SóProvas


ID
2814082
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Macapá - AP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Há pouco, em belo artigo, anunciou-se num jornal “a morte da voz humana”. Nenhum exagero no título. Um software que “aperfeiçoa” a afinação dos cantores está criando padrões de perfeição inatingíveis para humanos, oferecendo a recompensa sem esforço e tornando dispensáveis a vocação, o talento e o mérito na música popular. “É como se Ronaldinho Gaúcho usasse uma chuteira que acertasse o gol por si. Treinar pra quê?”

      O grito de protesto foi dado por quem tem toda a autoridade para fazê-lo: João Marcello Bôscoli, músico, produtor e diretor de gravadora. Como se não bastasse, é filho de Elis Regina e do compositor Ronaldo Bôscoli, um dos criadores da bossa nova, e enteado do pianista César Camargo Mariano, com quem Elis se casou ao se separar de Bôscoli. Nunca houve gente mais exigente em música.

      Para João Marcello, pior até do que dar afinação a quem não tem, o programa faz com a voz o que outro já fez com a figura humana. Assim como um software de retoque fotográfico “gerou um padrão estético em que poros, rugas de expressão e outras características se tornaram defeitos”, o software de afinação passa o rodo e “corrige” tudo o que considera imperfeito num cantor: afinação, respiração, pausas, volume, alcance − sem se importar se pertencem à sua expressão e emoção.

      Ele vai mais longe: “Hoje em dia, tomamos remédio quando sentimos tristeza, dopamos as crianças quando estão agitadas, passamos horas no computador quando nossa vida nos parece desinteressante” etc. − e “usamos softwares de afinação quando temos um cantor desafinado”.

      O filho da cantora mais afinada do Brasil defende os desafinados no que eles têm de mais precioso: sua falível condição humana, essencial à obra de arte.


(Adaptado de: CASTRO, Ruy. A arte de querer bem: crônicas. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. Edição digital) 

Considere as afirmações abaixo.


I. Na opinião do autor do texto, o software de afinação, embora costume ser usado apenas para corrigir falhas, pode ser um aliado da criatividade musical, desde que se saiba aproveitá-lo para esse fim.

II. O produtor musical João Marcello Bôscoli defende o uso natural da voz humana, sendo, assim, contrário à intervenção do software de afinação, na medida em que, para ele, defeitos como a desafinação e as marcas de respiração são atributos naturais da expressão artística.

III. No segmento ...o software de afinação passa o rodo e “corrige” tudo o que considera imperfeito num cantor..., a expressão sublinhada deveria estar entre aspas, uma vez que se trata de linguagem coloquial, inapropriada para o gênero do texto.


Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Sobre o item III: Linguagem coloquial não é Inapropriada para o gênero crônica, pelo contrário, é até bem comum o uso.

  • Regiane, o item III está errado pq indica que a linguagem coloquial é inapropriada para as crônicas, e é justamente o contrário.

  • O produtor musical João Marcello Bôscoli defende o uso natural da voz 

    João Marcello Bôscoli não deveria estar entre vírgulas por ser um aposto?


  • I. ERRADO. Não é aliado, O título da sua crônica ("a morte da voz humana”) já demonstra que ele é contra ao software. 

    II. CORRETO. O filho da cantora mais afinada do Brasil defende os desafinados no que eles têm de mais precioso: sua falível condição humana, essencial à obra de arte.

    III. ERRADO. A linguagem coloquial é aceita no gênero textual crônica. A crônica narra fatos do dia a dia, acontecimentos cotidianos e atuais, de uma maneira diferente, ora com intenção crítica, ora com intenção poética, ou de ambas as maneiras.

  • Silviney Cetano, acredito que está correta a construção dessa frase, porque existe ali um aposto especificativo. Você se referiu a um aposto explicativo. Entendo, porém, que o especificativo seja o adequado para essa situação. Bons estudos!

  • Caro Silviney Cetano, o que pede na questão é interpretação, não pontuação!


    FORÇA, FOCO e FÉ

  • A expressão: "passa o rodo" deveria estar, entre aspas, por se tratar de uma gíria e não,simplesmente, pelo fato de ser uma linguagem coloquial.

    Devemos estar atentos ao enunciado final da alternativa e não, somente, ao início.

  • Qual é o erro da I ?

  • Victor Freire, a I está errada porque em nenhum momento o autor afirma que o tal software é aliado da criatividade musical. O produtor musical citado acha exatamente o contrário.

  • Agora entendi por que se proliferaram, feito pragas, os cantores de funk, sertanejo e forró universitários. 

  • A III é aquela que é difícil vc não marcar como correta kkk

  • Passar o rodo é sentido figurado (conotativo). NÃO é linguagem coloquial.

    O que é coloquial?

    Prantar em vez de plantar

    Cumê em vez de comer

    Pobrema em vez de problema

    ...