o que os mitos fazem ou falam (causa), avaliamos mal a dimensão de seus pensamentos (consequência).

     

    Se eu estiver errada me corrijam. :)

  • Comentário: A oração “a avaliar mal sua dimensão de pensamento” transmite o efeito, o resultado de “corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez”. Note que a conjunção coordenativa aditiva “e” tem um papel secundário de conclusão. Assim, entendemos haver uma relação de causa e efeito entre esses dois segmentos.
    Como a questão pede que a segunda oração seja subordinada à primeira, temos que transformá-la em oração subordinada adverbial consecutiva.
    Assim, a alternativa correta é a (C), tendo em vista haver o intensificador “tal” e a conjunção consecutiva “que”:
    ...nos levar a tomá-los “a sério” desta vez a tal ponto que avaliemos mal sua dimensão de pensamento
    Na alternativa (A), a expressão “mais...do que” tem valor adverbial comparativo.
    Na alternativa (B), a expressão “tão...quanto” tem valor coordenativo aditivo.
    Na alternativa (D), a conjunção “portanto” é coordenativa conclusiva.
    Na alternativa (E), a locução conjuntiva “para que” tem valor subordinativo adverbial de finalidade.
    Gabarito: C

    DÉCIO TERROR

    ESTRATÉGIA

  • Fui na C justamente porque faltou o "tão"; mas vejam, ele foi substituído pelo " a tal ponto"; e de fato, a relação entre as duas é de consequência.

    A TAL PONTO .. QUE

    viajei legal.

  • Os que estão reclamando que a alternativa C tem um sentido diferente pois sua redação não traz o ''muito'', de ''nos levar a tomá-los MUITO a sério'' não pescaram que tal alternativa adicionou o termo ''A TAL PONTO'', que confere à frase o mesmo sentido da original.

    ...nos levar a tomá-los muito a sério desta vez, (e por ter tomado tão a sério) a avaliar mal sua dimensão de pensamento. = ...nos levar a tomá-los a sério desta vez a tal ponto, (e por ter tomado tão a sério) que avaliemos mal sua dimensão de pensamento.

  • Sendo a oração destacada subordinada à anterior (principal), a relação atribuída entre ambas é de causa/consequência. Vejamos:

     

    "o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” [...] avaliar mal sua dimensão de pensamento."

    causa: tomar os mitos muito a sério

    consequência: avaliar mal sua dimensão de pensamento

     

    A ideia é a de que ao se tomar os mitos muito a sério, há um risco de avaliar mal sua dimensão de pensamento. Logo, a primeira ação seria a causa da segunda ação. Agora, basta procurar entre as assertivas, aquela que traz como conectivo uma conjunção consecutiva expressando a ideia de consequência em relação ao fato da oração principal. 

     

    a) ideia de comparação;

    b) ideia de proporção;

    d) ideia de conclusão;

    e) ideia de finalidade;

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: C

  • Acertei, mas fiquei na dúvida nesse ''avaliemos'' tá correto? pareceu meio esquisito!

    Pra matar a questão era só retornar ao texto

  • A questão exige o conhecimento de Análise Sintática – Orações Coordenadas e Subordinadas – e Interpretação Textual.


    ALTERNATIVA (A) - “nos levar a tomá-los mais 'a sério', do que a avaliar mal sua dimensão de pensamento". Errada. O segmento destacado atribui um sentido de comparativo de superioridade, o que pode ser corroborado pelo advérbio de intensidade “mais" e a conjunção comparativa “do que" na oração destacada. Pelo contexto, não há a intenção de fazer uma comparação das ações.


    ALTERNATIVA (B) – “nos levar a tomá-los tão 'a sério', quanto a avaliar mal sua dimensão de pensamento". Errada.  Esta alternativa é parecida com a anterior, porém, o segmento destacado atribui um sentido de comparativo de igualdade, o que pode ser corroborado pelo advérbio de intensidade “tão" e a conjunção comparativa “quanto" na oração destacada. Pelo contexto, não há a intenção de fazer uma comparação das ações.


    ALTERNATIVA (C) – “nos levar a tomá-los 'a sério' desta vez a tal ponto que avaliemos mal sua dimensão de pensamento". Correta. A expressão “a tal ponto que", no segmento destacado, é usada para expressar que certa ação ou situação excedeu seu limite normal e atingiu um ponto extremo, levando a certa consequência. Pelo contexto, a ideia é: nós corremos o risco de levar os mitos tão a sério, ou seja, ao extremo, que deixamos de ver o lado cômico deles, deixamos, muitas vezes, de nos sentir leves com suas histórias de humor.


    ALTERNATIVA (D) – “nos levar a tomá-los demasiadamente 'a sério'; portanto, a avaliar mal sua dimensão de pensamento". Errada. O segmento destacado até atribui um sentido de conclusão, introduzido pela conjunção coordenativa “portanto"; no entanto, não atribui a ideia de extremo, de exceder o limite normal como o traz na alternativa anterior.


    ALTERNATIVA (E) – “nos levar a tomá-los muito 'a sério', para que se avalie mal sua dimensão de pensamento". Errada. O segmento destacado é introduzido pela locução conjuntiva subordinativa adverbial final “para que". Pelo contexto, a ideia não atribui um sentido de intenção, finalidade.


    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (C)