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ID
2738938
Banca
FUNRIO
Órgão
AL-RR
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I


Anotações sobre uma pichação


    Faz provavelmente uns dois anos que topei com a frase pela primeira vez, num muro qualquer da cidade. Em pouco tempo, era impossível deixar de vêla. Da noite para o dia, como uma infecção, onde houvesse um tapume, muro, parede, empena ou porta de ferro, ela aparecia: Não fui eu.

    É certo que, pichada num muro de Estocolmo, os sentidos que ganharia seriam outros, e não há dificuldade em imaginar que conteúdos ela traria à tona em Berlim. História e geografia aqui são determinantes. O passado é tudo.

    Minha hipótese é de que, no Brasil, a frase é imediatamente lida como um protesto de inocência. A um brasileiro não ocorrerá interpretá-la como manifestação de modéstia, como recusa de um crédito indevido – Não, essa honra não me cabe, ou Não, o mérito não é meu. Como violência, desigualdade e desordem formam a teia de nossa existência cívica, o que se insinua nas entrelinhas de Não fui eu não é a virtude, mas o delito.

    Delito dos outros, no caso. A transferência de ônus é o que parece dar força ao enunciado, na medida em que fundamenta uma verdade incômoda sobre nossa condição de cidadãos brasileiros. Como tantos de nós, o autor está tirando o corpo fora.

Ignora-se a identidade do autor dessa frase com a qual o carioca convive há anos e que continua a se disseminar pelas superfícies da cidade. Numa reportagem de 2017 da Veja Rio, ele afirma que se manterá no anonimato: “Se a pichação funciona como uma assinatura que reivindica a autoria, meu trabalho é uma assinatura que nega a própria autoria. Comecei a me interessar pela potência poética que surgia disso e pelas diferentes leituras que a frase poderia ter na rua.”

    Fez bem. Não sendo enunciada por ninguém em particular, a frase pertence a qualquer um. A sensação difusa de que ela exprime um éthos*, de que essas três palavras falam de nós, é uma confirmação de que, dado o alheamento geral, o melhor mesmo é jogar a toalha e ir cuidar da vida.

(*Éthos: palavra com origem grega, que significa "caráter moral")


SALLES, João Moreira. Revista PIAUÍ, 2018. (Adaptado)

O emprego das aspas no Texto I justifica-se pelo fato de se terem usado fragmentos que representam um(a)

Alternativas
Comentários
  • Citação ocorre quando se menciona uma informação retirada de outras obras. Ela serve para dar suporte ao conteúdo apresentado. Neste caso, Citação não poderia ser. Restando apenas o discurso direto ou indireto. Direto é a própria pessoa falando No texto é utilizado a primeira pessoa, portanto é discurso direto.


    Se a pichação funciona como uma assinatura que reivindica a autoria, meu trabalho é uma assinatura que nega a própria autoria. Comecei a me interessar pela potência poética que surgia disso e pelas diferentes leituras que a frase poderia ter na rua.”

  • discurso direto é caracterizado por ser uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador.

    discurso indireto é caracterizado por ser uma intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens.

    Exemplo de discurso direto:

    A aluna afirmou:

    - Preciso estudar muito para o teste.

    Exemplo de discurso indireto:

    A aluna afirmara que precisava estudar muito para o teste.

  • DISCURSO DIRETO: 1ª pessoa

    DISCURSO INDIRETO: 3ª pessoa

  • Gabarito C

    ASPAS( " )

    ·       Antes e depois de citações ou transcrições textuais;

    ·       Discurso direto: Enunciador reproduz literalmente as falas citadas, SEM AUXÍLIO DE VERBO DE DIZER.

    ·       Para representar nomes de livros ou legendas;

    ·       Para assinalar estrangeirismos, neologismos, gírias, expressões populares, ironia;

    ·       Ressaltar o tom pejorativo;

    ·       Para realçar uma palavra ou expressão.