SóProvas


ID
2871628
Banca
FUNCAB
Órgão
PC-ES
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O homem cuja orelha cresceu

            Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de came, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

            Quando chegou na pensão, a orelha saía pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco, incapaz de pensar, dormiu de desespero.

            Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para iá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fóra da cama. Dormiu.

            Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hóspedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

            Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas de casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

            E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, cham aram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

            E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: “Por que ó senhor não mata o dono da orelha?”

(Ignácio de Loyoia Brandão, Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão. Seleção de Deonísio da Silva. São Paulo: Global, 1993. p.135.) 


A função sintática da oração destacada no fragmento “Pensou QUE FOSSE CANSAÇO [...]”, em relação à principal, é:

Alternativas
Comentários
  • Questão que maltrata!

  • Na verdade, o verbo "pensar" pode ser:


    intransitivo (refletir/ raciocinar)

    ex: Antes de decidir meu curso de inglês, eu pensei. / Sujeito + VI


    transitivo direto ( cuidar/ tratar de):

    Como professora, eu pensei [ as provas de fim de ano ] / Sujeito + VTD + [objeto direto]


    transitivo indireto ( acreditar/ cogitar/ imaginar)

    Eu pensei em [mudar de emprego] / Sujeito + VTI + [preposição / objeto indireto ]

  • Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta - O.S.S.O.D.

    Alguns V.T.I. quando passam a ter seu complemento verbal em forma de oração, mudam sua transitividade, pasando a ser V.T.D.

    Ex.

    Creio em Deus (V.T.I.)

    Creio que Deus existe (V.T.D. - OSSOD)


    Ex. da Questão:

    Pensou QUE FOSSE CANSAÇO (v.t.d. - OSSOD)

  • "Pensou 'isso'." O. S. S. O D.


    Tá okay?!!



  • A - complemento nominal. Pensar, neste caso, é verbo. Então não pode ser CN.

    B - objeto indireto. O termo não é antecedido por preposição. Logo, não será OI.

    C - objeto direto. Nossa resposta

    D - adjunto adnominal. Pensar, neste caso, é verbo. Então não pode ser Adj. Adn.

    E - aposto. Também não é por não ser possível substitui-lo pela seu antecedente.


  • Qual é a diferença entre o complemento nominal e o objeto indireto

    Resposta: o objeto indireto é o termo que completa o sentido de um verbo, enquanto que o complemento nominal completa o sentido de um substantivo abstrato, de um adjetivo ou então de um advérbio. Portanto, tome cuidado ao fazer a análise da oração. 

    Veja os exemplos:

    Ele confia em João

    A expressão "em João" está completando o sentido do verbo "confiar". Se você tirar "em João" da oração, a oração perde o sentido porque o verbo "confia" fica com o sentido incompleto (confia em quem?). Portanto, a expressão "em João" é um objeto. Como esse objeto está se ligando ao verbo por meio de uma preposição ("em"), esse objeto é classificado como objeto indireto. 

    Ele tem confiança em João 

    Agora, nesse caso, a expressão "em João" está completando o sentido do substantivo "confiança" (que é o termo que aparece logo antes). A palavra "confiança" é um substantivo abstrato. Se você tirar "em João" da oração, a oração perde o sentido porque o substantivo "confiança" fica com o sentido incompleto (confiança em quem?). 

    Exemplos de Objeto Indireto 

    Eu fui ao teatro.

    Pergunta: fui aonde?

    Resposta: "ao teatro"

    "ao teatro" é um objeto indireto que completa o sentido do verbo "ir" (fui)

    Eu gosto de abacate

    Pergunta: gosto de quê?

    Resposta: de abacate

    "de abacate" é um objeto indireto que completa o sentido do verbo "gostar" (gosto)

    Exemplos de Complemento Nominal

    Eu tenho certeza disso

    Pergunta: certeza do quê?

    Resposta: "disso"

     "disso" é um complemento nominal que completa o sentido do substantivo "certeza"

    Eu sou contrário a sua opinião. 

    Pergunta: contrário ao quê?

    Resposta: "a sua opinião"

    "a sua opinião" é um complemento nominal que completa o sentido do adjetivo "contrário"

    Eu votei favoravelmente à proposta. 

    Pergunta: favoravelmente ao quê?

    Resposta: "à proposta"

    "à proposta" é um complemento nominal que completa o sentido do advérbio "favoravelmente"

    Você não é igual a ele.

    Pergunta: igual a quem?

    Resposta: "a ele"

    "a ele" é um complemento nominal que completa o sentido do adjetivo "igual";

    FONTE: http://www.blogdogramaticando.com/2015/06/complemento-nominal-x-objeto-indireto.html

  • gab = Letra C

    (Ele)Pensou. (suj.oculto) Pensou o quê?(VTD)

    R= QUE FOSSE CANSAÇO (OD)

  • "QUE" exerceu função de objeto direto.

  • PMSC2019

  • Se a oração estiver ligada a um verbo: OBJETO

    Se a oração estiver ligada a um substantivo ou adjetivo : COMPLEMENTO NOMINAL

    Ambas começam com preposição.

  • Fui olhar só o verbo e errei a questão :(

  • “Pensou / QUE FOSSE CANSAÇO"

    ORAÇÃO PRINCIPAL / ORAÇÃO SUBORDINADA

    QUEM PENSA, PENSA ALGO! PORTANTO O VERBO PENSOU É VTD.

    Logo o "QUE FOSSE CANSAÇO" desempenha papel de complemento verbal da oração principal.

    Afinal quando falamos, PENSOU... ta mas pensou o que? precisa de um complemento... QUE FOSSE CANSAÇO.

    Ou seja a oração subordinada faz papel de objeto direto para com a oração principal.

    Sendo assim, oração subordinada substantiva objetiva direta.

    Além do mais, vale lembrar que o sujeito da oração é desinencial (PENSOU - ELE).

  • c-

    pensou o que?

    Pensou QUE FOSSE CANSAÇO

  • conjunção integrante "que"
  • A função sintática da oração destacada no fragmento “Pensou QUE FOSSE CANSAÇO [...]”, em relação à principal, é:

    A) complemento nominal. {elimina de cara, pois "pensou é um verbo, lembre-se que CN completa o sentido de um substantivo abstrato paciente, adjetivo ou de um advérbio}

    B) objeto indireto. {elimina de cara, pois quem pensa algo ou em alguma, além do mais o OI vem acompanhado de preposição}

    C) objeto direto. CORRETO

    D) adjunto adnominal. {elimina de cara, pois "pensou é um verbo, lembre-se que Adj. Adnominal completa o sentido de um substantivo concreto ou abstrato com natureza de agente}

    E) aposto. {elimina de cara, primeiro pq o aposto não vem acompanhado de verbo, ele é um termo de natureza explicativa que pode vir acompanhado de vírgula ou não}

  • Pensou QUE FOSSE CANSAÇO