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ID
2741035
Banca
FCC
Órgão
TCE-RS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      Nosso jeitinho


      Um amigo meu, estrangeiro, já há uns seis anos morando no Brasil, lembrava-me outro dia qual fora sua principal dificuldade − entre várias − de se adaptar aos nossos costumes. “Certamente foi lidar com o tal do jeitinho”, explicou. “Custei a entender que aqui no Brasil nada está perdido, nenhum impasse é definitivo: sempre haverá como se dar um jeitinho em tudo, desde fazer o motor do carro velho funcionar com um pedaço de arame até conseguir que o primo do amigo do chefe da seção regional da Secretaria de Alimentos convença este último a influenciar o Diretor no despacho de um processo”.

      Meu amigo estrangeiro estava, como se vê, reconhecendo a nossa “informalidade” − que é o nome chique do tal do jeitinho. O sistema – também batizado pelos sociólogos como o do “favor” − não deixa de ser simpático, embora esteja longe de ser justo. Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram morrem de inveja e mantêm esperanças. Até o poeta Drummond tratou da questão no poema “Explicação”, em que diz a certa altura: “E no fim dá certo”. Essa conclusão aponta para uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho: tudo se há de arranjar, porque Deus é brasileiro. Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando com nosso modo tão jeitoso de viver.

      É possível que os tempos modernos tenham começado a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais, tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo − e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. Mas há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar esse problema. Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança.

                                                                                  (Abelardo Trabulsi, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • A - Os sociólogos já vêm há tempos especulando do nosso jeitinho, que preferem identificar-se como “sistema de favor”, embora o fenômeno seja o mesmo. Especular é VTD, logo não poderia ter a preposição "de".

    B - Nem todos os estrangeiros acabam se possibilitando tal análise, de entender nosso jeitinho, cuja a informalidade lhes parece com toda a razão incompreensível. Gerúndio não precedido de preposição "em" é ênclise.

    C - Embora distintos entre si, os dois exemplos de jeitinho que o autor do texto cita do amigo estrangeiro, parece-nos de fato convincentes de como eles se aplicam no nosso dia-a-dia. 1) Dia a dia não há mais crase. 2) a vírgula antes de "parece-nos" está separando verbo do sujeito.

    D - Num de seus poemas, Drummond resume num verso a confiança que todo brasileiro parece alimentar quanto ao desfecho favorável de uma situação difícil. Gabarito.

    E - Em nosso tempo não há muita vantagem de que a tecnologia se some ao nosso jeitinho, pois este se mantém e se supõe numa informalidade da qual a nossa mídia já não permite.

    "a nossa mídia já não permite A informalidade". Logo não poderia ser "da qual" e sim "a qual".

    Se eu disse algo errado, por favor, mandem um inbox. Obrigado.