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ID
281878
Banca
MPE-SP
Órgão
MPE-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

UM APÓLOGO

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma
coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe
importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros.
– Mas você é orgulhosa.
– Decerto que sou.
– Mas por quê?
– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão
eu?
– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e
muito eu?
– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos
babados...
– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem
atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
– Também os batedores vão adiante do imperador.
– Você é imperador?
– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só
mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto... [...]
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a
agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,
acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
– Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta
para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor
experiência, murmurou à pobre agulha: – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro
caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: –
Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária! (MACHADO DE ASSIS, J. M. Contos
Consagrados
. Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)

Assinale a alternativa em que a concordância verbal está de acordo com a norma culta.

Alternativas
Comentários
  • Análise das questões.

    A - Errado - O verbo "fazer" em expressões indicativas de tempo é IMPESSOAL. Assim, a oração deverá estar obrigatoriamente no singular.

                  Faz mais de cem anos que Machado de Assis morreu.

    B - Errado - Sujeito representado pelos termos mais de ummenos de umperto de, cerca de seguidas de numeral faz o verbo concordar com o numeral.

                  Mais de um jornal publicou a notícia.

    Obs: Em certos casos, a regra, embora correta, "vai contra" a lógica matemática.

    Ex: Menos de duas pessoas foram ao estádio.

    C - Errado - Pronomes de tratamento devem seguir a regra de concordância, tanto verbal quanto nominal, sempre nas 3º pessoas ( SINGULAR / PLURAL ). Embora a concordância seja feita nas 3º pessoas, referem-se a 2º pessoas (Com quem se fala algo).

                       Vossa Excelência quer que chamem seu secretário?

    D - Correta - O verbo haver com o sentido de existir é IMPESSOAL, devendo ficar na 3º pessoa do singular.

    E - Errado - O verbo ocorrer é pessoal, devendo concordar com o sujeito da oração.

    Oração na ordem direta: Muitos desentendimentos ocorreram entre a linha e a agulha.
  • Letra D

    •  a) Fazem Faz mais de cem anos que Machado de Assis morreu.
    •  b) Mais de um jornal publicaram publicou a notícia.
    •  c) Vossa Excelência quer que chamem vosso seu secretário?
    •  d) Haverá seres inteligentes em outros planetas? (CORRETA)
    •  e) Ocorreu Ocorreram, entre a linha e a agulha, muitos desentendimentos.
  • Faz e há!

    Abraços