SóProvas


ID
2801062
Banca
FCC
Órgão
Câmara Legislativa do Distrito Federal
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      A retórica de que se trata aqui é essa metalinguagem (cuja linguagem-objeto foi o “discurso”) que reinou no Ocidente do século V a.C. até o século XIX d.C. Esse discurso sobre o discurso comportou várias práticas, presentes, simultânea ou sucessivamente, segundo as épocas, na “Retórica”, entre elas:

1. uma técnica, isto é, uma “arte”, no sentido clássico da palavra – arte da persuasão, conjunto de preceitos cuja aplicação permite convencer o ouvinte do discurso (e mais tarde, o leitor da obra), mesmo quando aquilo de que se deve persuadi-lo seja “falso”;

2. um ensinamento – de início transmitida por vias pessoais, inseriu-se rapidamente em instituições de ensino;

3. uma ciência, ou, em todo caso, uma protociência − um campo de observação autônomo delimitando certos fenômenos, a saber, os “efeitos” de linguagem;

4. uma moral – sendo um sistema de “regras”, a retórica está penetrada da ambiguidade da palavra: é ao mesmo tempo um manual de receitas, animadas por uma finalidade prática, e um Código, um corpo de prescrições morais, cuja função é vigiar (isto é, permitir e limitar) os “desvios” da linguagem passional;

5. uma prática social – a Retórica é essa técnica privilegiada (pois que é preciso pagar para adquiri-la) que permite à classe dirigente garantir para si a propriedade da palavra. Sendo a linguagem um poder, decidiu-se das regras seletivas de acesso a esse poder, constituindo-o em pseudociência, fechada para “aqueles que não sabem falar”, tributária de uma iniciação dispendiosa (nascida há 2500 anos de processo de propriedade, a retórica se esgota e morre na classe de “retórica”, consagração iniciática da cultura burguesa).

      A Retórica (como metalinguagem) nasceu do processo de propriedade. Por volta de 485 a. C., dois tiranos sicilianos, Géron e Hiéron, operaram deportações, transferências de população e expropriações, para povoar Siracusa e distribuir lotes aos mercenários; quando foram derrubados por um levante democrático e se quis voltar ao ante qua, houve inumeráveis processos, pois os direitos de propriedade estavam obscurecidos. Esses processos eram de um tipo novo e mobilizavam grandes júris populares, diante dos quais, para convencer, era preciso ser “eloquente”.

      Essa eloquência, participando ao mesmo tempo da democracia e da demagogia, do judicial e do político (o que se chamou depois de deliberativo), constituiu-se rapidamente em objeto de ensino. Os primeiros professores dessa nova disciplina foram Empédocles de Agrigento, Córax, aluno seu de Siracusa (o primeiro a cobrar pelas aulas), e Tísias. Esse ensino passou com igual rapidez para a Ática (depois das guerras médicas), graças às contestações dos comerciantes, que moviam processos conjuntamente em Siracusa e em Atenas: a retórica já é, em parte, ateniense desde meados do século V.

      Córax coloca já as cinco grandes partes da oratio, que formarão durante séculos o “plano” do discurso oratório: 1. exórdio; 2. narração (relação dos fatos); 3. argumentação ou prova; 4. digressão; 5. epílogo. É fácil verificar que, ao passar do discurso judicial para a dissertação escolar, esse plano conservou a sua organização principal: uma introdução, um corpo demonstrativo, uma conclusão.

(Adaptado de: BARTHES, Roland. “A Antiga Retórica”, A Aventura Semiológica, Lisboa, Edições 70, 1987) 

As afirmações abaixo dizem respeito a características sintáticas do texto.


I. Se comparado ao emprego de orações distendidas, o uso de orações reduzidas de gerúndio, como em sendo um sistema de “regras” (item 4), torna o sentido das frases mais impreciso, transferindo ao leitor a tarefa de atribuir o sentido mais adequado.

II. As orações ligadas por conjunção aditiva “e”, como em Esses processos eram de um tipo novo e mobilizavam grandes júris populares (2° parágrafo), ao contrário do período subordinado, têm sua relação de sentido bastante clara, sem deixar margem a outros sentidos advindos da interpretação do leitor.

III. No segmento: a retórica já é (fim do 3° parágrafo) os dois-pontos inserem uma conclusão, que pode ser reescrita do seguinte modo: “...em Atenas; assim, a retórica já é...”.


Está correto o que consta em

Alternativas
Comentários
  • A questão explorou conceitos de sintaxe que se encontram descritos na obra Comunicação em Prosa Moderna, de Othon M. Garcia. Na verdade, o conteúdo se encontra em pequenas notas do autor. Vejamos:

    I - Verdadeiro: "O sentido de reduzidas de gerúndio depende muito do seu contexto (...)" (GARCIA, p.21)

    II - Falso: "As conjunções coordenativas (...) relacionam ideias ou pensamentos com um grau de travamento sintático por assim dizer mais frouxo do que o das subortinativas." (GARCIA, p.17)

    III - Verdadeiro: Esta assertiva mais simples exigiu que se verificasse que havia uma coordenação por justaposição com sentido conclusivo e, por isso, seri viável sua substituição por "assim", com valor conclusivo.

    Dica para a prova da FCC: leia a primeira parte da obra de Garcia, o capítulo chamado "Estrutura sintática e feição estilística".

  • Sacanagem...

  • é você, satanás?

  • Peçam comentário do professor para essa questão do cranco, por favor!

  • as provas de redação parlamentar e taquigrafo da FCC sao muito acima da média


    Calma, calma , eu estou aqui.

  • MEU DEUS, O QUE É ISSOOO? ALGUÉM EXPLICA.

  • essa eh do capirote creeedooo


  • Só olhar parta que área é pra saberem o nível da dificuldade! Próxima questão então

  • Aí, nem quero ser consultor da camara

  • Boa sorte pra quem almeja esse cargo!