SóProvas


ID
2875723
Banca
Quadrix
Órgão
CRF - AL
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Verdades inconvenientes sobre a indústria dos remédios


      A reportagem da SUPER encontrou Antônio na recepção do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Camisa social branca, sapatos engraxados, gel no cabelo e a malinha preta ao lado. Simpático e comunicativo, explicou seu trabalho ao repórter: Antônio é representante da indústria farmacêutica. Sua tarefa é levar aos médicos informações sobre remédios. Mais que isso: convencer os médicos a receitarem as marcas que ele representa.

      Nessa missão, nem sempre dados científicos são suficientes: além das amostras grátis, ele leva brindes e, às vezes, convites para almoços ou ofertas de viagens a congressos com tudo pago. Bom papo também conta. “O mais importante é o relacionamento. O médico receita o meu produto porque gosta mais de mim do que de outro representante”, diz ele.

      Tanta proximidade pode parecer promíscua, mas não é crime. Segundo o Código de Ética Médica, o problema começa quando, para fazer com que o médico goste mais dele do que dos outros, o propagandista propõe vantagens mais palpáveis. Dinheiro. “Se o médico ganha um cheque, ele se compromete a prescrever 3 vezes o valor em receitas de um medicamento”, exemplifica Antônio. Médicos que não quiseram se identificar confirmam a prática. “Já recebi propostas de viagens em troca de prescrever remédios”, diz um psiquiatra. As farmácias asseguram o trato. “Há farmacêuticos e balconistas que são pagos para xerocar a receita ou anotar o nome do médico”, diz Antônio. É o que eles chamam de “caderninho”, escala final de um ciclo de propaganda, acordos e troca de interesses em que ganham médicos, farmacêuticos e os donos de laboratório.

       Entre os profissionais de saúde, histórias como essa são tão conhecidas quanto difíceis de comprovar. Os representantes das indústrias afirmam agir dentro da lei. “Nós temos o direito legítimo de promover nossos produtos, como qualquer outro setor da economia”, afirma Gabriel Tannus, presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, que tem entre seus associados 8 dos 10 laboratórios que mais faturam no mundo.

      Como qualquer outro setor da economia, a indústria farmacêutica visa o lucro. Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões – o Brasil faturou US$ 12 bilhões. Só a fabricação da aspirina movimenta US$ 700 bilhões por ano. Seu princípio ativo, o ácido acetilsalicílico, é considerado um dos produtos mais bem-sucedidos da história do capitalismo.

      Para que isso seja possível, é preciso saber vender. “A indústria farmacêutica é tudo, menos uma instituição filantrópica”, diz Fernando Italiani, autor do livro Marketing Farmacêutico. Fernando já foi gerente de marketing de laboratórios e hoje dá cursos de vendas e planejamento estratégico para funcionários de laboratórios e farmácias.

      Um dos tópicos-chave de suas aulas é a fidelização dos médicos. Para Fernando, aquela tática clássica de dar brindes, viagens e inscrições em congressos já está ultrapassada. “Os médicos estão mal-acostumados. Isso já não diferencia nenhum laboratório”, afirma. Fernando propõe investir em educação. “Muitos médicos não têm formação em gestão nem em finanças. Fornecer esse conhecimento é ouro. Quando eu percebi que uma viagem para a Costa do Sauípe não tinha dado certo, fiz eventos focando o conhecimento técnico. Gastei 1/3 do valor e tive o dobro do retorno.” É o que Fernando chama de marketing “sustentável”: mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado. 

      O que acontece na indústria farmacêutica é o que acontece em qualquer grande negócio em que a recomendação de alguém é fundamental para o êxito do negócio: para que toquem sua música, as gravadoras assediam as rádios; para que falem bem de seu produto, as empresas cercam os jornalistas de regalias. É a prática conhecida como jabá. Não necessariamente a oferta de gentilezas influenciará o DJ, o jornalista ou o médico. Mas convenhamos: se não servisse para nada, as empresas não gastariam com isso. Às vezes, o profissional é influenciado sem perceber. Em 2001, uma pesquisa feita com 105 médicos do Centro Médico para Veteranos de Guerra de São Francisco, na Califórnia, mostrou que 61% dos entrevistados não se consideravam influenciados pela promoção da indústria. “É difícil incutir uma consciência crítica nos médicos para que eles não se deixem seduzir por essa propaganda”, diz Roberto Luiz D’Ávila, corregedor do Conselho Federal de Medicina. Quando isso acontece, a base de todo o tratamento é colocada em risco: a confiança no médico. [...]

(http://super.abril.com.br/saude/verdades-inconvenientes-sobre-a-industria-dos-remedios/).

Analise o uso de dois-pontos nos trechos a seguir.


I. "Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões [...]."

II. "É o que Fernando chama de marketing “sustentável”: mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado."


Sobre o uso em cada um deles, pode-se afirmar corretamente que:

Alternativas
Comentários
  • Alternativa Correta E. Uma das funções dos dois pontos é ligar orações coordenadas que tenham natureza de conclusão ou explicação. Ex1 (oração conclusiva). A roupa estava cara: não comprei (a roupa estava cara, portanto, não comprei). Ex2 (oração explicativa). Não comprei: a roupa estava cara (não comprei, porque a roupa estava cara).

    I Como qualquer outro setor da economia, a indústria farmacêutica visa o lucro. Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões – o Brasil faturou US$ 12 bilhões. Aqui o autor introduz a informação de que a indústria farmacêutica visa o lucro e, logo em seguida, explica que a indústria vem conseguindo isso, tanto que em 2008 movimentou US$725 bilhões, sendo US$ 12 bilhões apenas no Brasil.

    II. É o que Fernando chama de marketing “sustentável”: mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado. Aqui ele explica a expressão sustentável, caracterizando-a. No caso, investir em educação é mais "sustentável", no sentido de ter resultado mais garantido e prolongado, que dar brindes, viagens e inscrições em congressos, cuja prática já está ultrapassada. Tanto é verdade que ele fez eventos focando o conhecimento técnico, gastando 1/3 do valor e obtendo o dobro do retorno, após uma viagem para a Costa do Sauípe não ter dado certo.

  • Alternativa correta: E.

  • Analise o uso de dois-pontos nos trechos a seguir.

     

    I. "Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões [...]."

    II. "É o que Fernando chama de marketing “sustentável”: mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado."

     

    Questão sobre o sinal de dois pontos. O sinal de dois pontos é utilizado para iniciar uma citação ou uma fala e também para introduzir uma explicação, caracterização ou enumeração

    Tanto em I quando em II, o uso dos dois pontos está correto. Em I, o sinal de dois pontos introduz uma explicação. É dito que não há nada de errado e que tem dado certo. Logo em seguida, há o uso dos dois pontos explicando por que tem dado certo. Para vocês enxergarem melhor a ideia de explicação, vamos substituir os dois pontos por uma conjunção explicativa:

     

    Nada de errado com isso, e tem dado certo: em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões [...].

    Nada de errado com isso, e tem dado certopois, em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões [...].

    Nada de errado com isso, e tem dado certoporque, em 2008, ela movimentou US$ 725 bilhões [...].

     

    Já em II, os dois pontos introduzem uma caracterização: 

    É o que Fernando chama de marketing “sustentável”: mais difícil de ser copiado e com resultado garantido e prolongado."

    Quais são as características do marketing sustentável? Ser difícil de ser copiado e oferecer um bom resultado, resultado garantido e prolongado. 

     

     

    Sobre o uso em cada um deles, pode-se afirmar corretamente que:

     

    a) tanto em I, quanto em II, propositalmente, gera quebra do paralelismo sintático, para criar um efeito poético. - ERRADO

    Não há a intenção de criar efeito poético. O emprego dos dois pontos, tanto em I quanto em II, ocorre por conta de regras gramaticais mesmo. 

     

    b) em I, apresenta uma caracterização, enquanto, em II, introduz uma concessão. - ERRADO

    Como vimos no início do comentário, em I temos uma explicação, e em II, uma caracterização.  

     

    c) em I, apresenta uma causa, enquanto, em II, introduz uma oposição. - ERRADO

     Como vimos no início do comentário, em I temos uma explicação, e em II, uma caracterização.  

     

    d) em I, introduz uma contradição, enquanto, em II, apresenta uma explicação. - ERRADO

    Mais uma vez, em I temos uma explicação, e em II, uma caracterização.  

     

    e) em I, introduz uma explicação, enquanto, em II, apresenta uma caracterização - CERTO

    Correto, conforme vimos no início do comentário. 

    FONTE: Professora Sthefanny Alcântara