- ID
- 2824273
- Banca
- FCC
- Órgão
- Câmara Legislativa do Distrito Federal
- Ano
- 2018
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Atenção: Leia a fábula “O leão, a raposa e a corça”, do escritor grego Esopo, .
Um leão, que jazia doente em uma caverna, disse à estimada raposa, com quem mantinha convívio: “Se você me quer vivo e
saudável, ludibrie com palavras a maior corça que vive na floresta, faça com que ela venha às minhas mãos, pois ela tem um coração
e entranhas que despertam o meu apetite”. A raposa se foi e, ao encontrar a corça a saltitar na floresta, saudou-a efusivamente e, em
seguida, lhe disse: “Vim trazer boas novas! Você sabe que o leão, nosso rei, é meu vizinho. Ele está doente, moribundo, e se pôs a
considerar sobre qual dos animais iria sucedê-lo. O javali é sem juízo”, afirmava ele, “o urso, balofo, a pantera, ranzinza, o tigre,
fanfarrão. A corça é a mais digna da realeza, porque tem porte altivo, vida longa e um chifre que intimida as serpentes. Bom, mais
delongas para quê? Por decisão dele, você assumirá o reinado! E eu, que recompensa vou ganhar por ter-lhe dado essa notícia em
primeira mão? Vamos, prometa-me alguma coisa. Estou com pressa, não vá ele sentir a minha falta! Ele me tem como conselheira
para tudo. Se você quer ouvir a mim, sou velha, meu conselho é que você venha também e aguarde junto do moribundo”. Assim disse
a raposa. Com essas palavras, a corça ficou toda cheia de si e foi à caverna, ignorando o que ia acontecer.
O leão, então, lançou impetuoso suas garras sobre ela, dilacerando-lhe somente as orelhas, pois a corça tratou de fugir
rapidamente para a floresta. Enquanto a raposa dava murros porque havia feito esforços em vão, o leão gemia, entre fortes rugidos,
pois a fome e o desgosto o dominavam. Então ele suplicou à raposa que fizesse uma segunda tentativa para trazer a corça
novamente, por meio de um ardil. “A tarefa que você me atribuiu é difícil e penosa. Contudo, vou lhe dar esse apoio”, disse a raposa.
Assim, como um cão farejador, saiu à procura da corça e foi tramando trapaças rumo à floresta, seguindo a indicação de uns
pastores, a quem ela perguntou se tinham visto uma corça sangrando.
A raposa a encontrou esbaforida e parou diante dela com a maior cara de pau. Indignada, a corça arrepiou o pelo e disse:
“Nunca mais você me pega, sua peste! E se chegar perto de mim, não sairá viva! Vá raposinhar com outros, inexperientes,
estimulando-os a se tornarem reis!” A raposa rebateu: “Você é tão frágil e covarde assim, que desconfia de nós, seus amigos? O leão,
quando agarrou sua orelha, ia dar conselhos e recomendações a respeito desse cargo tão importante, porque ele está morrendo! E
você não tolerou nem mesmo um arranhão da pata de um enfermo! Agora a indignação dele é muito maior que a sua, e ele pretende
tornar rei o lobo. Ai de mim, um senhor malvado! Mas venha, não se deixe sugestionar por nada, comporte-se como um cordeiro. Juro
por todas as folhas e fontes que não sofrerá nenhum mal da parte do leão. Quanto a mim, quero apenas o seu bem”.
Com tais ludíbrios, a raposa convenceu a medrosa a acompanhá-la uma segunda vez. E quando a corça adentrou a caverna,
o leão agarrou a sua janta e se pôs a comer os ossos todos, o tutano e as entranhas. A raposa ficou parada, observando. Nisso cai
o coração da corça e a raposa sorrateiramente o apanha e devora, como prêmio de seu empenho. E quando percebeu que o
leão farejava todas as partes mas não achava o coração, ela, postada à distância, lhe disse: “A bem da verdade, essa fulana aí não
tinha coração. Não adianta procurar! Que espécie de coração teria ela, que veio ter por duas vezes à morada e às mãos de um
leão?”
(Esopo. Fábulas completas. Tradução de Maria Celeste Dezotti. São Paulo: Cosac Naify, 2013, p. 309-311.)
Verifica-se o emprego de vírgula para indicar elipse do verbo no seguinte trecho: